Este Santo, dotado de um temperamento violento, extraviou-se no caminho da turbulência, a que se entregou por inteiro; convertendo-se, com a mesma radicalidade seguiu o caminho da virtude, de modo a alcançar a honra dos altares.
Felipe, como se chamava no mundo esse santo capuchinho, nasceu em Corleone, na Sicília no ano de 1607. Seu pai era humilde artesão, e a família tão piedosa, que sua casa era conhecida como a “casa dos santos”. Embora não pudessem dar aos filhos uma educação esmerada, transmitiram-lhes a riqueza da prática e ensinamentos de nossa santa Religião.
Entretanto Felipe tinha um caráter fogoso e independente, dificilmente controlando seu espírito rebelde, insensível a ameaças e castigos.
Após o falecimento do pai, que tinha certa autoridade sobre ele, Felipe resolveu fazer-se soldado. Com seu espírito belicoso, logo começou a se meter em encrencas, chegando mesmo a tornar-se algumas vezes feroz. A um comissário de guerra que se dirigiu a ele de modo altivo, cortou a cabeça com um golpe de sabre. Também decepou o braço de um fidalgo que levantara a mão para esbofeteá-lo. Matou três bandidos que o assaltaram e ameaçavam tirar-lhe a vida. Travou vários duelos com companheiros de armas que dele discordavam em qualquer ponto.
Quando sentia remorsos por sua má vida, fazia alguma boa obra para aliviar a consciência. Mas não ia além. Porém, um dia em que ganhou uma soma considerável pensou: “É justo que eu resgate alguns dos meus pecados”. E depositou a quantia no cofre de esmolas do hospital. A esmola tem um valor tão grande aos olhos de Deus, que lhe atraiu a graça da conversão.
Seu rancor era proverbial, e não perdoava nem mesmo os mortos. Assim, certa vez, quando se realizavam os funerais de um senhor com quem tinha tido um atrito, entrou na igreja no momento da encomendação do corpo e, diante da viúva e parentes do falecido em lágrimas, começou a gargalhar para dar mostras de sua alegria por aquela morte. Isso lhe valeu uma boa sova. Mais ainda: os parentes do falecido entraram em processo criminal contra o brigão, que foi perseguido pela polícia, tendo que se refugiar numa igreja para gozar do direito de asilo. Lá abandonado, perseguido pela justiça e pela própria consciência, Felipe foi aos poucos caindo em si. Começou a considerar a miserável vida que levava, e quão perto estava de sua eterna perdição. A graça, penetrando em sua alma, fez o resto. Com um coração contrito e humilhado, pediu a Deus perdão por seus pecados, e prometeu retirar-se do mundo para terminar seus dias em atos de penitência e de piedade. Depois de uma contrita confissão geral, dirigiu-se ao convento capuchinho de Palermo, onde recebeu o nome de Bernardo.
De espírito independente antes, mostrou-se agora o mais obediente dos religiosos, procurando mesmo adivinhar o menor desejo dos superiores. Como antes tinha sido ganancioso e desejoso dos bens terrenos, observou de tal maneira a santa pobreza, que muitos o comparavam ao Poverello de Assis. Nada possuía, a não ser um hábito gasto, um terço, uma cruz e uma disciplina para domar os impulsos desregrados de seu temperamento. Passou a dormir no chão, e apenas três horas por noite. Disciplinava-se até o sangue e vivia a pão e água.
Frei Bernardo, embora simples e sem cultura, atingiu as mais sublimes alturas da oração, e mereceu a honra de ser distinguido por graças especiais de Nosso Senhor e da Bem-aventurada Virgem Maria, chegando a conhecer os mais profundos mistérios de nossa Fé. Atingido pela peste quando cuidava dos contagiados por ela, Frei Bernardo faleceu no dia 12 de janeiro de 1667, na idade de 60 anos. Seu corpo foi exumado sete meses depois da morte, e encontrado incorrupto. O Papa Clemente XIII o beatificou em maio de 1768, e João Paulo II o canonizou em 2001.