Autor do segundo Evangelho, colaborador, intérprete e discípulo dileto de São Pedro, fundador da sé de Alexandria e amado patrono da República de Veneza, uma boa parte de dados que temos de sua vida são narrados por São Lucas, nos Atos dos Apóstolos.

São Marcos desembarcou em Cirene, na Pentápolis, percorreu a Líbia e a Tebaida, sempre com abundantes conversões, e finalmente fixou residência em Alexandria, no Egito, onde fundou uma igreja dedicada a São Pedro, que ainda vivia. São Jerônimo e Eusébio confirmam essa tradição.

         Entretanto, houve muita discussão sobre sua origem e identidade. Seria ele o mesmo personagem importante na Igreja apostólica, que umas vezes é chamado de João (At. 13, 5-13), outras de João Marcos (At. 12, 12; 15, 37), e outras somente Marcos (At. 15, 39)? Alguns dizem que se trata de duas pessoas diferentes. Entretanto, parece prevalecer entre os exegetas a opinião de que os vários nomes referem-se sempre à mesma pessoa – São Marcos, Evangelista, discípulo de São Pedro, citado por São Paulo várias vezes e por São Pedro na sua primeira epístola, na qual o chama “meu filho dileto”.

Essa divergência se explica porque, segundo costume então em voga na Palestina, uma pessoa podia ter, além do nome judaico, um greco-romano, máxime se procedia de províncias do Império Romano. Tanto no caso de São Marcos como no de São Paulo, o nome romano terminou por impor-se sobre o hebreu.

São Marcos, como afirma São Paulo, era primo de São Barnabé, e filho de uma Maria, provavelmente viúva cristã de alta posição, em cuja casa se reuniam membros da Igreja nascente de Jerusalém (At. 12, 12 ss). Sendo primo de São Barnabé, que era da Ilha de Chipre e levita, São Marcos deveria pertencer à colônia cipriota de Jerusalém.

Foi para a residência da mãe de Marcos que o Príncipe dos Apóstolos se dirigiu quando saiu da prisão de Herodes. João Marcos, então adolescente, deveria estar presente nesse momento. Mais tarde tornar-se-ia seu discípulo, secretário e intérprete.

Segundo antiga tradição, essa casa da viúva Maria era a mesma onde foi celebrada a Última Ceia, ou seja, o Cenáculo. O Getsemani, ou Jardim das Oliveiras, também lhe pertenceria, sendo o próprio Marcos o rapaz que ele descreve em seu Evangelho, fugindo por ocasião da prisão de Jesus, com tanta pressa, que deixou a roupa nas mãos dos soldados (Mc 14, 51-52).

    Afirma-se também que São Marcos foi do número dos setenta e dois Discípulos de Nosso Senhor que se escandalizaram quando Ele lhes disse: “Se não comerdes a carne do Filho do homem, e se não beberdes seu sangue, não tereis a vida em vós”. Nessa ocasião, ele ter-se-ia afastado com muitos outros. São Pedro o teria re-convertido e levado de volta a Jesus, após a ressurreição.

Seja como for, o certo é que São Marcos participou da primeira viagem apostólica de São Paulo e São Barnabé. Entretanto, quando os dois missionários passaram à Ásia Menor desembarcando em Perga da Panfília, Marcos deles se separou sem dar explicações, voltando para Jerusalém. Isto, que parecia uma inconstância e uma fraqueza, não agradou a São Paulo.

 E quando, mais tarde, os dois missionários iam empreender a segunda viagem apostólica, São Barnabé quis levar de novo São Marcos, mas o Apóstolo dos Gentios não concordou. Houve divergência entre eles, e se separaram: São Barnabé foi com São Marcos para a ilha de Chipre, e São Paulo, com Silas, rumou para a Síria e para a Cilícia, e depois para a Grécia. Por permissão divina, essa divergência redundou em proveito do Evangelho, pois multiplicou as missões, e não impediu que, mais tarde, São Paulo e São Marcos voltassem a se reunir.

Contudo, foi, como dissemos, São Pedro o verdadeiro pai e mestre de São Marcos. Ele o trata afetuosamente de filho, o que leva muitos a pensar que foi ele quem o batizou.

Por volta do ano 60, vemos São Marcos em sua companhia em Roma. O apostolado do primeiro Papa fora tão abundante na cidade dos Césares, que ele não era suficiente para atender ao número crescente de prosélitos. Marcos o secundava nisso. E foi por causa desses prosélitos, que lhe pediam com instância para lhes expor, se possível por escrito, a doutrina de seu mestre, que ele escreveu o segundo Evangelho.

Sendo o intérprete de São Pedro, compreende-se por que deixou, para salvaguardar a humildade do mestre, de descrever cenas que seriam honrosas para o Príncipe dos Apóstolos. E também por que, ao contrário dos outros Evangelistas, descreve com detalhes a cena da negação de Pedro e o canto do galo. Nesses pormenores se manifesta o espírito mortificado e a exemplar humildade de São Pedro, que inspirava a pena de São Marcos.

São Pedro enviou São Marcos para evangelizar Aquiléia, cidade então célebre e de considerável tamanho. Ele aí formou uma cristandade notável pela ciência religiosa e firmeza da fé. Altamente satisfeito com o resultado, o Príncipe dos Apóstolos enviou seu discípulo depois para evangelizar o Egito. São Marcos desembarcou em Cirene, na Pentápolis, percorreu a Líbia e a Tebaida, sempre com abundantes conversões, e finalmente fixou residência em Alexandria, no Egito, onde fundou uma igreja dedicada a São Pedro, que ainda vivia. São Jerônimo e Eusébio confirmam essa tradição.

Por isso, como afirma o Papa São Gelásio, a igreja de Alexandria é patriarcal, e a primeira em dignidade depois da de Roma. Foi nessa cidade, segundo a tradição, que São Marcos recebeu o martírio.

O Martirológio Romano diz deste Evangelista neste dia: “Em Alexandria, o natalício [para o céu] do bem-aventurado Marcos, evangelista… Foi o primeiro a pregar a Cristo em Alexandria, onde também estabeleceu uma cristandade. Mais tarde, por causa de sua fé em Cristo, foi preso, amarrado com cordas, arrastado por lugares pedregosos, e gravemente maltratado. Depois, lançaram-no ao cárcere, onde primeiro foi confortado com a visita de um Anjo; logo mais, o próprio Senhor lhe apareceu, para o chamar aos reinos celestiais, no oitavo ano de Nero”. Por sua vez, o Martirológio Romano Monástico acrescenta: “Suas relíquias, trazidas para Veneza no século IX, foram parcialmente restituídas ao Patriarca [cismático] de Alexandria pelo papa Paulo VI, como desejo de comunhão entre a Igreja Romana e a Igreja Copta”.

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