- Padre David Francisquini *
Depois da crucifixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, para redimir o pecado dos homens e reabrir as portas do Céu, toda a Terra foi coberta por densas trevas, a tristeza e a desolação contagiaram os povos, liquidando com tudo o que restava de ordem. É o que poderíamos esperar depois da ignominiosa morte do Homem-Deus.
Do Santo Sepulcro ressurge a primeira claridade de esperança. As almas fiéis que o rodeavam para prestar as últimas homenagens a Nosso Senhor, pressentiam que algo de maravilhoso estava para acontecer. Junto àquela tumba, que aparentemente havia selado a derrota do Divino Redentor, eles presenciaram a glória triunfadora de Sua ressurreição.
Com efeito, como diz São Paulo, se Ele não tivesse ressuscitado, a nossa fé seria vã. Os anjos cantaram “glória a Deus nas alturas”. As trevas se dissiparam. A natureza inteira se rejubilou com a luz emanada daquele Corpo glorioso. Jesus Cristo realmente ressuscitou como triunfador da morte e do pecado. Tendo cumprido a vontade de Deus Pai, reabriu as portas dos céus aos justos.
Apesar de a notícia do enorme prodígio ter corrido como um raio, muitos discípulos ainda andavam tristes com a morte de Cristo — após ter sido entregue à soldadesca romana pelos magistrados e sacerdotes judeus —, pois a alegria da Sua ressurreição não havia ainda inundado os seus corações.
Tinham uma fé incompleta e não conheciam verdadeiramente quem era Jesus. Uns achavam que fosse um profeta com grande poder, que restauraria o reino temporal de Israel. Outros, confusos e perplexos, prestavam atenção nos acontecimentos sem entender o que se passava.
Foi necessário que Cristo morresse e ressuscitasse dos mortos para manifestar que Ele era Deus. Sendo já o terceiro dia de sua morte na Cruz, não havia mais razão para que não se conhecesse tudo o que havia se passado em Jerusalém com o Filho de Deus desde a traição do infame Judas Iscariotes.
Quando as santas mulheres chegaram pela manhã de domingo, não encontraram mais o corpo de Jesus na sepultura. Seguiu-se o anúncio do anjo de que Ele não se encontrava mais lá, mas havia ressuscitado dentre os mortos. O que parecia uma derrota, foi a confirmação na fé dos discípulos — a vitória de Cristo sobre seus inimigos —, e todos creram n’Ele depois de manifestar assim a Sua divindade.
É uma prefigura da paixão que nestes dias de trevas sofre a Santa Igreja, corpo místico de Cristo, contra a qual todos os agentes infernais conspiram e desferem golpes, mas Ela segue com vida plena nos fiéis que depositam suas certezas em Jesus Cristo vencedor e triunfador.
Poucos são os que realmente amam a Santa Igreja e estão dispostos a tudo suportar e resistir em sua honrosa defesa, bem como de tomar a iniciativa da luta a fim de que Ela seja restaurada de modo ainda mais excelente do que foi outrora, sempre segundo a lei e a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas aqueles que têm verdadeira devoção a Nossa Senhora recebem d’Ela o inestimável dom da fé, da pureza, e da bravura para lutar. Deus lhes dará a vitória.
Se correspondermos a esse dom, estaremos juntos daquelas almas privilegiadas que viram, testemunharam e registraram para os pósteros aquele momento, talvez o maior acontecimento da História: Jesus Cristo saindo vitorioso de seu sepulcro. Assim como Nossa Senhora nos deu o exemplo de nunca duvidar, Ela nos ensina e alenta a nunca desanimar nas vias da confiança.
Devemos, portanto, confiar contra todas as aparências em sentido contrário, de que junto d’Ela haveremos de encontrar forças e adquirir a certeza de que o bem não está sepultado para sempre, mas que residuum revertetur — o resto voltará, segundo Isaías. Dos escombros e das cinzas da civilização atual surgirá o Reino de Maria, com o fulgor de Cristo no momento de Sua ressurreição.
Espero que todos os fiéis e leitores tenham uma Santa e feliz Páscoa, na alegria de saber e confiar, com uma confiança sem limites, na promessa de que as portas do inferno jamais prevalecerão contra a Igreja.
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*Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).