Nada se sabe da infância e juventude deste santo do século VI, a não ser que era provavelmente romano de boa família, e que cedo tornou-se monge no famoso mosteiro de Santo André, fundado por São Gregório Magno em uma de suas propriedades no Monte Célio, uma das colinas de Roma.
Foi pois, na observância da Regra beneditina e na atmosfera de uma recente fundação que Agostinho se formou para ser o futuro missionário santo da Inglaterra.
Acontece que, cerca de cinco anos após sua ascensão à Sé Romana (em 590), São Gregório Magno começou a procurar um modo e meios para realizar o sonho de seus primeiros dias, que era o de enviar missionários para converter a Grã Bretanha.
Segundo uma tradição, essa ideia lhe veio ao ver alguns escravos ingleses jovens, à venda no mercado de Roma. Loiros, de olhos azuis, muito bem apessoados, eles impressionaram o futuro Pontífice de tal modo, que exclamou: “Não são anglos, mas anjos”.
Daí lhe veio a ideia de comprar meninos ingleses em cativeiro, de dezessete anos de idade para cima, para serem educados na Fé Católica e, no devido tempo, serem ordenados e enviados de volta à Inglaterra como apóstolos do seu próprio povo.
Talvez julgando que isso suporia um trabalho muito demorado, decidiu mandar sacerdotes já adultos para essa missão.
O que levou o Pontífice a apressar a realização desse desejo, foi constar-lhe que o jovem rei de Kent, Etelberto, acabava de se casar com uma princesa cristã, Berta, filha do rei de Paris, com a condição de que à princesa fosse permitido professar sua fé católica.
Para levar avante seu plano, São Gregório, por questões práticas, resolveu recorrer para essa missão à comunidade do mosteiro de Santo André, que governara por mais de uma década. Selecionou então quarenta monges que, sob a direção de Agostinho, na época o prior do mosteiro, seriam enviados ao país a ser evangelizado.
Segundo testemunhos de Tertuliano e Orígenes, a Inglaterra tinha sido evangelizada desde os primeiros séculos do cristianismo. Entretanto, nos séculos V e VI, tinha recaído no paganismo devido às invasões dos saxões. De modo que, com os primeiros habitantes da Ilha, os bretões, o cristianismo fora rechaçado para oeste, ou seja, para as Cornualhas e o País de Gales. O resto da Inglaterra infelizmente acabou a seguir o paganismo dos conquistadores.
Santo Agostinho e seus 39 companheiros puseram-se em marcha na primavera de 596. A viagem, à pé, exigia paradas constantes para os monges se refazerem. Desse modo chegaram a Lerins, onde fizeram uma longa estadia. Nesse mosteiro, em conversas com os monges franceses, os missionários ouviram referir-se em tais termos aos saxões, que seu entusiasmo arrefeceu. Pediram então a Agostinho que voltasse a Roma para pedir ao Papa que suspendesse a missão.
Isso evidentemente não ocorreu. O enérgico Pontífice conferiu ao discípulo, para estimulá-lo, a dignidade abacial, e o encorajou a continuar o caminho. Assim os monges recomeçaram sua viagem.
Foi no ano de 597 que os missionários chegaram à ilha de Thanet, e pouco depois apresentavam-se a Etelberto. Este, no entanto, afirmou que não queria abandonar a crença de seus ancestrais, mas dava a eles autorização para pregar e converter seus súditos.
Agostinho então conduziu seus monges a Cantuária, capital do reino, e instalou-os junto a uma capela dedicada a São Martinho, que sobrevivera à devastação geral. A pregação dos missionários não foi sem fruto, pois pouco depois eles tiveram a alegria de ver converter-se o próprio rei. Essa foi considerada a fundação da Igreja anglo-saxã.
Na festa de Natal de 597, converteram-se 10 mil pagãos. O Papa nomeou então Agostinho bispo de Cantuária, e ele foi receber a sagração episcopal na Gália. Com a dignidade episcopal, Agostinho fundou nos arredores de sua sé episcopal, a abadia de São Pedro e São Paulo, que será mais tarde a abadia de Santo Agostinho, necrópole dos soberanos e dos bispos de Kent.
A alegria e o entusiasmo de São Gregório ao receber estas notícias foi enorme. Escreveu à rainha Berta para estimular-lhe o zelo pela propagação da fé, e enviou 12 novos missionários para reforçar o número dos propagadores do Evangelho, e para levar sua resposta às consultas feitas por Agostinho. Enviava ao mesmo tempo um plano completo de organização hierárquica, que seria realizado pouco a pouco.
Santo Agostinho, que já tinha o dom dos milagres, não teve sucesso ao tentar que os bispos bretões do Oeste se unissem a eles para trabalhar na conversão dos invasores saxões. O ressentimento que eles sentiam contra os conquistadores fez fracassar a missão do Santo.
Enfim, Santo Agostinho não sobreviveu a muito ao seu amado pai, São Gregório, e faleceu em Cantuária no dia 26 de maio de 604 ou 605. O Essex seguira o exemplo de Kent na aceitação da fé e, se a conquista cristã não se encontrava ainda muito estendida, a semente estava lançada e ia, no meio de muitas trovoadas, frutificar e abranger todo o país sem necessidade da vinda de novas missões evangelizadoras.
De Santo Agostinho, diz o Martirológio Romano: “Em Cantuária, na Grã-Bretanha, o natalício [para o céu] de Santo Agostinho, bispo e confessor. Enviado com outros companheiros pelo bem-aventurado papa Gregório, pregou aos anglos o santo Evangelho de Cristo. Cercado pela glória de virtudes e milagres, ali descansou na paz do Senhor”.