São Luís Gonzaga

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Notas biográficas:

São Luís Gonzaga (1568-1591) foi o filho mais velho de Fernando, Marquês de Castiglione. Unido à sua piedade precoce podia-se perceber o borbulhar belicoso do sangue ancestral. Assim o Marquês deu-lhe uma pequena armadura, elmo, espadinha e um pequeno arcabuz de verdade. E o levou ao acampamento de Casal-Major, onde deveria passar em revista as tropas que levava consigo para a guerra do rei espanhol contra Túnis.

Luís gostava de estar junto aos tercios espanhóis — das mais famosas tropas de infantaria então existentes — imitando seu passo marcial. Mas muitas vezes repetia seu jargão e as palavras às vezes inconvenientes de alguns deles. Seu tutor chamou-lhe a atenção, dizendo-lhe que aquela não era a linguagem de lábios limpos. Embora o menino de cinco anos não entendesse seu sentido, chorou amargamente essa involuntária falta, que acusará sempre como uma das mais graves de sua vida. E disse que a partir desse episódio teve início sua “conversão”!

Comentários do Prof. Plinio:

Nosso serviço mandou-me um trecho da vida de São Luís, retirado do Daurignac.

“No momento da partida, tendo chegado para o corpo de arma do exército comandado por D. Ferrante de Gonzaga, pai de São Luís, Luís foi mandado a Castiglione. Partindo de (..?..), D. Francesco del Turco subiu na carruagem do jovem príncipe. Os gentis-homens do séquito o acompanhavam a cavalo. Quando se ficou próximo ao campo raso, o governador disse a seu aluno, no tom solene e respeitoso com que lhe falava sempre: Monsenhor, há vários dias tenho uma observação importante para fazer a Vossa Senhoria. Eu quis esperar que ela tivesse deixado Casals, a fim de não estar disposto a renová-la.

– O que fiz por acaso? perguntou a criança, emocionada.

Resposta: Eis o que foi. Vossa Senhoria, durante toda a vossa estadia em Casals viveu no campo (esta era a vontade do príncipe, pai dele). Mas Vossa Senhoria trouxe palavras e expressões inconvenientes, que um príncipe do seu sangue jamais deve permitir a si próprio e que ele até deve ignorar, porque seria motivo de viva dor para a princesa sua mãe, se ela surpreendesse isto nos lábios de seu filho.

– Mas, caríssimo amigo (observe-se que São Luís de Gonzaga tinha quatro anos), eu não sei o que é. O que disse eu de mau? E o menino começou a chorar. O preceptor lembrou então a seu aluno as palavras das quais a inocente criança não tinha compreendido nem o sentido nem o inconveniente.

– Isso jamais me acontecerá uma segunda vez, meu bom amigo, respondeu São Luís, todo desolado de sua falta. Eu vos prometo de pensar nesse assunto sempre.

Ele foi fiel à sua promessa. Essa falta, toda de ignorância, São Luís de Gonzaga jamais a esqueceu. Ele a considerava como a mais lamentável que jamais tivesse feito em toda a sua vida, e confessava mais tarde que a lembrança que conservava dessa falta o humilhava profundamente”.

Parece-me que devo fazer um resumo dos acontecimentos. São Luís de Gonzaga tinha sangue espanhol, mas era filho de um príncipe semi-soberano da Itália, da casa de Castiglione, que tinha ligações de parentesco com as maiores casas soberanas da Europa, inclusive com a casa D’Áustria, a mais importante de todas elas. Tinha quatro anos de idade e  um pouco antes dessa idade era já colocado em ambientes militares.

Isso parece um excesso, mas, pelo contrário, é uma coisa esplêndida. É porque as crianças são colocadas no jardim de infância desde pequenas, que acabam numa espécie de infância a vida inteira. Quando se quer que a criança mature, não se a coloca em jardim de infância, mas em jardim de homem. Tenho a impressão de que essas molezas de jardim de infância têm uma certa cumplicidade nos problemas de falta de estrutura das gerações atuais.

Maturar é o próprio da criança. Em vez de colocá-la em estágio superior, onde ela procure acelerar sua busca de um estado mais alto, faz-se, ao contrário, uma educação para comprimir. A criança fica infantil durante um longo tempo, e quando acaba isto é educada junto com as meninas: a co-educação. É o risco de dar um elemento híbrido, nem adulto nem infantil e de espírito nem másculo nem efeminado.

São Luís, portanto, não foi mandado para o jardim de infância, mas para o exército. Ora, os senhores sabem que nem sempre a linguagem dos ambientes militares é a mais pura e elevada possível. E o menino aprendeu umas tantas palavras peculiares ao palavreado militar, que não faziam parte da linguagem da casa de família e que tinham um sentido obsceno, imoral.

Aí vem o preceptor — os senhores vêem como o menino viaja, como viajava um príncipe nessa ocasião; ia numa carruagem com seu preceptor e tinha um séquito de gentis-homens, que o acompanhavam a cavalo — e só depois de ter deixado a cidade onde ele contraíra esse mau hábito, já em pleno campo, que falou com ele.

Vejam a gravidade que o preceptor atribuía à coisa. Os espíritos mais superficiais achariam essa gravidade exagerada. Ele disse que um príncipe de sangue jamais  deveria aprender tais palavras  e, que um príncipe de tal categoria, sequer deveria conhecer o seu sentido. São Luís perguntou o que era, ficou muito entristecido, etc.

Dir-se-á que esse preceptor foi imprudente: a criança, não sabendo o que era, não fizera mal nenhum. Pelo contrário, ele revelou uma visão profunda das coisas: a palavra é tal que, mesmo quando a pessoa não sabe o que quer dizer, algum mal essa palavra faz. Por exemplo: uma pessoa que tem o hábito de soltar uma exclamação blásfema. Será inútil corrigi-la? De modo nenhum: a palavra intrinsecamente tem um sentido mau e os lábios de um filho de Nossa Senhora não devem sujar-se pronunciando palavras obscenas.

E agora a humildade de São Luís: a humildade é a verdade e a verdade o leva a considerar seu pecado tão grave que foi o mais grave de sua vida. E aí transparece uma inocência, uma santidade, que é uma coisa de cegar.

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Homem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Ao longo de quase todo o século XX, Plinio Corrêa de Oliveira defendeu o Papado, a Igreja e o Ocidente Cristão contra os totalitarismos nazista e comunista, contra a influência deletéria do "american way of life", contra o processo de "autodemolição" da Igreja e tantas outras tentativas de destruição da Civilização Cristã. Considerado um dos maiores pensadores católicos da atualidade, foi descrito pelo renomado professor italiano Roberto de Mattei como o "Cruzado do Século XX".

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