Em continuação ao post de ontem sobre o Bicentenário, segue matéria do Príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança (1909–1981), trineto do proclamador da Independência do Brasil. Seu artigo foi publicado na edição de setembro de 1972 da revista Catolicismo, edição comemorativa do Sesquicentenário da Independência.
O então Chefe da Casa Imperial do Brasil faz uma análise do gesto de Dom Pedro I, que tornou nosso País soberano, sem contudo romper com o Reino de Portugal.
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A LIÇÃO DA INDEPENDÊNCIA
- Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança
Longe de se repelirem, tradição e progresso harmoniosamente se completam. Com efeito, o verdadeiro conceito de tradição nada tem de arcaizante, pois representa o acervo de ensinamentos acumulado de geração em geração, ou ainda o próprio ato de comunicá-los.
Assim, na vida social dos povos, podemos chamar tradição à conservação e à transmissão de conhecimentos, normas e práticas, através dos tempos, cujo conteúdo forma, no mundo ocidental, a ordem civil estabelecida pelo Cristianismo. Que de mais belo e nobre do que essa transmissão pluriforme de valores espirituais figurada na “tocha que o corredor a cada revezamento confia às mãos de outro, sem que a corrida pare ou arrefeça sua velocidade” (Pio XII, Alocução ao patriciado e à nobreza romana, janeiro de 1944, Discorsi e Radiomessaggi, vol. V, pp. 179-180)!
Por onde se vê que não há progresso estável que não se baseie numa sólida tradição. Que seria de qualquer ramo científico, por exemplo, que, para progredir, não se alicerçasse no acervo dos conhecimentos já adquiridos, isto é, em uma tradição?
O Brasil é um país em franco e inegável desenvolvimento, e está fadado a um progresso ainda muito maior, não somente pelo dinamismo de seu povo, como também pelos imensos recursos naturais com que o dotou a Providência Divina.
Mas a condição indispensável desse desenvolvimento, o penhor de que ele será estável, duradouro e sempre benéfico, é de se fazer na continuidade do passado, isto é, dentro da linha da gloriosa tradição histórica de nossa Pátria. E a esse respeito a Independência contém uma grande lição: desligamento político em relação a Portugal, ela não foi uma ruptura com a tradição portuguesa, mas se fez na continuidade dessa tradição
- — pela continuidade da Dinastia de Bragança;
- — porque o Brasil independente permaneceu fiel à tradição política recebida de Portugal;
- — porque, apesar de atritos episódicos, inerentes à separação, continuaram vigorosos os laços culturais e afetivos que ligavam o Brasil a Portugal. Brasileiros e portugueses sempre se trataram como irmãos, do que foi mais uma prova eloquente a participação pessoal do Presidente Américo Tomás nas comemorações do Sesquicentenário da Independência, acompanhando até o Rio de Janeiro os veneráveis despojos daquele que a proclamou.
Dentre as tradições de que o Brasil de hoje é cioso portador avulta a que é representada pela continuidade da Fé. Fiel às suas origens, deve ele saber preservar essas tradições, defendendo-as sobretudo contra seus adversários atuais, que são a tentação de um desenvolvimento preponderantemente material e a sedução das ideologias enlouquecidas: o comunismo escravizador e a contestação anárquica.
Necessário se torna fazer com que os valores espirituais autênticos progridam tanto entre nós, que se mostrem capazes de dirigir esse promissor surto de desenvolvimento material a que estamos assistindo, obrigando, ao mesmo tempo, a retrocederem para os antros de onde saíram aquelas ideologias espúrias, que tentam esgueirar-se no meio de nosso povo.
Eis os ferventes votos que hoje dirijo à Senhora da Conceição Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, na qualidade de herdeiro e continuador do legado espiritual da Casa de Bragança, no qual se inscrevem como valores primaciais a firme adesão à Religião Católica Apostólica Romana e a continuidade da tradição, rumo ao glorioso futuro a que a Providência chama este País que meu augusto trisavô fez independente há 150 anos.
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