No século XVII o jansenismo –  espécie de infiltração do espírito calvinista protestante dentro da Igreja –  causava na Filha Primogênita grandes estragos nas almas dos fiéis, destruindo nelas a noção da misericórdia de Deus e da confiança filial que devemos ter em relação ao Pai Celeste. Inculcava-lhes também um temor desprovido de amor, fazendo-as fugir dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia.

Eis o Coração que tanto amou os homens, que a nada se poupou até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor. E em reconhecimento não recebo da maior parte deles senão ingratidões pelos desprezos, irreverências, sacrilégios, e friezas que têm para comigo neste Sacramento de amor. Mas o que é ainda mais doloroso, é que os que assim me tratam são corações que Me são consagrados. Por isso te peço que a primeira Sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para honrar o meu Coração, reparando a sua honra por meio dum ato público de desagravo, e comungando nesse dia para reparar as injúrias que recebeu durante o tempo que esteve exposto nos altares. E Eu te prometo que o meu Coração se dilatará para derramar com abundância o influxo do seu divino amor sobre aqueles que Lhe renderem esta homenagem.

         Foi então que o Sagrado Coração de Jesus apareceu a Margarida Maria, jovem religiosa da Ordem da Visitação fundada por São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal, para transmitir sua mensagem de misericórdia e confiança, expressa no Coração humano e divino do Verbo Encarnado.

Filha de Cláudio Alacoque e de Felisberta Lamyn, Margarida Maria foi a quinta dos sete filhos do casal, nascida a 22 de Julho de 1647.

Deus a queria só para Si. Por isso, como ela mesmo conta em sua Autobiografia, Ele a preveniu praticamente desde o berço da mais leve mancha de pecado. O Divino Mestre a dirigia nos segredos da vida interior, para que sua comunicação fosse só com o Céu.

Desse modo, Margarida teria por volta de apenas quatro anos quando fez o voto de castidade. Diz ela em sua Autobiografia: “Sem saber o que dizia, sentia-me continuamente impelida a dizer estas palavras: “Meu Deus, eu vos consagro a minha pureza, e vos faço voto de perpétua castidade”.

Por volta dos onze anos, uma grave doença pôs sua vida em perigo, e obrigou a família a retirá-la do convento onde era aluna, e levá-la para casa. A menina ficou semi-paralítica e tão magra, que “os ossos furavam-me a pele por todos os lados”.  Também não podia andar. Os médicos locais esgotaram toda sua ciência sem nenhum resultado, pelo que parece que a doença era sobretudo de origem sobrenatural. Esta durou quase quatro anos, e Margarida só se curou depois de se ter consagrado a Nossa Senhora.

Com efeito, a devoção a Nossa Senhora é sinal de predestinação. Por isso Margarida sempre a teve desde os albores da razão. Maria Santíssima retribuía amor com amor: “A Santíssima Virgem teve sempre grandíssimo cuidado de mim, e a Ela é que eu recorria em todas as minhas aflições. Foi Ela que me apartou de perigos muito grandes”, confessa Margarida. Antes mesmo de São Luís Maria Grignion de Montfort ter popularizado a devoção da Sagrada Escravidão a Nossa Senhora, Margarida, ainda menina como afirma, a Ela se consagrou como escrava.

Santa Margarida Maria era grande mística, e vivia quase por completo imersa no sobrenatural.

Ao atingir a adolescência, ela quis entrar no convento, mas a mãe e os irmãos, perseguidos pelos parentes do defunto marido, quiseram obrigá-la a se casar com um bom partido para aliviar a situação de pobreza da família.

 Entretanto, vencendo a pressão dos familiares, Margarida Maria entrou no convento da Visitação, em Paray le Monial, aos 23 anos. Apenas pisou o locutório, ouviu interiormente estas palavras: “É aqui que te quero”.

No convento o Sagrado Coração de Jesus foi se revelando a ela aos poucos, dos anos de 1672 e 1673, até chegar a fazê-lo claramente em 1674 e 1675. Dez anos depois, em 1685 e 1686, Ele começou a transmitir-lhe suas celestiais promessas ao gênero humano.

Assim, na festa de São João Evangelista, Margarida Maria rezava diante do Santíssimo Sacramento quando Nosso Senhor “fez-me repousar por largo tempo em seu divino peito; e ali me descobriu as maravilhas do seu amor e os segredos insondáveis do seu Sagrado Coração”. Disse Ele: “O meu divino Coração está tão abrasado de amor para com os homens, e em particular para contigo que, não podendo já conter em si as chamas de sua ardente caridade, precisa derramá-las por teu meio, e manifestar-se-lhes para os enriquecer de seus preciosos tesouros, que eu te mostro, os quais contêm a graça santificante e as graças salutares indispensáveis para os apartar do abismo da perdição; e escolhi-te a ti, como abismo de indignidade e ignorância, para a realização deste grande desígnio, para que tudo seja feito por mim” (Autobiografia, 53).

Não dispondo de espaço para relatar com pormenores as outras aparições, citamos a chamada “Grande Revelação”, ocorrida na oitava de Pentecostes do ano de 1675: “Eis o Coração que tanto amou os homens, que a nada se poupou até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor. E em reconhecimento não recebo da maior parte deles senão ingratidões pelos desprezos, irreverências, sacrilégios, e friezas que têm para comigo neste Sacramento de amor. Mas o que é ainda mais doloroso, é que os que assim me tratam são corações que Me são consagrados. Por isso te peço que a primeira Sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para honrar o meu Coração, reparando a sua honra por meio dum ato público de desagravo, e comungando nesse dia para reparar as injúrias que recebeu durante o tempo que esteve exposto nos altares. E Eu te prometo que o meu Coração se dilatará para derramar com abundância o influxo do seu divino amor sobre aqueles que Lhe renderem esta homenagem.

Para concluir, citamos a consoladora promessa das primeiras sextas-feiras do mês que foi comunicada a Margarida Maria quase no fim de sua vida (provavelmente em 1688), e que ela comunica à sua ex-superiora, Madre de Saumaise:

Numa Sexta-feira, durante a santa Comunhão, Ele disse estas palavras à sua indigna escrava, se ela não se engana: ‘Eu te prometo, na excessiva misericórdia de meu Coração, que seu amor todo poderoso concederá a todos aqueles que comungarem nove primeiras sextas-feiras do mês em seguida, a graça da penitência final, não morrendo em minha desgraça e sem receber os Sacramentos, [meu divino Coração] se tornando seu asilo seguro no derradeiro momento”.

Santa Margarida Maria morreu em 17 de outubro de 1690. O seu corpo repousa sob o altar que lhe é dedicado na capela das visitandinas em Paray-le-Monial. Foi canonizada por Bento XV em 1920.

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