Autor: Antoine Bellion
Francisco e Elizabeth pertencem mais ou menos à mesma geração. O Papa tem oitenta e cinco anos, a Rainha acaba de falecer com a venerável idade de noventa e seis. Ambos foram marcados pelas tragédias do século XX: a Segunda Guerra Mundial para a princesa Eliza-beth, a ditadura para José-Mario Bergoglio. Ambos herdaram o cargo: por graça de nascimento para um, por eleição, sem prévia declaração de candidatura, para o outro. A influência do falecido soberano e do papa reinante estende-se muito além das fronteiras de seus respectivos Estados: Francisco é o líder espiritual de mais de um bilhão e trezentos milhões de fiéis, Elizabeth II foi, no final de seu reinado, a monarca de dezesseis países, alguns deles muito longe de seu Palácio de Buckingham. Ambos encarnam instituições de prestígio, embora consideradas anacrônicas: o papado e a monarquia. Sua autoridade temporal, enfim, é essencialmente de ordem simbólica: Isabel reinou, mas não governou, Francisco é certamente um soberano absoluto, mas seu reino é o menor estado do mundo: quarenta e quatro hectares. Aí terminam as semelhanças.
Francisco queria retirar sua pedra do prédio
Francisco, na noite de sua eleição, anunciou que o “circo”, ou seja, o protocolo e os costumes seculares em torno do Príncipe dos Apóstolos haviam terminado. Desde então, ele nunca deixou de se libertar do decoro que seus predecessores imediatos tinham, é verdade, já reduzido a um fio. A tiara, desde Paulo VI, tornou-se pesada demais para o Soberano Pontífice carregar. Isso não foi suficiente para Francisco, que também queria retirar sua pedra do prédio: ele dispensou do guarda-roupa papal o mosette de veludo vermelho orlado de arminho e os mocassins da mesma cor. Bento XVI tentou restaurar algo da sacralidade do passado às cerimônias pontifícias, Francisco trabalhou duro para distanciar o céu da terra, despojando-as o máximo possível. “O que era sagrado para as gerações anteriores continua grande e sagrado para nós”, declarou seu antecessor no Trono de Pedro. Francisco proibiu o rito milenar da Igreja latina e perseguiu aqueles que o celebravam. O bispo de Roma deve ter o verbo circunspecto e esclarecedor, Francisco tem o discurso fácil e confuso. O sucessor de Pedro é o pastor do rebanho confiado por Cristo. Bergoglio molesta suas ovelhas, mas se ajoelha diante dos lobos: seu reinado é uma sucessão de arrependimentos pelos crimes, reais ou fictícios, cometidos pelo clero ao qual pertence. Francisco prega a misericórdia, mas inspira medo. Ele afirma democratizar o governo da Igreja, mas reina como um senhor ciumento de seu poder.
Elizabeth cingiu-se da pesada coroa sem hesitar
A falecida rainha nunca acreditou que seu poder lhe dava o direito de se libertar de sua herança. Elizabeth usava, sem relutância, a pesada coroa dos reis da Inglaterra. A frágil jovem, depois a frágil velhinha vestiu, ao longo de seus setenta anos de reinado, a pesada capa dos herdeiros de Guilherme, o Conquistador. Ela nunca sacrificou a pompa, porque seus súditos, especialmente os mais humildes, têm direito à beleza. Ela adorava a tranquilidade do campo, cães e cavalos. Aos olhos maravilhados de seu povo, oferecia desfiles militares, desfiles de carruagens e intermináveis banquetes que evocavam os dos contos de fadas. Ela sabia que reinar é cumprir o dever, não satisfazer seus desejos. Quinze primeiros-ministros beijaram a mão da soberana, o último deles dois dias antes da morte do monarca. Elizabeth recebeu todos eles, conservadores ou trabalhistas, com a mesma cortesia. Cortesia aristocrática que, além disso, ela recompensou o mais modesto de seus súditos. Segundo quem a conheceu, Elizabeth tinha o dom, pelo tratamento que reservava para os que dela se aproximavam, de fazê-los sentir mais elevados. Sua pessoa suprimia o temor que sua posição poderia inspirar. Sua palavra, embora freqüente foi respeitada porque ela nunca foi flagrada em conversa banal. Tampouco traiu seu país ajoelhando-se diante daqueles que o acolheriam. O único pedido de desculpas que uma nação deve é a Deus. O que ela recebeu do pai, ela transmitiu intacto ao filho: ela sabia que o trono e o cetro são atributos do monarca, não de Elizabeth.
Francisco, o jesuíta, tem humildade ostensiva: o papa dá lugar ao homem. Isabel, a estóica, tinha humilde ostentação: a mulher desapareceu atrás da rainha. Ao considerá-los insensíveis à beleza e resistentes à dignidade, o Papa humilha os fiéis de quem acredita ser próximo. Ao oferecer-lhes o esplendor da monarquia, a rainha honrou seus súditos dos quais diziam estar distantes. Em poucos dias, em Londres, uma multidão incontável saudará os restos mortais da sua amada Soberana. Enquanto isso, em Roma, a Praça de São Pedro se torna grande demais a cada semana para os poucos fiéis que ali se aglomeram. O reinado de Francisco começou com um raio, o de Elizabeth terminou com um arco-íris.