Por muitos anos ninguém soube como surgiu a Medalha Milagrosa, cuja festa comemoramos ontem. Apenas em 1876 tornou-se público que uma humilde religiosa vicentina, falecida nesse ano, e que vivera durante os 46 anos de sua vida religiosa na mais completa obscuridade, é que recebera da Mãe de Deus a revelação dessa Medalha. Essa santa é Catarina Labouré.

Na pequena aldeia de Fain-les-Moutiers, na Borgonha, Catarina nasceu a 2 de maio de 1806, a nona dos onze filhos de Pedro e de Luísa Labouré, honestos e religiosos agricultores. Aos 9 anos perdeu a mãe e pediu a Nossa Senhora que a substituísse.

Três anos depois, sua irmã mais velha entrou no convento das Irmãs da Caridade de São Vicente de Paulo. Couberam a Catarina, então com 12 anos, e à sua irmã Tonete, com 10, todas as responsabilidades domésticas. Foi nessa época que ela recebeu a Primeira Comunhão. A partir de então, a adolescente passou a levantar-se todos os dias às quatro horas da manhã para ir assistir Missa e rezar na igreja da aldeia antes dos trabalhos. Apesar dos inúmeros afazeres, não descuidava sua vida de piedade, encontrando sempre tempo para a meditação, orações vocais e mortificações.

Catarina queria ser religiosa, e quando estava por decidir em que Congregação entrar, sonhou com São Vicente de Paulo, a quem não conhecia, que lhe disse que seria sua filha em religião. E realmente, em janeiro de 1830, ela entrou para as Filhas da Caridade, fundadas por aquele Santo.

Depois de passar pelo postulantado em Chatillon, Catarina foi mandada para o noviciado na Casa-mãe das vicentinas, na Rue du Bac, em Paris.

Catarina foi agraciada com muitas visões de São Vicente de Paulo e de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, sendo algumas delas proféticas, a respeito do futuro da França.

Na véspera da festa de São Vicente, ainda em 1830, a Mestra de Noviças tinha feito uma preleção sobre a devoção aos santos, e especialmente a Nossa Senhora. Isso inflamou na Irmã Catarina o desejo de ver a Mãe de Deus. Quando foi se deitar, pegou um pedacinho de uma sobrepeliz de São Vicente, que a Mestra tinha dado como relíquia às noviças, e engoliu-o julgando que São Vicente poderia alcançar-lhe essa graça.

Às onze e meia da noite, ela ouviu uma voz de criança, que lhe disse: “Venha à capela. A santíssima Virgem a espera”.

Lá Catarina viu a Santíssima Virgem sentar-se numa cadeira no presbitério. Conta-nos Catarina: “Ela me disse como eu devia proceder para com meu diretor, como devia proceder nas horas de sofrimento e muitas outras coisas que não posso revelar”. Essas coisas que ela não podia revelar eram sobre próximos acontecimentos políticos que teriam lugar em Paris.

No dia 27 de novembro de 1830, Catarina estava na capela, quando ouviu o característico frufru de um vestido de seda. Olhou para o lado e viu Nossa Senhora vestida de branco, sobre uma meia-esfera. Tinha nas mãos uma bola que representava o globo terrestre, e olhava para o céu.

De repente – narra Catarina – percebi anéis nos seus dedos, engastados de pedras brilhantes, umas maiores e mais belas do que as outras, das quais saíam raios que eram, também, uns mais belos que os outros”. Nossa Senhora explicou-lhe que tais raios simbolizavam as graças que derramava sobre as pessoas que as pediam. E que as pedras das quais não saía luz, representavam as graças que não pediam a Ela.

Teve então a visão da Medalha Milagrosa, como dissemos ontem, na festa dessa medalha.

Catarina perguntou a Nossa Senhora a quem recorrer para a confecção da medalha, e a Mãe de Deus lhe respondeu que deveria procurar seu confessor, o Pe. João Maria Aladel: “Ele é meu servidor”.

O Pe. Aladel procurou o Arcebispo, que ordenou em 20 de junho de 1832, que fossem cunhadas  duas mil medalhas.

Vimos ontem como, durante a terrível epidemia de cólera que infestava Paris, tendo sido distribuídas as primeiras medalhas, a peste começou a cessar. Pelo que ela ficou sendo conhecida por Medalha Milagrosa.

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 Em pouco tempo essa medalha se espraiou por todo o mundo. Pelo que a missão de Catarina Labouré estava cumprida. Os 46 anos que lhe restaram de vida, ela os passou como uma humilde irmã, da qual praticamente nada havia para falar. Só quando se aproximou sua morte, em 1876, sua Superiora soube que fora ela a privilegiada Irmã que recebera aquela sublime missão.

Cinqüenta e seis anos após sua morte, o corpo de Catarina foi encontrado inteiramente incorrupto, e é como se encontra ainda hoje na capela das Irmãs da Caridade, na Rue du Bac, em Paris.

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