O Martirológio Romano tem a seguinte entrada a 20 de dezembro: “Na Espanha, o sepultamento de São Domingos de Silos, abade da Ordem de São Bento, celebérrimo pelos milagres que operava na libertação de cristãos cativos”.
Natural de Cañas, em La Rioja, onde nasceu pelo ano 1000, de pequeno apascentou o gado de seu pai, e depois levou por certo tempo a vida solitária; finalmente foi para o mosteiro beneditino de Santo Emiliano, onde estudou as divinas letras.
Ordenado sacerdote, confiaram-lhe a reforma da paróquia de Santa Maria em sua cidade natal. Deu tão boa conta dessa função, que o chamaram de volta a Santo Emiliano, onde o escolheram para prior.
A época em que vivia São Domingos de Silos era muito complicada. Estava-se em plena Reconquista, e todos os príncipes espanhóis lutavam para retomar as terras que estavam sob domínio dos muçulmanos.
Ora, grande parte do esforço de guerra era bancado pelos monastérios e igrejas, às vezes muito ricos por doações de príncipes e nobres. Ocorreu então que no ano de 1030, Dom Garcia Sanchez III, rei da Navarra, dirigiu-se a Santo Emiliano, exigindo os tesouros do mosteiro para manter sua guerra. O soberano alegava para isso que a maior parte deles havia sido dada pelos seus antepassados.
Os monges estavam tentados a ceder, mas o santo abade deu uma recusa humilde, mas categórica, que muito contrariou o príncipe. Sua cólera foi tão grande, que obrigou os monges a deporem o abade, e o desterrou do reino de Navarra.
Domingos se exilou em 1041 então em Burgos, capital de Castela onde, por seus dotes intelectuais e de reformador, atraiu logo as simpatias do bispo local e do rei Fernando I, “o Magno” (1035-1065), de Castela e Aragão. Este o recebeu em seu palácio. Como o santo preferisse se retirar para um eremitério fora da cidade, em janeiro desse ano o rei cedeu-lhe o mosteiro de São Sebastião de Silos, que estava quase abandonado.
Esse mosteiro remontava à época visigótica (século VII), e quase desaparecera com a ocupação muçulmana. No século X, governando Castela o conde Fernán González, o mosteiro foi reativado e conheceu novo esplendor antes de cair novamente em decadência durante as invasões de Almazor.
Quando São Domingos assumiu sua direção, nele havia apenas 6 monges, e o mosteiro estava em péssima situação tanto espiritual quanto financeiramente.
Com sua vigorosa disposição, São Domingos restaurou a vida monástica, restabelecendo o louvor divino diurno e noturno. Seu contemporâneo Grimaldo, monge de Silos, diz que, para animar o santo, um anjo lhe prometeu em sonhos três coroas: uma por ter abandonado o mundo perverso e se ter encaminhado para a vida perfeita; outra por ter construído Santa Maria de Cañas e ter observado a castidade perfeita; e a terceira pela restauração de Silos. Ele se notabilizou também pelos benefícios prestados em favor dos cristãos prisioneiros dos muçulmanos, libertando um bom número de escravos detidos pelos mouros.
São Domingos não descuidava a cultura. Reuniu para a biblioteca do mosteiro uma bela coleção de manuscritos em caracteres visigóticos, e conseguiu que alguns monges se tornassem bons letrados para estudá-los.
Aos poucos o santo abade se tornou um grande taumaturgo e dos homens mais populares da Espanha.
São Domingos de Silos morreu no dia 20 de dezembro de 1073, entre os seus numerosos filhos espirituais, sendo assistido pelo bispo de Burgos. Foi sepultado no claustro do seu mosteiro.
Multiplicando-se os milagres obtidos por sua intercessão, o mesmo bispo transferiu-lhe o corpo para a igreja do mosteiro de São Sebastião, que foi perdendo seu nome e passando a adotar o de São Domingos.
Esse santo é titular de umas cinquenta igrejas na Espanha. As regiões meridionais honravam-no especialmente por causa dos cativos libertos. As futuras mães invocavam-no para terem bom parto. Por isso, quando uma rainha da Espanha estava prestes a ser mãe, o abade de Silos levava para o palácio real o báculo de São Domingos, e esta relíquia lá permanecia até se dar o feliz acontecimento. Até hoje os monges de São Domingos de Silos são muito conhecidos pelos amantes do canto-chão, por serem dos melhores interpretes do canto gregoriano.