Bispo-Príncipe do Sacro Império e Doutor da Igreja, campeão contra o protestantismo, notável escritor e diretor de almas, fundador.
Sobre esse santo tão afável pôde afirmar seu ilustre e insuspeito contemporâneo, o ex-protestante rei Henrique IV da França: “O bispo de Genebra é verdadeiramente o fênix dos prelados. Entre as pessoas, há quase sempre um lado fraco: em uma é a ciência, em outra a piedade, em outra ainda o nascimento. Mas o bispo de Genebra reúne tudo isso no mais alto grau: nascimento ilustre, ciência rara e piedade eminente”. Outro contemporâneo, São Vicente de Paulo, não menos ilustre, exclama: “Quão bom e suave deve ser o Senhor, posto que o bispo de Genebra, seu ministro, o é tanto!”.
Francisco nasceu no castelo de Sales, então no ducado da Saboia, em 21 de agosto de 1567. Seus pais eram os senhores de Boisy. Desde pequeno, como diz seu primeiro biógrafo, ele trazia em sua face e em todo seu ser a nota da bondade e da suavidade de caráter que seriam características marcantes de sua vida.
Apóstolo desde menino, na escola de Annecy dizia a seus coleguinhas: “Meus amigos, aprendamos cedo a servir ao bom Deus e a bendizê-lo, enquanto nos dá tempo para isso”.
Depois de ter cursado com amplo sucesso retórica e humanidades no colégio de Clermont, em Paris, Francisco estudou jurisprudência e teologia na Universidade de Pádua.
Foi quando estudava em Paris que ele teve uma tentação contra a fé, que durou várias semanas. Ajoelhando-se diante de um altar de Nossa Senhora, Francisco rezou com fervor o “Lembrai-vos”,voltando-lhe a paz de alma que conservou até o fim de seus dias.
Ordenado sacerdote em 1513, dedicou-se à pregação. Foi então que pediu a seu bispo para ir evangelizar a região do Chablais – que nesse tempo tinha voltado a pertencer ao ducado da Saboia – pertencente à diocese de Genebra, e que fora devastada pela heresia protestante.
Depois foi bispo de Genebra, e encarregado pelo Papa de reformar vários mosteiros. Fundou, com Santa Joana de Chantal, a Ordem das Visitandinas. Em Paris esteve em contato com São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac, bem como com o cardeal de Bérulle, a quem secundou na instalação do Carmelo na França, e com todos os grandes de seu país.
Como é impossível abranger toda a rica vida desse Apóstolo, vamos nos restringir a aspectos de sua luta contra o protestantismo.
A devastação da heresia protestante
Chegando ao Chablais apenas com o breviário e alguns livros de controvérsia, ao ver a desolação a que a heresia havia reduzido aquela província, São Francisco de Sales exclamou: “Eis como o Senhor arrancou a sebe de sua vinha, e derrubou o muro que a protegia. Ei-la deserta, desenraizada e calcada aos pés. Essa terra, outrora tão bela, foi desolada pelos seus próprios habitantes, porque violaram a lei de Deus, mudaram seus mandamentos, romperam suas alianças. As vias de Sião choram, porque não há mais quem venha às suas solenidades. O inimigo pôs a mão sobre tudo que ela tinha de precioso. A lei e os profetas desapareceram, as pedras do santuário foram dispersas. Ó Jerusalém! Ó Chablais! Ó Genebra! Convertei-vos ao Senhor vosso Deus, e que vossa contrição se torne grande como o mar!”.
Depois de 60 anos de domínio da heresia, por toda a região as igrejas estavam destruídas, as cruzes dos caminhos derrubadas, algumas aldeias incendiadas, e as almas pervertidas.
O santo começou então a trabalhar, mas ninguém o queria ouvir. Ele passou quase um ano no meio dos hereges praticamente sem nenhum sucesso. Como não podia se fazer ouvir pelos protestantes, começou a pôr por escrito a defesa da Religião católica e a refutação da heresia. Distribuía seus escritos pelas ruas, colava-os às paredes, ou os punha por debaixo das portas.
Aos poucos, vendo a abnegação do missionário enfrentando chuva, neve, e muitos trabalhos, alguns começaram a ser conquistados pelo seu heroico exemplo, e acabaram voltando ao verdadeiro redil. À medida que as conversões se sucediam, os ministros protestantes se alarmavam. Finalmente proibiram seus fiéis de ouvir o pregador católico.
Entretanto, São Francisco era irresistível. Mesmo as duas colunas do protestantismo no Chablais, o barão de Avully e o advogado Poncet, foram subjugados por sua doutrina, piedade e santidade, e abjuraram solenemente o calvinismo. O Santo Doutor faleceu no dia 28 de dezembro de 1622, aos 56 anos de idade.