Transcrevemos trechos do recomendado livro, EM DEFESA DA AÇÃO CATÓICA, no capítulo intitulado “A confirmação pelo Novo Testamento”.
A misericórdia e a justiça segundo a narração dos Evangelistas.
Misericórdia não é impunidade do mal
Nosso Senhor “pregou certamente a misericórdia, mas não pregou a impunidade sistemática do mal”. No Santo Evangelho, se Ele nos aparece muitas vezes perdoando, aparece-nos também mais de uma vez punindo ou ameaçando. Aprendamos com Ele que há circunstâncias em que é preciso perdoar, e em que seria menos perfeito punir; e também circunstâncias em que é preciso punir, e seria menos perfeito perdoar.”
“Não incidamos em um unilateralismo de que o adorável exemplo do Salvador é uma condenação expressa, já que Ele soube fazer, ora uma, ora outra coisa. Não nos esqueçamos jamais do memorável fato que S. Lucas narra no texto acima [ver post anterior].
“E também não nos esqueçamos deste outro, simétrico ao primeiro, e que constitui uma lição de severidade que se ajusta harmonicamente a da benignidade divina, num todo perfeito; ouçamos o que de Corozain e Betsaida disse o Senhor, e aprendamos com Ele, não só a divina arte de perdoar, mas a arte não menos divina de ameaçar e de punir: “Ai de ti, Corozain, ai de ti, Betsaida, porque se em Tiro ou Sidônia tivessem sido feitos milagres que se realizaram em vós, há muito tempo que elas teriam feito penitência em cilícios e em cinza.
“– Por isso vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidônia no dia do juízo, que para vós. E tu, Cafarnaum, elevar-te-ás porventura até ao céu? Hás de ser abatida ao inferno, porque se em Sodoma se tivessem feito os milagres que se fizeram em ti, talvez existisse ainda hoje. Por isso vos digo que no dia do juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma, que para ti” (S. Mat., XI, 21-23).
“Note-se bem: o mesmo Mestre que não quis mandar o raio sobre o vilarejo de que acima falamos, profetizou para Corozain e Betsaida desgraças ainda maiores que as de Sodoma! Não arranquemos ao Santo Evangelho página alguma, e encontremos elemento de edificação e de imitação nas páginas sombrias como nas luminosas, pois que tanto umas quanto outras são salutaríssimos dons de Deus.
“Se a Misericórdia ampliou no Novo Testamento a efusão das graças, a justiça, por outro lado, encontra na rejeição de graças maiores, crimes maiores a punir. Entrelaçadas intimamente, ambas as virtudes continuam a se apoiar reciprocamente no governo do mundo por Deus. Não é exato, pois, que no Novo Testamento só haja lugar para o perdão, e não para o castigo.”
Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/EmDefesadaA%C3%A7%C3%A3oCat%C3%B3lica_R_04_2011.pdf