Convite à reflexão: vede que ninguém vos engane, ensina o Evangelho (IV)

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Vede que ninguém vos engane

A este propósito é muito oportuna a citação de mais um texto. “E, respondendo Jesus, disse-lhes: Vede que ninguém vos engane. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e seduzirão muitos”. (S. Mateus, XXIV, 4 a 5). É um erro supor que o único risco a que os ambientes católicos possam estar expostos consiste na infiltração de ideias nitidamente errôneas.

Justiça e misericórdia nos Evangelhos

Assim como o Anticristo procurará inculcar-se como o Cristo verdadeiro, as doutrinas errôneas procurarão embuçar seus princípios em aparências de verdade, revestindo-os dolosamente de uma suposta chancela da Igreja, e assim preconizar uma complacência, uma transigência, uma tolerância que constitui rampa escorregadia por onde facilmente se desliza, aos poucos e quase sem perceber,
até o pecado. Há almas tíbias que têm uma verdadeira paixão de se colocar nos confins da ortodoxia a cavalo sobre o muro que as separa da heresia, e aí sorrir para o mal sem abandonar o bem – ou, antes, sorrir para o bem sem abandonar o mal. Infelizmente, cria-se com tudo isso, muitas vezes, um ambiente em que o “sensus Christi” desaparece por completo e em que apenas os rótulos conservam aparência católica. Contra isto deve ser vigilante, perspicaz, sagaz, previdente, infatigavelmente minucioso em suas observações o dirigente da Ação Católica, sempre lembrando de que nem tudo que certos livros ou certos conselheiros apregoam como católico o é na realidade. “Vede que
ninguém vos engane: porque muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu; e enganarão muitos” (S. Marcos, XIII, 5 a 6).

Outro texto digno de nota é este: “E, estando em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos creram no seu nome, vendo os milagres que fazia. Mas Jesus não se fiava neles, porque os conhecia a todos, e porque não necessitava de que lhe dessem testemunho de homem algum, pois sabia por si mesmo o que havia no (interior do) homem” (S. João, II, 23 a 25). Mostra-nos ele claramente que por entre as manifestações por vezes entusiásticas que a Santa Igreja possa suscitar, devemos aproveitar todos os nossos recursos para discernir o que pode haver de inconsistente ou de falho.

Foi este o exemplo do Mestre. Quando necessário, não recusará Ele ao apóstolo verdadeiramente humilde e desprendido, até luzes carismáticas e sobrenaturais, para discernir os verdadeiros e os falsos amigos da Igreja. Com efeito, Ele que nos deu a recomendação expressa de sermos vigilantes não nos recusará as graças necessárias para isto. “Atendei a vós mesmos e a todo o rebanho, sobre
que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para governardes a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com seu próprio sangue. Eu sei que, depois da minha partida, se introduzirão entre vós lobos arrebatadores, que não pouparão o rebanho” (Atos XX, 28 a 29).

É certo que só se refere diretamente aos Bispos a obrigação de vigilância contido neste texto. Mas na medida em que a Ação Católica é um instrumento da hierarquia, instrumento vivo, inteligente, deve ela também estar de olhos vigilantes contra os lobos arrebatadores.

A fim de não alongar por demais esta exposição, citamos apenas mais alguns textos: O mesmo S. Pedro ainda teve mais este conselho: “Vós, pois, irmãos, estando prevenidos, acautelai-vos, para que não caiais da vossa firmeza, levados pelo erro destes insensatos; mas crescei na graça e no conhecimento do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele (seja dada) glória, agora e no dia da eternidade. Amém”. (Idem, III, 17 a 18).
E não se julgue que só um espírito naturalmente inclinado à desconfiança pode praticar sempre tal vigilância. Em S. Marcos lemos: “o que eu pois digo a Vós, digo a todos: Vigiai” (XIII, 37). São João aconselha com solicitude amorosa: “Filhinhos, ninguém vos seduza” – (1 S. João, III, 5 a 7).”

Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/EmDefesadaA%C3%A7%C3%A3oCat%C3%B3lica_R_04_2011.pdf

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