O apóstolo deve preocupar-se com a popularidade? Ou deve antes primar pela verdade? Reflexões úteis para aqueles sedentos de apoio midiático.
Prosseguimos a transcrição do capítulo A CONFIRMAÇÃO PELO NOVO TESTAMENTO do livro escrito pelo Prof. Plinio (1943) Em Defesa da Ação Católica. Lembramos, essa obra foi prefaciada pele então núncio apostólico no Brasil, D. Aloisi Masella. Os Santos Evangelhos recomendam misericórdia e justiça. Não se pode adotar o silêncio e ocultar sempre ao pecador seu estado de transgressão da Lei de Deus.
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“Não vos admireis, irmãos, de que o mundo vos tenha ódio” (1, S. João, III, 12 a 13).
Causar irritação aos maus é muitas vezes fruto de ações nobilíssimas:
“E os habitantes da terra se alegrarão por causa deles, e farão festas, e mandarão presentes uns aos outros, porque estes dois profetas tinham atormentado os (ímpios) que habitavam sobre a terra” (Apoc., XI, 10).
A Verdade nunca obterá aplausos de todos
Erram gravemente os que pensam que, sempre que a doutrina católica for, pela palavra e pelo exemplo, pregada de maneira modelar, arrancará unânimes aplausos. Di-lo São Paulo:
“E todos os que querem viver piamente em Jesus Cristo, padecerão perseguição” (2 Tim. 3, 12). Como se vê neste texto, é a vida piedosa, que exacerba o ódio dos maus. A Igreja não é odiada pelas imperfeições que no decurso dos séculos se tenham notado em um ou outro de seus representantes. Essas imperfeições são quase sempre meros pretextos para que o ódio dos maus fira o que a Igreja tem de divino.
O bom odor de Cristo é um perfume de amor para os que se salvam, mas suscita ódio nos que se perdem:
“Porque nós somos diante de Deus o bom odor de Cristo, nos que se salvam, e nos que perecem; para uns, odor de morte para a sua morte; e para outros, odor de vida para a sua vida” (2 Cor., 2, 15-16).
Como Nosso Senhor, a Igreja tem no mais alto grau a capacidade de se fazer amar por indivíduos, famílias, povos e raças inteiras. Mas por isto mesmo tem ela, como Nosso Senhor, a propriedade de ver levantar-se contra si o ódio injusto de indivíduos, famílias, povos e raças inteiras. Para o verdadeiro apóstolo, pouco importa ser amado, se esse amor não é uma expressão do amor que as almas têm ou ao menos começam a ter a Deus, ou, de qualquer maneira, não concorre para o Reino de Deus. Qualquer outra popularidade é inútil para ele e para a Igreja. Por isto disse São Paulo:
“Porque, em suma, é a aprovação dos homens que eu procuro ou a de Deus? Porventura é aos homens que pretendo agradar? Se agradasse ainda aos homens, não seria servo de Cristo” (Gal. 1, 6-10).
A pureza da doutrina
Como vemos, a aprovação dos homens deve antes atemorizar o apóstolo de consciência delicada, do que alegrá-lo: não terá ele negligenciado a pureza da doutrina, para ser tão universalmente estimado? Está ele bem certo de que flagelou a impiedade como era do seu dever? Estará ele realmente em uma dessas situações como Nosso Senhor no dia de Ramos? Neste caso, uma advertência: lembre-se de quanto valem os aplausos humanos e a eles não se apegue. Amanhã, talvez, surgirão os falsos profetas que hão de atrair o povo pela pregação de uma doutrina menos austera. E o homem ainda ontem aplaudido deverá dizer aos que o louvavam:
“Tornei-me eu logo vosso inimigo, porque vos disse a verdade? Esses (falsos apóstolos) estão cheios de zelo por vós, não retamente; antes vos querem separar, para que os sigais a eles. É bom que sejais sempre zelosos pelo bem; Filhinhos meus, por quem eu sinto de novo as dores do parto, até que Jesus Cristo se forme em vós; bem quisera eu estar agora convosco, e mudar a minha linguagem; porque estou perplexo a vosso respeito” (Gal. 4, 16-20). Mas esta linguagem não pode ser mudada, o interesse das almas o impede. E, se a advertência não for ouvida, a popularidade do apóstolo soçobrará de uma vez.
Então, se ele não tiver ânimo desapegado e varonilmente sobrenatural, ei-lo que se arrasta atrás dos que o abandonam, diluindo princípios, corroendo e desfigurando verdades, diminuindo e barateando preceitos a fim de salvar os últimos fragmentos dessa popularidade de que, inconscientemente, ele fizera um ídolo.
Que conduta pode diferir mais profundamente desta, que o ânimo sobranceiro com que Nosso Senhor, profundamente triste embora, levou até à morte, e morte de Cruz, a sua luta direta e desassombrada contra a impiedade?
Se as verdades ditas com clareza por vezes são motivo para que se embotem no mal os perversos, como é grande o júbilo do apóstolo que soube vencer seu espírito pacifista, e, com golpes enérgicos, salvar as almas.
A tristeza que é segundo Deus leva à penitência
“Porque embora eu vos tenha entristecido com a minha carta, não me arrependo disso; se bem que tenha tido pesar, vendo que tal carta, ainda que por breve tempo, vos entristeceu; agora folgo, não de vos ter entristecido, mas de que a vossa tristeza vos levou à penitência. Entristecestes-vos segundo Deus, de sorte que em nada recebestes detrimento de nós. Porque a tristeza, que é segundo Deus, produz uma penitência estável para a salvação; mas a tristeza do século produz a morte. E, se não, vêde o que produziu em vós essa tristeza segundo Deus, quanta solicitude, que vigilante cuidado em vos justificardes, que indignação, que temor, que desejo (de remediar o mal), que zelo, que (desejo de) punição (pela injúria feita à Igreja); vós mostrastes em tudo que éreis inocentes neste negócio” (2 Cor. 7, 8-11) (S. Paulo se refere ao caso de um incestuoso, mencionado na 1ª epístola.).
Este é o grande, o admirável prêmio dos apóstolos bastante sobrenaturais e clarividentes para não fazerem da popularidade a única regra e o supremo anelo de seu apostolado.
Não recuemos ante insucessos de momento, e Nosso Senhor não recusará a nosso apostolado idênticas consolações, as únicas que devemos almejar.
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Fica aí a lição dos Evangelhos aos sedentos de popularidade junto ao mundo. Nossa missão é proclamar a verdade e não sermos mendigos de popularidade.
Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/ED_0501confirmacaonovotestamento.htm