Convite à reflexão: pregar também as verdades severas

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As verdades fáceis, aquelas que muitos procuram e aceitam constituem, dentro do firmamento das perfeições da Igreja, um aspecto que deve ser completado com as verdades austeras, severas, mais difíceis de serem acatadas pelos homens.

Prosseguimos a transcrição do capítulo A CONFIRMAÇÃO PELO NOVO TESTAMENTO do livro escrito pelo Prof. Plinio (1943) Em Defesa da Ação Católica. Lembramos, essa obra foi prefaciada pele então núncio apostólico no Brasil, D. Aloisi Masella. Os Santos Evangelhos recomendam misericórdia e justiça. Não se pode adotar o silêncio e ocultar sempre ao pecador seu estado de transgressão da Lei de Deus.

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Tenhamos a coragem de pregar as verdades austeras

A pregação das verdades severas

Certos espíritos profundamente penetrados de liberalismo têm pretendido que os fiéis, imitando o dulcíssimo Salvador, não deveriam inserir em seus incitamentos ao bem qualquer espécie de ameaças de penas futuras, pois que uma linguagem cheia de advertências desta natureza não é própria de arautos da Religião do amor.

Evidentemente, não se deve fazer da apreensão das penas futuras o único móvel da virtude. Esta reserva feita, não vemos de onde tiraram aqueles liberais a idéia de que é faltar contra a caridade, falar do inferno. Vejamos como das penas que merecemos depois da morte, no inferno ou no purgatório, falavam os apóstolos:

“Porque é justo diante de Deus dar tribulação àqueles que vos atribulam, e a vós que sois atribulados (dar), descanso (eterno) conosco, quando aparecer Jesus (descendo) do céu com os anjos (mensageiros) do seu poder, em uma chama de fogo, para tomar vingança daqueles que não conheceram a Deus, e que não obedecem ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo; os quais serão punidos com a perdição eterna, longe da face do Senhor e da glória do seu poder; quando ele vier naquele dia para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável em todos os que creram, porque vós crestes no testemunho que nós demos diante de vós” (2 Tes. 1, 3-10).

E Nosso Senhor disse do purgatório: “Em verdade te digo: Não sairás de lá antes de ter pago o último quadrante” (S. Mateus, V, 26).

Quanto ao inferno, ouçamos as palavras do dulcíssimo Mestre:

“Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. Que estreita é a porta, e que apertado o caminho que conduz à vida, e quão poucos são os que acertam com ele” (S. Mateus, VII, 13 a 14).

“Jesus, ouvindo (estas palavras), admirou-se, e disse para os que o seguiam: “Em verdade vos digo: Não achei fé tão grande em Israel. Digo-vos, porém, que virão muitos do Oriente e do Ocidente, e que se sentarão com Abraão e Isaac e Jacó no reino dos céus, enquanto os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes” (S. Mat., VIII, 10 a 12).

“Se alguém não vos receber nem ouvir as vossas palavras, ao sair para fora daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo: Será menos punida no dia do juízo a terra de Sodoma e de Gomorra, do que aquela cidade” (S. Mateus, X, 14 a 15).

“Eu vos digo que, de qualquer palavra ociosa que disserem os homens, darão conta dela no dia do juízo. Porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado” (S. Mateus, XII, 36 a 37).

“A rainha do meio-dia levantar-se-á no (dia do) juízo contra esta geração, e a condenará, porque veio da extremidade da terra a ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é mais do que Salomão” (S. Mateus, XII, 42).

“Não vos admireis disso, porque virá tempo em que todos os que se encontram nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que tiverem feito obras boas, sairão para a ressurreição da vida (eterna); mas os que tiverem feito obras más, sairão resuscitados para a condenação” (S. João, V, 28 a 29).

Vejamos outros textos do Novo Testamento:

“Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns pensam; mas usa de paciência convosco, não querendo que nenhum pereça, mas que todos se convertam à penitência. Mas como um ladrão virá o dia do Senhor, no qual passarão os céus com grande estrondo, e os elementos com o calor se dissolverão, e a terra e todas as obras que há nela serão queimadas.

“Portanto, visto que todas estas coisas estão destinadas a ser desfeitas, quais vos convém ser em santidade de vida e em piedade, esperando e correndo ao encontro da vinda do dia do Senhor, no qual os céus, ardendo, se desfarão, e os elementos com o ardor do fogo se fundirão? Porém esperamos, segundo a sua promessa, novos céus e uma nova terra, nos quais habite a justiça (2, S. Pedro, III, 9 a 13).

“Da sua boca saía uma espada de dois gumes, para ferir com ela as nações. E ele as governará com cetro de ferro; e ele mesmo pisa o lagar do vinho do furor da ira de Deus onipotente (Apoc., XIX, 15).

“Aquele que vencer, possuirá estas coisas, e eu serei seu Deus, e ele será meu filho. Mas, pelo que toca aos tímidos, e aos incrédulos, e aos execráveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no tanque ardente de fogo e de enxofre: o que é a segunda morte” (Apoc., XXI, 7 a 8).

Preguemos a mortificação e a Cruz

Quanto aos que pensam que o Novo Testamento abriu para nós a era de uma vida espiritual sem lutas, como se enganam! Pelo contrário S. Paulo põe diante de nossos olhos a perspectiva de uma luta incessante do homem contra suas inclinações inferiores, luta esta tão dolorosa que o Apóstolo chega a compará-la ao pior dos martírios, isto é, à Crucifixão:

“Digo-vos pois: Andai segundo o Espírito e não satisfareis os desejos da carne. Porque a carne tem desejos contrários ao espírito, e o espírito, desejos contrários à carne; porque estas coisas são contrárias entre si, para que não façais tudo aquilo que quereis. Se vós, porém, sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei. Ora, as obras da carne são manifestas, são a fornicação, a impureza, a desonestidade, a luxúria, a idolatria, os malefícios, as inimizades, as contendas, as rivalidades, as iras, as rixas, as discórdias, as seitas, as invejas, os homicídios, a embriaguez, as glutonarias, e outras coisas semelhantes, sobre as quais vos previno, como já vos disse, que os que fazem tais coisas não possuirão o reino de Deus. Ao contrário, o fruto do Espírito é a caridade, o gozo, a paz, a paciência, a benignidade, a bondade, a longanimidade, a mansidão, a fidelidade, a modéstia, a continência, a castidade. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a sua própria carne com os vícios e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, conduzamo-nos também pelo Espírito” (Gal. 5, 16-25).

E com quanto cuidado deve o cristão velar pelo edifício sempre frágil de sua santificação, posto à prova por toda a sorte de provações interiores e exteriores! Leiamos este texto:

“Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a superioridade da virtude seja de Deus e não de nós. Em tudo sofremos tribulação, mas não somos oprimidos; somos cercados de dificuldades, mas não desesperamos; somos perseguidos, mas não desamparados; somos abatidos, mas não perecemos; trazendo sempre em nosso corpo a mortificação de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste nos nossos corpos. Porque nós que vivemos somos continuamente entregues à morte por amor de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal. A morte, pois, opera em nós, e a vida em vós” (2 Cor. 4, 7-12). (Este último versículo quer dizer que S. Paulo morria a si mesmo para dar a vida espiritual aos outros. A virtude, de que se fala acima, é a virtude da pregação, isto é, a virtude do apostolado).

É orgulho ou ingenuidade imaginar-se que não encontramos terríveis relutâncias interiores:

“Efetivamente, nós sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido ao pecado. Porque não entendo o que faço; não faço o bem que quero, mas o mal que aborreço, esse é que faço” (Rom. 7, 14-15).

“Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem. Porque o querer está ao meu alcance; mas não acho o meio de o fazer perfeitamente. Porque eu não faço o bem que quero, mas o mal que não quero” (Ibid., 18-19).

“Eu encontro, pois, esta lei em mim: quando quero fazer o bem, o mal está junto de mim; porque me deleito na lei de Deus, segundo o homem interior; mas vejo nos meus membros outra lei que se opõe à lei do meu espírito, e que me faz escravo da lei do pecado, que está nos meus membros. Infeliz de mim. Quem me livrará deste corpo de morte?” (Rom. 7, 21-24).

É dura, esta luta, mas sem ela não se chega à glória:

“Se (somos) filhos, também (somos) herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; mas isto se sofremos com ele, para ser com ele glorificados” (Rom. 8, 17).

Só as obras de apostolado, sem a mortificação, não bastam para este fim:

“Quanto a mim, corro, não como à ventura; combato, não como quem açoita o ar; mas castigo o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que não suceda que, tendo pregado aos outros, eu mesmo venha a ser réprobo” (1 Cor. 9, 26-27).

Seja, pois, de vigilância nossa vida interior:

“Aquele pois que crê estar de pé, veja, não caia” (1 Cor. 10, 12).

A conclusão, pois, não pode deixar de ser esta:

“Irmãos, fortalecei-vos no Senhor e no poder da sua virtude. Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Porque nós não temos que lutar (somente) contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos (espalhados) pelos ares. Portanto, tomai a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e ficar de pé depois de ter vencido tudo. Estai, pois, firmes, tendo cingido os vossos rins com a verdade, e vestido a couraça da justiça, e tendo os pés calçados para ir anunciar o Evangelho de paz; sobretudo tomai o escudo da fé com que possais apagar todos os dardos inflamados do maligno; tomai o elmo da salvação e a espada do espírito, que é a palavra de Deus; orando continuamente em espírito com toda a sorte de orações e súplicas, e vigiando nisto mesmo com toda a perseverança, rogando por todos os santos e por mim, para que me seja dado abrir a minha boca e pregar com liberdade o mistério do Evangelho, do qual eu, mesmo com as algemas, sou embaixador, e para que eu fale corajosamente dele, como devo” (Efes. 6, 10-20).

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Nossa Senhora Aparecida nos ajude a praticar as virtudes fáceis e as virtudes austeras que constituem a galáxia das perfeições dos santos.

Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/ED_0501confirmacaonovotestamento.htm

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