Sábado Santo
Este santo, chamado Clímaco, que quer dizer “escada” por causa de sua obra “Escada do Paraíso”, nasceu muito provavelmente na Síria, por volta do ano 525, e faleceu, de acordo com confiável opinião, no dia 30 de março de 605.
Se bem que, por sua educação e saber, ele pudesse viver num ambiente intelectual, ainda jovem escolheu abandonar o mundo para viver em solidão. Assim apresentou-se no mosteiro do Sinai, disposto a consagrar-se a Deus.
O Monte Sinai, com tantas recordações bíblicas, forma um maciço de cumes e vales pedregosos e muito secos, quase sem vegetação. Quando a religiosa Etéria, de naturalidade galega e que viveu entre os séculos IV ou V, visitou o Sinai, ele estava povoado de monges. Etéria viu diferentes mosteiros, capelas guardadas por monges, covas em que moravam anacoretas, “e uma igreja no alto do vale, diante da qual há um ameníssimo jardim com água abundante, no qual está a sarça [que se tornou ardente quando Deus apareceu a Moisés]. Muito perto indica-se o lugar onde se encontrava São Moisés quando Deus lhe disse: ‘Desata a correia do teu calçado’”.
A recordação de Moisés e de Elias, aos quais falou Deus neste monte, atraiu desde os primeiros tempos muitos anacoretas, sem regra comum, mas seguindo os costumes inspirados nos preceitos que São Basílio dera a seus monges.
Quando São João Clímaco entrou nesse mosteiro, era dele abade o monge Martírio, excelente religioso, que o instruiu no modo de vida a ali levar. Depois de três anos de noviciado, São João pôde entrar na comunidade dos monges.
Um ano depois faleceu Martírio, e São João retirou-se para uma ermida no extremo do monte. Ali vivia mais perto de Deus e se santificava. Segundo o que escreveu mais tarde numa carta, ele se ocupava de sua própria santificação, pois diz: “Entre todas as ofertas que podemos fazer a Deus, a mais agradável a seus olhos é indiscutivelmente a santificação da alma por meio da penitência e da caridade”.
Em sua ermida o Santo venceu o demônio da gula, comendo pouco; ao mesmo tempo dominava a vanglória, comendo de tudo o que lhe permitia a regra monástica, pois sabia que as abstinências extremas foram motivo de ostentação para alguns monges.
Assim São João Clímaco passou 40 anos alheio à indolência, dado ao estudo e ao trabalho manual, sendo sua oração prolongada e breve o sono, parco no comer e benigno com os visitantes incômodos. Pois, depois de um princípio vivendo no isolamento, como correu a fama de sua erudição e santidade, muitas pessoas passaram a ir ter com ele em busca de conselho ou edificação.
Quando morreu o abade de Monte Sinai no ano 600, os monges o escolheram para substituí-lo. São João Clímaco já tinha 75 anos.
Foi então que ele terminou sua obra “A Escada do Paraíso”, para a qual ele serviu-se de exemplos vividos nos mosteiros. O estilo é simples e claro. Assim, diz-nos que, edificado com o monge cozinheiro do mosteiro, perguntou-lhe como podia andar recolhido a cada momento, exercendo um trabalho tão material. O cozinheiro respondeu-lhe: “Quando sirvo os monges, imagino comigo que sirvo ao próprio Deus na pessoa de seus servidores. E o fogo da cozinha recorda-me as chamas que abrasarão os pecadores eternamente”.
São João desincumbiu-se de suas funções como abade com a maior sabedoria, e sua reputação espalhou-se tão longe, que o papa São Gregório Magno escreveu-lhe recomendando-se às suas preces, ao mesmo tempo em que lhe enviava uma soma de dinheiro para o hospital do Sinai, que o santo tinha fundado para atender os peregrinos.
Quatro anos depois São João Clímaco resignou ao seu cargo de abade, voltando para sua amada ermida.
São João Clímaco escreveu duas importantes obras: a “Escada do Paraíso”, de onde vem seu nome, e o “Livro para os pastores”. A “Escada”, que obteve imensa popularidade e tornou seu autor conhecido na Igreja, é endereçada aos anacoretas e cenobitas, e trata dos meios pelos quais podem ser atingidos os mais altos degraus da perfeição religiosa.
O santo morreu no ano de 649, com a mesma simplicidade com que tinha vivido. Ele também foi chamado “João, o Escolástico”, designação que apenas se dava às pessoas de muita doutrina. Ele é um dos Santos Padres da Igreja Grega.