Estamos publicando o Capítulo V do livro Em Defesa da Ação Católica onde o autor, Prof. Plinio, mostra que o Novo Testamento está recheado de palavras duras, de repreensões, de alertas contra os lobos que procuram dilacerar o rebanho de Cristo.
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Desta vez, a alusão atinge toda a população vasta, culta e numerosa, de uma ilha:
“Porque há ainda muitos desobedientes, vãos faladores e sedutores, principalmente entre os da circuncisão, aos quais é necessário fechar a boca a eles que transtornam casas inteiras, ensinando o que não convém, por amor dum vil interesse. Um deles, seu próprio profeta, disse: Os Cretenses são sempre mentirosos, más bestas, ventres preguiçosos. Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os asperamente, para que sejam sãos na fé, não dêem ouvidos a fábulas judaicas nem a mandamentos de homens que se afastam da verdade” (Tit. 1, 10-14).
Ouçamos esta crítica apostolicamente acerba:
“Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis e rebeldes, e incapazes de toda a obra boa” (Tit. 1, 16).
Parece excessiva? Entretanto constitui um dever de apostolado a repreensão:
“Ensina estas coisas, e exorta, e repreende com toda a autoridade. Ninguém te despreze” (Tit. 2, 11-15). E porque teremos receio de exortar com tanto vigor quanto o fazia o Apóstolo?
Vimos o que de Creta disse o Apóstolo. Para converter os gregos e judeus, julgou úteis essas palavras:
“Porque já demonstramos que Judeus e Gregos estão todos no pecado, como está escrito: Não há nenhum justo; não há quem tenha inteligência, não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram, todos a um se tornaram inúteis, não há quem faça o bem, não há sequer um. A garganta deles é um sepulcro aberto, com as suas línguas tecem enganos. Um veneno de áspides se encobre debaixo dos seus lábios; a sua boca está cheia de maldição e de amargura; e os seus pés são velozes para derramar sangue; a dor e a infelicidade estão nos seus caminhos; e não conheceram o caminho da paz; não há temor de Deus diante dos seus olhos. Ora, nós sabemos que tudo aquilo que a lei diz, o diz àqueles que estão sob a lei, para que toda a boca seja fechada e todo o mundo seja digno de condenação diante de Deus” (Rom. 3, 9-19).
Contra a impureza, disse S. Paulo: “Os alimentos são para o ventre, e o ventre para os alimentos; mas Deus destruirá tanto aquele, como estes; porém o corpo não é para a fornicação, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo. E Deus, que ressuscitou o Senhor, também nos ressuscitará a nós com o seu poder. Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei eu pois os membros de Cristo, e fá-los-ei membros duma prostituta? De modo nenhum” (1 Cor. 6, 12-15).
Nosso Senhor começou sua vida pública, não com palavras festivas, mas pregando a penitência:
“Desde então começou Jesus a pregar e a dizer: “Fazei penitência, porque está próximo o reino dos céus” (S. Mateus, IV, 17).
E suas palavras eram por vezes terríveis contra os impenitentes:
“Então começou a exprobrar às cidades em que tinham sido operados muitos dos seus milagres, o não terem feito penitência. Ai de ti Corozain! Ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidônia tivessem sido feitos os milagres que se realizaram em vós, há muito tempo que elas teriam feito penitência em cilício e em cinza. Por isso vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidônia no dia do juízo, que para vós. E tu, Cafarnaum, elevar-te-ás porventura até ao céu? Hás de ser abatida até ao inferno, porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os milagres que se fizeram em ti, talvez existisse ainda hoje. Por isso vos digo que no dia do juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma, que para ti. Então Jesus, falando novamente, disse: Graças te dou, ó pai, Senhor do Céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelastes aos pequeninos” (S. Mateus, XI, 20 a 25).
Assim falou Nosso Senhor:
“Quando o espírito imundo saiu de um homem, anda por lugares secos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, quando vem, a encontra desocupada, varrida e adornada. Então vai, e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa” (S. Mateus, XII, 43 a 45).
S. Pedro lhe deu uma sugestão por demais humana, aconselhando-O a que não fosse a Jerusalém onde O quereriam matar. A resposta foi majestosamente severa: “Ele, voltando-se para Pedro, disse-lhe: “Retira-te de mim, Satanás; tu serves-me de escândalo, porque não tens a sabedoria das coisas de Deus, mas das coisas dos homens” (S. Mateus, XVI, 23).
Cheio de misericórdia, Nosso Senhor Se dispunha a fazer um milagre. Eis, entretanto, o que disse antes:
“Jesus, respondendo disse: ó geração incrédula e perversa, até quando hei-de estar convosco? Até quando vos hei de sofrer? Trazei-mo cá. E Jesus ameaçou o demônio, e este saiu do jovem, o qual desde aquele momento ficou curado” (S. Mateus, XVII, 16).
Aos vendilhões, que açoitou, disse Nosso Senhor fortemente:
“Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós fizestes dela covil de ladrões” (S. Mateus, XXI, 13).
Haverá censura mais aguda do que esta de Nosso Senhor, aos orgulhosos fariseus:
“Na verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes vos levarão a dianteira para o reino de Deus. Porque veio a vós João no caminho da justiça e não crestes nele; e vós, vendo isto, nem assim fizestes penitência depois, para crerdes nele”? (S. Mat., XXI, 31 a 32).
E esta outra:
“Mas, ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! porque fechais o reino dos céus diante dos homens, pois nem vós entrais, nem deixais que entrem os que estão para entrar. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! porque devorais as casas das viúvas, a pretexto de longas orações; por isto sereis julgados mais severamente. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o tornais duas vezes mais digno do inferno do que vós.
“Ai de vós, condutores cegos! que dizeis: Se alguém jurar pelo templo, isto não é nada; mas o que jurar pelo ouro do templo fica obrigado (ao que jurou). Estultos e cegos! Qual é mais, o ouro ou o templo, que santifica o ouro? E (dizeis) se alguém jurar pelo altar, isto não é nada; mas quem jurar pela oferenda que está sobre ele, ficará obrigado (ao que jurou). Cegos! Qual é mais, a oferta ou o altar, que santifica a oferta?” (S. Mateus, XXIII, 13 a 19).
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Nossa Senhora nos ajude a compreender e amar as verdades da Santa Igreja ensinadas pelo Divino Mestre.