Presidentes latino-americanos de esquerda tentam uma perversa manobra para submeter o “continente da esperança” à escravidão russo-chinesa
- Em um solene discurso de prestação de contas no final de 2022, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, enunciou o plano de formar um só bloco com o Brasil, Argentina, Colômbia e demais países que tentam restaurar a confabulação bolivariana, um socialismo “rosa”, ou melhor, um comunismo camuflado — noticiou o jornal “La Nación”[i], de Buenos Aires.
Quem comandaria essa fusão de muitas cabeças, que evoca alguma quimera do Apocalipse? Maduro disse escancaradamente: aqueles que ele julga nossos “irmãos mais velhos”, o ditador chinês Xi Jinping, e o russo, Vladimir Putin… Os dois já têm aplicado grandes recursos econômicos na infeliz Venezuela, inclusive com mercenários russos do “Grupo Wagner”.
Essa “nova frente progressista” que propôs “o criminoso Maduro criará na região, junto com seu ‘irmão’ cubano, o mundo que Putin sonha” lemos num tweet viralizado (Elisa Trotta Gamus (@EliTrotta)
No referido discurso, Maduro disse ter conversado por telefone sobre isso com Lula e com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e pessoalmente com o presidente colombiano Gustavo Petro. “Está chegando a hora especial para unir os caminhos da América Latina e do Caribe para a formação de um poderoso bloco político, econômico falando ao mundo”, explicou.
“Eixo do mal” na América Latina proposto por Maduro
Obviamente, esse “polo de poder” dependeria dos “irmãos mais velhos”, Xi Jinping e Putin. Maduro lembrou que “nosso irmão mais velho, o presidente Xi, fala” do projeto, acrescentando que seria “aquele mundo multipolar e multicêntrico de que fala nosso irmão mais velho, o presidente russo, Vladimir Putin” —o ditador, poder-se-ia acrescentar, que invadiu a Ucrânia e massacra a sua população. Maduro se autopromoveu dizendo que “a Venezuela está na vanguarda da batalha pela construção desse mundo”. O presidente colombiano, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro, também se referiu ao tema.
A ocasião do primeiro ato do plano estava marcada: a reunião em Buenos Aires da CELAC (Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe), criada por Hugo Chávez e Lula da Silva em 2010, da qual os EUA e o Canadá estão excluídos. O recém empossado Lula compareceria, em sua primeira viagem internacional, e também se exibiriam o autocrata cubano Miguel Díaz-Canel, o ditador nicaraguense Daniel Ortega — responsável pelo assassinato de centenas de opositores e pela prisão de um bispo e de diversos sacerdotes —, o presidente do México e outras autoridades criptocomunistas. Maduro mandou “preparar o ambiente” para uma recepção gloriosa na capital platina. Com semanas de antecedência, enviou misteriosos aviões a serviço da Venezuela, um deles pilotado por Gholamreza Ghasemi, terrorista da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, associado pelo FBI ao Hezbollah, que ficou preso algumas semanas pela Justiça argentina com ordens de captura internacional[ii].
Ditadores fogem da Justiça
Maduro, entretanto, não pisou na Argentina, pois milhares de venezuelanos, cubanos e nicaraguenses exilados, organizações humanitárias e opositores do regime argentino, abriram denúncia diante da Justiça Penal contra ele, Díaz-Canel e Ortega, citando “numerosos informes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) ou Human Rights Watch, que relatam a perseguição política a entidades civis e pessoas físicas” por parte dos três, informou “La Nación”[iii].
Patricia Bullrich[iv], presidente do partido Proposta Republicana, pediu a prisão de Maduro tão logo ele entrasse em território argentino, tendo em vista a ordem de captura emitida contra ele pela Administração de Controle de Drogas dos EUA (DEA) por narcotráfico e “participação no Cartel dos Sóis”, organização criminosa constituída por membros da Força Armada Nacional Bolivariana e pelo próprio governo venezuelano para o tráfico de cocaína, além de denúncias pessoais por crimes de Lesa Humanidade.
Maduro ansiava mostrar que não estava isolado, mas achou melhor desistir e ficar acobertado em Caracas[v]. O ditador nicaraguense “confirmou ausência” e o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador escapou do encontro. O Papa Francisco foi convidado por Rafael Correa, ex-presidente equatoriano prófugo da Justiça exilado na Bélgica, mas nenhum dos dois compareceu.
“Disneylândia” comunistoide e antidemocrática
O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, questionou a “ideologização” da reunião apontando que “parece Disneylândia”. Deplorou que na CELAC funcionasse “um clube de amigos ideológicos”. E condenou os abusos esquerdistas propostos para o documento final dizendo: “aqui há países que não respeitam a democracia, os direitos humanos nem mesmo as instituições”, em clara referência a Cuba, Venezuela e Nicaragua[vi].
Mario Abdo Benítez, presidente do Paraguai, partilhou as críticas do presidente uruguaio, dizendo: “Não podemos olhar para o outro lado quando sete milhões de venezuelanos abandonaram seus lares”, e pediu eleições livres e independência dos poderes, não importa onde. Nenhum autoproclamado herói da democracia— político, mídia ou outro — aprovou a proposta, registrou o jornal “Clarín”[vii].
A declaração final incluiu uma defesa de Cuba e da Venezuela, misturada com alguns gemidos insinceros pela democracia para contentar a todos. A Argentina não obteve uma condenação do “lawfare” — termo usado pelo Papa Francisco para tentar salvar Cristina Kirchner dos processos por crimes de corrupção em curso na Suprema Corte de Justiça[viii].
Condenações internacionais
Após a reunião da CELAC, os EUA declararam que somente a Organização dos Estados Americanos (OEA) é democrática e “indispensável”, e deplorou a erosão da democracia e dos direitos humanos na América Latina, ficando claro a quem se referiam.
O presidente argentino, Alberto Fernández, acha que “a OEA tal como está não serve”, mas convidou o presidente Biden para o encontro. Este recusou, e o ditador Ortega perguntou “o que faz um delegado dos EUA se a CELAC foi concebida à margem da ingerência dos EUA”[ix].
O ex-presidente bolivariano Evo Morales aproveitou a CELAC para instigar as desordens públicas no Peru, país em que com alguns outros não foi autorizado a ingressar. Ele se mostrou convencido de que se pisar no Peru será aclamado como herói pelo “verdadeiro povo”, dando a entender que poderia transpor suas fronteiras e liderar uma tentativa de golpe de Estado[x].
Silêncio clamoroso e pertinaz submissão
Uma semana depois da reunião da CELAC, o chanceler argentino Santiago Cafiero reafirmou a Qin Gang, novo ministro de Relações Exteriores da China, a aliança entre ambos os países. Além de sua base existente na Antártida, a China planeja construir outra, como também um porto na Terra do Fogo. Essa aproximação constante causa mal-estar em Washington e patenteia a liderança do “irmão maior” de Pequim, que oferece financiamentos com duplas intenções, escreveu o diário “Clarín”[xi].
Até o esquerdista presidente chileno Gabriel Boric pediu a Daniel Ortega que concedesse liberdade aos presos de consciência para fortalecer a democracia, mas não foi ouvido. O plenário e a mídia também fizeram silencio.
Esse silencio foi clamoroso. Princípios considerados cruciais pelos governos não totalitários foram tratados com leviandade e a CELAC se autocondenou à irrelevância, comentou o “Clarín”[xii]. Essa assembleia semeou a dúvida de ter decaído a ponto de ser “um espaço regional autoritário” que criminaliza, exclui e reprime a quem pensa diferente[xiii].
Poucos dias depois, enquanto Maduro mandava prender uma ativista dos direitos humanos — antes de receber um enviado da ONU —, o governo de Alberto Fernández promovia uma passeata contra a Suprema Corte de Justiça que provavelmente condenará Cristina Kirchner por uma galáxia de crimes de corrupção, documentados à exaustão[xiv].
A ONU, a OEA, os EUA, bem como grande número de organizações internacionais clamam ao regime argentino para que pare de atentar por múltiplas vias contra o Judiciário, a fim de impedir o julgamento da ex-presidente argentina, signatária, aliás, do documento final do CELAC. O próprio Papa Francisco — que tem grandes amigos entre os mais censuráveis líderes da CELAC — tomou distância e polemizou com Fernández e Kirchner, escapando pela tangente da crise econômica[xv].
Uma CELAC fracassada e ridícula
A 204 quilômetros de Buenos Aires, em Mechita, uma imensa oficina ferroviária comprada por Fernández à Rússia por centenas de milhões de dólares e na qual Putin não mandou colocar sequer um parafuso, está tomada pela ferrugem. Enquanto isso, nos Andes amazônicos equatorianos, a barragem de Coca Codo Sinclair — a maior do país, construída pela China no vale de Coca —, apresenta milhares de micro rachaduras, levando o caudaloso rio principal a derrubar assustadoramente as contenções naturais, por erros de cálculo dos planejadores socialistas.
Esses fracassos constituíram o marco de uma CELAC que acabou fazendo um papelão ridículo. Mas muitos outros fiascos, como a invasão da Ucrânia, provam que a ideologia comunista, impregnada nessa comunidade mal nascida, não respeita nada e só traz desgraça.
A América Latina tem a missão de ser o “continente da Esperança”. A perversa tentativa de submetê-la à opressão russo-chinesa acabará dando em uma das maiores degringoladas da História.
[i]) encurtador.com.br/dgxz0
[ii]) encurtador.com.br/bKVZ1
[iii]) https://bityli.com/1zWTk
[iv]) https://bityli.com/So1r8
[v]) https://bityli.com/5Ms55
[vi]) https://bityli.com/Xr219
[vii]) https://bityli.com/N3Joh
[viii]) https://bityli.com/X9lNo
[ix]) https://bityli.com/5gjNn
[x]) https://bityli.com/Z0mqg
[xi]) https://bityli.com/UC0tp
[xii]) https://bityli.com/ht4xN
[xiii]) https://bityli.com/D6aoK
[xiv]) https://bityli.com/3iXYU
[xv]) https://bityli.com/sA0iM
América Latina, Argentina, China vermelha, Cuba, Extrema Esquerda, Lula, URSS, Venezuela