Neste dia 25 de novembro a Igreja celebra a festa de Santa Catarina de Alexandria (287–305). Uma das santas mais populares dos primeiros séculos, recebeu aos 17 anos o dom da sabedoria. Era considerada a mais sábia das jovens do Império Romano.
Numa conferência em 24 de novembro de 1965, Plinio Corrêa de Oliveira lê e comenta um texto do Abbé Daras, em seu livro “Vie des Saints”, sobre a morte da santa:
“Maximiliano, imperador, ordenou a morte de santa Catarina. Foi ela conduzida ao lugar do suplício em meio a uma multidão, sobretudo de mulheres de alta condição, que choravam a sua sorte. A virgem caminhava com grande calma. Antes de morrer, fez a seguinte oração: ‘Senhor Jesus Cristo, meu Deus, eu vos agradeço terdes firmado meus pés sobre o rochedo da fé e terdes dirigido meus passos na via da salvação. Abri agora vossos braços feridos sobre a cruz, para receber minha alma, que eu sacrifico à glória de Vosso Nome. Lembrai-vos, Senhor, que somos feitos de carne e sangue. Perdoai-me as faltas que cometi por ignorância e lavai minha alma no sangue que vou derramar por vós. Não deixeis meu corpo, martirizado por vosso amor, em poder dos que me odeiam. Baixai vosso olhar sobre esse povo e dai-lhe o conhecimento da verdade. Enfim, Senhor, exaltai em vossa infinita misericórdia aqueles que Vos invocarão por meu intermédio, para que Vosso Nome seja para sempre bendito’.
“Em seguida mandou que os soldados cumprissem as ordens, e sua cabeça foi decepada de um só golpe. Era o dia 25 de novembro. Numerosos milagres logo foram constatados. Os anjos, como ela o desejara, transportaram seu corpo para a santa montanha do Sinai, a fim de que repousasse onde Deus escrevera sobre pedra sua Lei, que ela guardava tão fielmente escrita em seu coração”.
“Ela foi conduzida ao lugar do suplício em meio a uma multidão, sobretudo de mulheres de alta condição, que choravam a sua sorte”.
Comentário do Prof. Plinio:
Se os senhores pensarem que são sobretudo as senhoras de alta condição que encabeçam as extravagâncias hoje em dia, vêem como as situações têm mudado. E quanto ainda tem de possibilidades um país onde as senhoras de alta condição acompanham ao lugar do suplício, solidarizando-se com Santa Catarina, chorando junto com ela, uma mártir que foi fulminada pela cólera do imperador. Um imperador onipotente, que pode mandar matar todos aqueles que se desagradarem de alguma atitude dele. Entretanto, essas damas vão junto com a Santa chorando.
O bonito, para verem a diversidade dos dons do Espírito Santo e dos efeitos da graça, é que elas vão chorando. Mas contrasta pela sublimidade com esse dom das lágrimas que as mulheres tiveram naquele momento. O fato de que Santa Catarina não chorava. Ela permanecia quieta e com uma grande calma. Caminhava de encontro à morte inundada de graças do Espírito Santo. Não chorava para si aquilo que a graça queria que as outras chorassem para ela.
Como deve ter sido impressionante esse cortejo de damas, andando, no meio dos soldados, e ela no meio, a única mantendo a calma, a aconselhar a todas que tivessem tranquilidade, que tivessem consolação, até chegar o momento em que ela devia morrer.
A oração que ela faz no fim da vida é muito bonita e tem aquela forma especial de beleza que tem certas coisas muito belas quando não são inteiramente consequentes na sua lógica. São um conjunto de afirmações, como raios de luz que procedem de um mesmo foco, mas que brilham com uma beleza própria no horizonte.
Na oração, a ideia dela é para afirmar o Deus dela e que não reconhecia outro Deus. A primeira coisa que ela diz no momento de morrer, a primeira graça, a primeira palavra, o primeiro pensamento dela é para essa primeira graça:
“Eu vos agradeço terdes firmado meus pés sobre o rochedo da fé e terdes dirigido meus passos na via da salvação”.
Quer dizer, eu vos agradeço por ter pertencido a vós. Vós que sois a fonte de minha salvação, Vós que sois o ponto de partida de todo o bem que pode haver em mim, Vós que, se eu sou boa, é porque Vós sois bom e porque Vós me fizestes ser boa. Eu vos agradeço a fé que me destes e a firmeza que me destes na fé; eu vos agradeço o amor à virtude que me destes e a firmeza que vós me destes no amor à virtude. Isso é o primeiro que vos agradeço, reconhecendo que tudo que em mim há, à vossa iniciativa eu devo.
“Abri agora vossos braços feridos sobre a cruz, para receber minha alma, que eu sacrifico à glória de Vosso Nome”.
Pode haver uma coisa mais bela do que isso? O Divino Crucificado, com os braços sangrando, que os desprende da cruz para receber a alma de Santa Catarina, inundada do sangue do martírio, para ser recebida por Ele. Que maravilhosa intimidade! Que encontro do Mártir dos mártires com uma mártir heroica e grandiosa! Que ideia do sangue dela misturando-se ao Sangue infinitamente precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo! Que noção do Corpo Místico de Cristo há nisso! Que sacratíssima e augustíssima intimidade com Nosso Senhor! Ela tinha de tal maneira a ideia de que a alma dela estava unida a Ele, que a morte selava essa união, que ela pedia que Ele a abraçasse, logo que ela entrasse na eternidade. Que certeza de ir para o Céu!
Depois disse:
“Lembrai-vos, Senhor, que somos feitos de carne e sangue. Perdoai-me as faltas que cometi por ignorância e lavai minha alma no sangue que vou derramar por vós”.
Quer dizer, ela tinha medo de, por ignorância, ter cometido alguma falta: era o que ela tinha para se acusar. Então, lavai a minha alma no vosso Sangue. Antes de ir para o Céu, antes de derramar o meu sangue por vós, eu quero que vós laveis a minha alma no vosso Sangue.
Depois outro pensamento dela: depois de ter pensado em sua alma — pede que seja recebida por Nosso Senhor, que seja lavada das faltas que tenha —, pensa no corpo dela. Então pede que o corpo dela não seja deixado em mãos dos inimigos dela, daqueles que a odeiam porque odeiam a Ele.
Vejam que respeito pelo corpo próprio! Que respeito pela santidade do corpo na realização da virtude! Que atendimento magnífico dessa oração! Foi só ela morrer, que os anjos vieram e levaram o seu corpo. Para onde? Para a montanha mais augusta que há na Terra, depois do Gólgota, depois do monte Calvário, que é o Sinai, aonde a Lei de Deus foi dada aos homens [iluminura ao lado]. A coisa mais bela do Sinai é, certamente, a Lei de Deus, e para ali seu corpo foi levado. Até hoje o corpo dela está lá, e há um mosteiro de monjas contemplativas, no Sinai, que guardam esse corpo, e que meditam sobre a Lei de Deus que ali foi concedida aos homens.
Ela ainda afirma na oração:
“Baixai vosso olhar sobre esse povo e dai-lhe o conhecimento da verdade. Enfim, Senhor, exaltai em vossa infinita misericórdia aqueles que Vos invocarão por meu intermédio, para que Vosso Nome seja para sempre bendito’.
Ela pede desde já a Deus que atenda a todo mundo que por meio dela pedir alguma coisa.
A calma e a resolução da santa! Feita a oração, nenhum tremor, nenhum desejo de contemporizar um pouco. Também nenhuma precipitação de quem tem medo de enfrentar a morte correndo em direção a ela. Não, ela diz tudo quanto tem que dizer. E terminado isso, ela se entrega às mãos de Deus. Os soldados a matam e a oração dela é atendida.
“Era o dia 25 de novembro. Numerosos milagres logo foram constatados”
Fala dos anjos que foram lá. E assim nós temos as considerações dessa grande santa, mártir, para algum efeito de caráter espiritual em nós.
Qual é o efeito que devemos pedir? Devemos pedir a ela que se na luta ideológica contra o comunismo, contra outros adversários da Igreja, tivermos que sofrer riscos, ou talvez perder a vida, tenhamos aquela serenidade perante a morte que só a graça concede.
Porque perante a morte só há duas espécies de pessoas serenas: o cretino ou o homem movido pela graça de Deus. A morte é uma coisa tão tremenda — a separação entre a alma e o corpo, a liquidação do ser, o aparente afundar no nada —, que só se compreende na serenidade diante da morte ou do cretino, que está cronicamente habituado a não medir a importância do que lhe vai acontecer, ou então do homem que está dominado pela graça.
Vamos pedir, pois, que em todas as ocasiões da vida, tenhamos essa calma diante do risco; e calma que seja levada até o sacrifício extremo, caso essa seja a vontade de Nossa Senhora.