Neste ano se comemora o IX centenário da aprovação da Ordem de Malta ou Cavaleiros Hospitalários (oficialmente Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta), pelo Papa Pascoal II, a 15 de fevereiro de 1113.
A tal propósito, no último dia 22 de junho, o Papa Francisco recebeu em audiência Frei Matthew Festing, Grão Mestre da Ordem de Malta. Acima, Capítulo geral dos Cavaleiros daquela Ordem, convocado em Rodes pelo Grão Mestre Fabrizzio Caretto, a fim de obter subsídios para resistir ao ataque do sultão otomano Solimão I, em 1514 (Castelo de Versailles, Sala das Cruzadas, pintura de Claude Jacquand, 1839).
Publicamos abaixo comentários de Plinio Corrêa de Oliveira sobre o quadro acima.
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Capítulo geral da Ordem de São João em Rhodes: teoria aplicada do mando de uma ordem militar e sacral
Plinio Corrêa de Oliveira
(Conferência, 27 de setembro de 1967)
A cena que os Srs. estão vendo representa o Capítulo geral da Ordem de São João, em Rhodes, convocada pelo Grão Mestre Fabrizio del Carretto, em 1514.
Como os Srs. sabem a Ordem de São João é a Ordem de Malta e aqui os Srs. estão vendo que é uma Ordem religiosa.
Isto, provavelmente, é uma pintura do século XIX representando o fato. E, embora o acontecimento histórico se tivesse passado em 1514, a pintura feita no século passado situa a cena num ambiente medieval, o que se compreende por todas as razões. É que a Ordem de Malta é uma instituição medieval que conservou quadros medievais, estilos medievais muito depois de terminada a Idade Média. De maneira que se entende isto.
E, contra uma corrente modernista que acha que as reconstituições medievais do século passado são péssimas, eu acho que as reconstituições medievais do século XIX, para pegar o espírito da Idade Media, são simplesmente estupendas e, até mais: elas às vezes pegam melhor o espírito da Idade Média do que as próprias coisas medievais. Porque, freqüentemente, fora do contexto e com o recuo do tempo, se pega melhor o que a época tem do que quando se está vivendo dentro dela.
É um pouquinho o que se dá quando se olha uma sala a partir de um jardim. Várias vezes eu tenho feito a experiência aqui. Se os Srs. quiserem saber como a nossa Sede(*) é bonita, vão para o jardim e olhem a Sede – com a sede da Rua Tomé de Souza [em Belo Horizonte] eu já fiz essa experiência também – olhem a Sede de fora para dentro e os Srs. percebem fora dela, a beleza que ela tem melhor do que estando dentro. Então os Srs. vejam, são pintores da época moderna, do século XIX, que, com o recuo de 400, 500, 600 anos, pegam melhor a beleza da Idade Média do que os próprios medievais.
Aqui os Srs. têm o espírito do que deveria ser a Ordem de Malta perfeitamente bem apanhado, do que ela teve difuso ao longo de sua historia, o espírito da instituição representado num quadro simbólico.
Este quadro representa o Grão Mestre cercado de seus conselheiros num Capítulo Geral, traçando planos. E o que ele tem na mão é o mapa de uma fortaleza. É evidente que ele está deliberando a respeito de planos de guerra, de outras coisas, dentro de seu Capítulo Geral, que é seu grande Estado Maior, seu Concílio.
Os Srs. têm toda a composição que deve ser analisada e, antes de tudo, o cenário. O cenário representa uma sala que, pela configuração, parece ser uma sala de porão. As ogivas estão um pouco achatadas, nitidamente com sabor românico, mais ou menos de transição e um pouco baixas, o que se dá freqüentemente nas salas inferiores e de porão.
Entretanto, há uma certa profundidade que o quadro representa bem. Os Srs. têm aí uma série de pilastras, arcadas, essas arcadas já são ogivais e, no fundo, se distingue uma ogiva no esfumaçado da coisa, na falta de luz natural, — os Srs. estão vendo que a luz vem toda da frente, no ambiente do fundo não há luz natural — um como que nicho, uma janela transformada em nicho, em que vagamente se esboça um santo, que é o fundo de todas as deliberações.
Vê-se aí o primado da idéia religiosa expressa em três símbolos que foram colocados mais ou menos em linha reta; a Cruz, que é indispensável para marcar o ambiente — uma Cruz varonil, sem florões nem nada, a Cruz da dor, sem enfeites, sem prataria, a Cruz bruta que pesa mesmo nos ombros, que é a Cruz do guerreiro. Depois a Cruz se repete no peito do Grão Mestre. O Grão Mestre é a figura central e no peito dele está, enorme, uma Cruz. E, no fundo, uma imagem. Os Srs. estão vendo que estão em linha reta, formam um só eixo – alturas diversas de um mesmo eixo, que é o eixo central do quadro. E com isto, muito discretamente, o pintor, ao qual evidentemente não faltou inteligência, colocou esses símbolos no centro.
Os Srs. me dirão: “Mas, Dr. Plinio, ele explicitou isto quando fez ou agiu dirigido por um instinto?” É um problema que está à margem de nosso tema, mas eu creio que se agiu por um instinto ele o tinha muito fino, muito bem apanhado. Só há, a meu ver, uma coisa fraca: ele deveria ter arranjado um jeito de colocar um discreto emblema religioso aqui. E há um enfeitezinho sem significado definido no gorro do Grão Mestre, que dá uma idéia de puro enfeite e não de símbolo.
O homem não se enfeita com enfeites. Enfeite de varão é símbolo. Este é um problema fundamental, que exatamente nos tempos do Ancien Régime se esqueceu. Homem se enfeita com símbolo, porque a força da alma do varão é tão grande que, ele se enfeitando, — por exemplo, arranjar um topázio porque tem olhos castanhos, ou se tem olhos azuis um anel de ametista, para ficarem vendo que os olhos dele são da cor do anel, — daria vontade de meter um pontapé e jogá-lo na lata de lixo!
Agora, um símbolo não. Eu tenho alma e minha alma tem um sentido. Eu tenho uma missão e minha missão tem um sentido. Então, o meu símbolo é o adorno que realça em mim a expressão de minha missão, que dá em mim o significado do que eu sou, que exprime a beleza de minha alma e não do meu corpo. E com isto, este símbolo eu uso — isso é adorno de homem. Os Srs. peguem todo adorno da Idade Média não decadente: é símbolo.
Isto se vê com uma beleza muito bonita na maneira como a Igreja compõe a fácies de seus dignitários. Por exemplo, o Cardeal Merry del Val: não há o que não seja símbolo nele. Ele é um símbolo e tudo quanto ele traz, púrpura, anel, alva, etc, são símbolos. É um homem revestido de símbolos. É um lindo homem revestido de lindos símbolos, que espelham a beleza de sua missão. Aqui está a coisa como deve ser, e que é bonita!
Bem, enfim, essa teoria do adorno é uma coisa que fica à margem.
(Pergunta: Não existe, nestas representações medievais, um certo fundo meio romântico?)
Existe, mas aí entra todo o problema do romantismo. É que o romantismo de algum modo exprimia, com certa hipertrofia, sentimentos; alguns veios do romantismo exprimiam sentimentos bons com uma certa hipertrofia do sentimento. De maneira que, para nós que ignoramos tudo do caso, e que temos mais facilidade em conhecer as doutrinas de uma época do que os sentimentos de uma época, as coisas do romantismo, exageradas em si, entretanto têm a vantagem de nos tornar muito sensível a época representada.
(Pergunta: Mas sempre fica uma certa névoa, não?)
Isto é indiscutível. Aqui, por exemplo, é claro que nenhum Capítulo, a não ser em raras ocasiões da Historia, teve essa beleza pictórica. E que aí há uma plenitude de sentimentos em cada um que o homem não alcança, que um grande grupo de homens não alcança. Por exemplo, ninguém aqui está com aridez, ninguém aqui está distraído, todo mundo está num uníssono com o Grão Mestre que é uma beleza de expressão de unidade religiosa, mas que assim não se alcança. Onde estava Santa Terezinha do Menino Jesus por aí, dormindo de tédio, como ela dormia durante o Ofício?
(Pergunta: não há algo meio etéreo nesse quadro?).
Tem, o meio ideal! Mas a questão é que eu justifico a existência de quadros assim, desde que a pessoa compreenda que isto é etéreo. Porque uma certa imagem do etéreo serve para compreender melhor o fundo da realidade das coisas.
Continuamos? Os Srs. têm, colocado bem no centro do quadro, uma idéia de uma ordem religiosa que está toda ela colaborando para uma finalidade altamente sapiencial.
O quadro nos dá uma idéia de sapiencialidade em tudo. O ambiente é sapiencial, recolhido, sábio, um ambiente feito para que os mais altos princípios sejam conhecidos e tomados na devida consideração. Para facilitar uma posição ogival da alma, em que todos os aspectos da realidade e da alma confluem para um mesmo ponto central. E por isto, há um ambiente de grande recolhimento e de uníssono total.
O Grão Mestre dá a diretriz — daqui a pouco vamos comentar a pessoa do Grão Mestre — e essa diretriz é recebida a seu modo por cada um, inclusive por este — que você acentuou muito bem, é muito objetante (o que está sentado, à esquerda de quem olha, com um cavanhaque e que está analisando uma folha grande, n.d.c.). Objetante por natureza, mas não é um homem que está no momento fazendo fronda.
E aqui está colocado em plena luz, no centro, o Grão Mestre. A luz bate nele e é um símbolo muito bonito de mediação que esse pintor encontrou — tudo isso eu não sei se ele intuiu, se teve na mente, mas a intuição artística é cheia de coisas implícitas que carregam isso. Notem que a luz bate nele e é a partir do ponto onde ele está que ela se refrata em graus desiguais para o resto. Mais ainda, tem-se a impressão de que — da couraça dele, do branco do arminho dele, das barbas dele, da Cruz dele, do rosto dele — ele é uma espécie de espelho que aumenta a luz que bate nele. E essa luz vagamente insinua — o artista soube fazer a coisa — algo que desce do Céu. Isto não é bem uma inspiração, mas é um auxílio divino, uma graça divina, se os Srs. quiserem, um carisma. A tal ponto que, embora se perceba que a luz venha do lado, bata nele e se reflita em todos os outros, a idéia vaga que fica é de que a luz irradia dele.
(Aparte: o artista fez o próprio personagem mais claro que os outros)
Mais claro que os outros. Ele estudou tudo, com muito jeito, para simbolizar isto. Eu acho que ele tinha um senso simbólico de muito valor.
Os papéis dele e a mesa também são de uma alvura enorme. Ele, os pensamentos dele, o raio de ação dele são mais claros do que todos os outros. Ele tem como que uma certa irradiação divina, um certo carisma que enche o resto da sala de modos diferentes.
Também ele é o homem idealmente posto para representar esse papel. Poucas fisionomias eu imaginaria tão adequadas para isso. Porque ele é, no seu esplendor, o italiano. Pode ter querido representar o francês, mas não é. É no seu esplendor um italiano, do tipo do Mediterrâneo. Notem como ele é: um homem possante, — o corpo dele é um corpão, a cara dele é uma carona, — mas os traços dele, por exemplo, o narigão, os olhos, têm uma harmonia delicada, é incontestável. E há nele todo, no conjunto, um misto de delicadeza e de estabilidade.
Agora, o melhor são os olhos. Olhos grandes, atentos como olho de boi. Olha para ver como é e como não é o negócio: “eu não sei o que dá isto, está compreendendo? Mas é assim”… E depois tem uma espécie de esguelha própria do esperto de grande classe. O esperto de grande classe não tem olho vivo, tem olho morto que, de vez em quando olha, percebe, dá uma “pescada” na realidade e volta para os seus interiores. Pega o negócio e diz: “eu te colhi! agora vou te analisar na minha calma. Quer você se mexa, quer você não se mexa, quer você dê uma cambalhota, quer você não dê, o flash que eu queria colher está colhido, vai ser levado para os meus laboratórios interiores, para te analisar e te julgar”.
Olhem a calma do Grão Mestre, a distância psíquica e o olhar meio obliquo. Ele não está olhando para ninguém, mas ele tem uma difusa desconfiança desse grupo que está aqui. Difusa. É a desconfiança do chefe, que sabe que em qualquer lugar da muralha, de repente, vem o adversário. E que — me perdoem, eu vou dizer isto olhando para cá — em qualquer colaborador, por mais bem amado que seja, de vez em quando o demônio faz um ataque e de vez em quando a muralha cambaleia. Isso é preciso reconhecer.
Então, o carão dele é que está dizendo: “tu quoque? [você também?]… como é isto?” E vê-se que o domínio que ele exerce sobre todo esse pessoal é um domínio feito dessa distância psíquica e desses registros de personalidades diferentes. Ele é um tipo humano esplêndido!
Há uma teoria do mando aqui, e do mando de uma ordem militar e sacral, que é magnífica nesse velho. É ou não é verdade que esse velho é inteiramente um militar? Não tem duvida, pode-se imaginar esse homem combatendo a qualquer hora. Mas não é verdade que se o corpo dele é de militar, a face é de general, o olhar é de um homem de pensamento, um homem de ação, de um diplomata? O que descreve melhor um Grão Mestre da Ordem de Malta senão isto?
Agora o traje: a couraça, colar com insígnia, arminho, que é o [símbolo do] principado, manto, que eu me comprazeria em imaginar de um violeta quase vermelho escuro. O arminho é o [símbolo do] principado. Ele devia usar uma coroa, mas não a usa. O que isto, entretanto, lembra de coroa? Porque isto [o gorro do Grão Mestre?] lembra alguma coisa de coroa, e é aquela toucazinha interna das coroas de príncipe, não de rei, mas de outras exatamente de uma forma muito análoga a esta.
Ele é o príncipe soberano, o Grão Mestre da Ordem de Malta e está com a “coiffure” que lhe convém – ele é um símbolo, o personagem está magnífico. Não sei se está bem objetiva a descrição do personagem ou se querem fazer uma pergunta ou qualquer coisa?
Os Srs. estão vendo que a sala se compõe de três tipos de personagens: há guerreiros, inteiramente armados a la medieval, um pouco esparsos por vários lados da sala. Homens de governo, clérigos e homens de administração, que compõem o conjunto da Ordem de Malta, e que não estão representados em bancadas distintas, mas meio misturados, para dar idéia de conjunto. Vê-se que o Grão Mestre está traçando planos e que o que ele diz está sendo recebido com uma colaboração fantástica por todo mundo.
Vejam esses guerreiros, que estão numa atitude quase de oração. Esses outros estão em profundo recolhimento e são uns velhinhos que estão um pouco babando, e que tem uma sabedoria quintessenciada, foram experimentados em cem coisas e dão um ou outro conselho raro. Eles nem estão conseguindo acompanhar as coisas, mas têm um lugar de honra, porque as honras não se perdem. E eles estão percebendo a linha geral, estão profundamente recolhidos e comovidos. A atitude deles significa: a tradição continua, mais ainda, cresce! Eles estão embevecidos com as decisões do Grão Mestre, que para eles é um menino. Porque esse Grão Mestre tem uns setenta anos, e eles, embora pouco grisalhos, estão com estado de espírito de noventa.
Os Srs. vêem esse que está colaborando com o Grão Mestre. É a “eminence grise”, é o esperto que está vendo alguma coisinha subtil que até o está preocupando um pouco – cara de conselheiro florentino – e está cochichando: “olha tal coisa…” E o Grão Mestre olha para a mesma direção que ele, o que dá exatamente a idéia da consonância dos dois.
Depois, vejam como ele não fala, está se aprontando para falar, está acabando de olhar e já está cutucando para dizer qualquer coisa para o Grão Mestre. Notem bonitas relações entre ele e o Grão Mestre. Ele é um personagem de penumbra, não está nem paramentado nem nada disso. Parece um religioso, porque aqui está uma cruz. Deve ser algum capelão da Ordem. Bem, mas notem de outro lado a intimidade! Como ele está junto do Grão Mestre, e a familiaridade com que ele pega no braço do Grão Mestre. É o conselheiro íntimo, sujeito ao seu senhor, mas tão íntimo que tem com ele uma certa igualdade e, de um certo ponto de vista, uma certa superioridade. Porque ele é um especialista em subtilezas, em velhacarias, assessor de que todo superior precisa. De maneira que aqui está ele.
E aqui os Srs. tem uma outra cara que está como quem está aprendendo, surpresa, muito adulto, muito embevecida. Este quadro podia se chamar, com o aspecto natural da coisa, não sobrenatural, quadro do enlevo.
Outra cara recolhida e como quem diz: “como isto confere com os princípios gerais que eu sempre contemplei e sempre amei.” Aqui é mais comum, mas também muito italiano! A Itália está muito bem representada. Italianos com cara dramática, tipo Gabri, magníficos! E em quantidade!
Um meio decrépito, com seu físico posto numa posição meio aérea que não se sabe bem qual é, teso ainda, e que concorda com tudo, sem saber muito bem do que se trata. Aqui há lucidez, uma semi-lucidez, mas diz: “não, eu topo a parada, porque eu vejo que em dois ou três pontos tudo está bom, e o resto… vou para frente.”
Este, o contrario: um homem, que aliás tem uma caixeta de segredos na mão, – segredos naquele tempo se guardavam assim – com uma cara misteriosa e um ligeiro sorriso. É como se ele dissesse: essa turma toda não sabe, mas tantas coisas que eu tenho à mão, como justificam isso! Como isto está esplêndido! É uma outra forma de assentimento. Este outro literalmente está rezando. Os Srs. estão vendo que inteligência compôs esse quadro.
E, meus caros, me permitam um parêntese. Como é agradável viver quando se entra nessa escola. Não é preciso ligar o rádio [hoje diríamos a televisão] quando se está apreciando esse quadro. Tendo o quadro, se passa uma tarde. Mais ainda, sabem qual é a melhor maneira de desfrutar este quadro? É pôr tudo isto dentro da cabeça e, de vez em quando, encontrar um conhecido dentro do quadro. Na hora em que se está assinando um papel, na hora em que se está passando para atender um telefone, dar uma olhada e consolar-se do corretor horroroso com quem se vai falar, olhando para uma dessas caras. Isto é magnífico! Mas é magnífico! É assim que se vive, entretenimento é isso, a meu ver pelo menos. Uma pessoa que tem esse quadro pode passar horas. Isto alegra a vida de um homem, é fator de bem estar para um homem.
Então, este está literalmente rezando. Isto é uma cara confusa, num fundo confuso, e meio exclamativa: “che bello!” – é meio medíocre. Todos os níveis de pessoas estão misturadas dentro disso.
Aqui um muito devoto, muito bom, um pouco bobão. Mas na hora de lutar [no combate] ele luta mesmo! Ele aqui está muito embevecido e quando chegar a hora de lutar diz: “Tinha aquele plano. Eu agora vou!” É o poder executivo. Por isso, representado com barba mais preta, mais moço, ele é uma espécie de benjamim muito conservado.
(Aparte: está com a espada na mão, não é?).
É verdade, eu não tinha notado. Ele está com a mão na espada. É o estado de espírito dele. Notem o enfeite dele: o enfeite dele prende uma capa, é um enfeite pesadão, como ele é pesadão, ele é feito para esmagar, é tipo calcanhar de Nossa Senhora. Pega a serpente e lhe esmaga os miolos mesmo! É ótimo! É o que é preciso, em última analise, no meio de mil vueltas y vuelteretas, é preciso pegar a serpente e acabar com ela, isto é que é preciso! E é o do que esse homem está cheio. Esse poderia dizer: “Zelo zelatus sum pro Domino Deo exercituum”.
Aqui, este está muito bem apanhado. Porque eu não sei se os Srs. notam que ele faz um pouco o bando à parte: ele tem um papel, tem um talento, ele está um pouco isolado do conjunto e ele está como que conferindo o que o Grão Mestre diz. Ele está formando não um plano de oposição, mas é uma fórmula de colaboração que consiste em dar os contrafortes. Então, é o tipo do objetante com fel: todo esse cabelo dele para trás, com essas entradas grandes e o nariz que pende, uma barbinha que escorre: é fel; na ponta dessa barbinha tem um tantinho de fel… Olhos muito precisos, uma dessas caras que dizem: “Eu não sei por que…” É o jeito dele.
E ele tem um papel que, até certo ponto pode apanhar o Grão Mestre em falso. Ele está conferindo tudo. Mas olhem a calma do Grão Mestre. O Grão Mestre nem te liga, deixa… Não tem medo, mas nenhum! E ele também não está com vontade de derrubar o Grão Mestre, o Grão Mestre toma essa cara de oposicionista e enfeuda-o no seu sistema como sendo um corretivo dele próprio. Está muito bonita essa forma feudal de colaboração.
(Pergunta: Por que ele está sentado?)
Parece exatamente que ele está fazendo um trabalho que é um trabalho de conferir o que o Grão Mestre comenta, ele anota, etc. etc. É a função dele: o Grão Mestre tem um lapso de memória e ele corrige. Ele é o revisor do Grão Mestre. Esta é a posição.
Dá uma rara firmeza de espírito, rara firmeza de espírito. Mas nas vias da santificação a mais perigosa é esta. Eu dou graças a Nossa Senhora por não ter me pedido que andasse nessa via.
Mas esses dois aqui sofrem uma certa influência dele e estão acompanhando muito embevecidos esta história e a atitude dele. É como quem quer ver como é que o Grão Mestre se sai; eles estão testando o Grão Mestre. Agora, o que tem nessa figura de bom é que ele está entusiasmado pelo fato de o Grão Mestre estar acertando. Esse gênero de gente fica horrorosa quando não pode fazer uma objeção. Ele está entusiasmado porque o Grão Mestre está acertando. Caras muito pensativas, muito bem apanhadas na meditação.
Bem, o resto é galeria, não? E os Srs. olhem essas caras… este aqui é cara de galeria, não está entendendo grande coisa, está segurando a lançona dele e está acabado. Ele está cheirando o ambiente e concorda genericamente com o ambiente, mais nada. E mais ou menos as outras caras são assim. Estes são a mesma coisa que esses, mas com certo enlevo.
Numa sala sapiencial um verdadeiro conselho reunido, onde o homem arquitetônico, colocado na posição arquitetônica, diz a palavra arquitetônica. Com a colaboração, depois do reflexo bem distribuído, de tudo o que dizem todos. Todos estão participando de uma mesma sabedoria. Isto é a sala do Conselho recolhida, sapiencial e medieval de uma Ordem de Cavalaria. Eu acho este quadro soberbo!
(*) O Prof. Plinio se refere aqui à então Sede do Conselho Nacional da TFP, na Rua Pará em São Paulo. Ver mais.
Fonte: http://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_SD_27_09_67_Capitulo_Ordem_de_Malta.htm
Um grande sábio que a humanidade, e seu Brasil especialmente, deveria apreciar. Se a cada brasileiro fosse dada a conhecer a sabedoria do Dr. Plinio, este país, e o mundo todo seriam infinitamente melhores e mais felices
O comentário que faço e da pessoa que a fez a conferência. Um homem extradordinário que tenho certeza que se ele estivesse naquele Capítulo teria dado todos os conselhos e soluções que levaria à vitória.