A suntuosidade do Templo

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    Estátua do Rei David (obra de André-Jean Lebrun), venerada na Basílica dos Santos Ambrósio e Carlos Borromeu, na Via del Corso, em Roma. [foto Paulo Roberto Campos]
    Estátua do Rei David (obra de André-Jean Lebrun), venerada na Basílica dos Santos Ambrósio e Carlos Borromeu, na Via del Corso, em Roma. [foto Paulo Roberto Campos]
    O esmero aplicado na construção do Templo de Jerusalém não consistiu apenas no impulso inicial dado pelo Rei David para que a edificação fosse monumental e digna para abrigar a Arca da Aliança. Advertido pelo próprio Deus, ele sabia que a grandiosa empreitada caberia a seu filho Salomão, ao qual, como pai, quis facilitar e incentivar. Soube, todavia, encontrar forças suficientes para reunir a elite e movê-la com vistas àquela edificação, a fim de que o Templo representasse também poder, grandeza e autoridade.

    Este tampouco poderia ser uma simples habitação, pois não se destinaria a abrigar pessoas, mas para cultuar o Senhor Deus dos Exércitos – o Deus vivo, criador de todas as coisas, transcendente, absoluto e perfeitíssimo. Lugar de paz, harmonia e bem-estar. Era, pois, imperativo para David empregar os mais talentosos artistas do reino para manusear o ferro, a prata, o ouro, a madeira, a pedra, o cobre, o bronze, e outros requintados materiais que seriam utilizados para ornar a Casa de Deus.

    O próprio rei deixou soma considerável de recursos acumulados durante toda a sua vida: “cem mil talentos de ouro, um milhão de talentos de prata, além de diferentes vasos de ouro e de prata, de enorme quantidade de cobre, ferro, madeira, mármore e pedras de grande valor”.  E ainda deixou – de seu tesouro particular – “três mil talentos de ouro de Ofir e sete mil talentos de prata para o revestimento das paredes do santuário. Como as necessidades serão grandes e os operários precisarão ter à mão o ouro e a prata exigidos por obras tão numerosas e tão importantes, se alguns dentre vós quiserem concorrer de boa vontade para a edificação da casa de Deus que abra generosamente as mãos e apresentem as dádivas ao Senhor”.

    Nesse dia, as ofertas solicitadas pelo rei somaram o montante de “cinco mil talentos de ouro, dez mil talentos de prata, dezoito mil de cobre e cem mil de ferro, com todas as pedras preciosas que cada qual possuía. Essas ofertas, entradas no tesouro do Templo, foram confiadas à guarda do levita Jeiel. Foram dons espontâneos oferecidos de todo coração a Deus e que provocaram na assembleia uma autêntica vaga de júbilo” (1- Par 29,1-9).

    Cheio de encanto, com a instituição e fundação da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, o Antigo Testamento iluminou o Novo Testamento. Se Nosso Senhor ressalta que não veio destruir a Lei e os profetas, e instituiu a Igreja – fora da qual não há salvação –, é porque Ela deveria superar a lei antiga, até mesmo na edificação de seus templos. É verdade que o requinte e o esplendor de nossas igrejas devem contribuir de modo ponderável para o cumprimento do primeiro e maior de todos os Mandamentos: “Amarás o teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo entendimento”. Esse máximo Mandamento nos leva a praticar este outro: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22, 34-46).

    A melhor maneira de amar o próximo é fazer-lhe benefícios espirituais que o conduzam por sua vez a amar a Deus com todas as veras de sua alma. E para esse fim, nada é tão eficaz como a construção de templos sagrados cujo ambiente propicia a celebração de belas cerimônias religiosas, bem como o ensino da doutrina deixada pelo Divino Mestre. A propósito, comprometo-me com os leitores de voltar ao assunto tão logo me seja possível. Até lá.

    *Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira-RJ

    8 COMENTÁRIOS

    1. Texto maravilhoso! Concordo com os comentários dos srs. acima! Eu sinto tb o mesmo, quando entro em algumas Igrejas aqui no Rio de Janeiro, algumas muito frias e desprovidas de beleza, totalmente diferentes das antigas e belas igrejas construídas em séculos passados!Igrejas essas, que nos fazem chegar ao Céu de tão lindas que são, e que nos dão a sensação de estarmos pertinho de Deus!
      O que dizer da nossa Catedral do Chile? Existe coisa mais fria e feia, apesar do projeto ter sido de um grandioso arquiteto? Mas, como diz o sr. Joel Carvalho, o mais importante é sermos cheios do Espírito Santo, e eu completo dizendo que o verdadeiro templo somos nós!!

    2. Além disso, Joel Carvalho, em vista do que você disse, que não é a beleza que atrai as almas para Deus, faça um teste. Entre em uma dessas igrejas modernas, mas dessas supermodernas, a catedral de Brasília ou a atual catedral do Rio de Janeiro, ou, ainda, a de Maringá. E reze nelas. Depois vá até a catedral de Curitiba, à de São Paulo, à antiga Sé do Rio de Janeiro, e também reze nelas. Veja se sente algo diferente. Veja onde você se sente melhor rezando, se nas primeiras, ou se nas segundas.

    3. “Concordo que templos para adoração a Deus, devem ser feitos com esmero e maior beleza arquitetônica possíveis. Mas, não é a beleza que atrai as almas para Deus. É o Espírito Santo, do qual Jesus Cristo disse no Evangelho de São João Cap. 16 vers. 7-14: “Ele convencerá o homem do pecado, da justiça e do juízo”.
      Se o Espírito Santo não estiver em nosso meio, não adiantam templos suntuosos. Joel Carvalho”
      Olá, Joel.
      Porém, considere o seguinte: Uma coisa não anda bem sem outra, pois segundo São Tomás, “a graça não veio destruir a natureza, mas aperfeiçoá-la”. Dessa maneira, se uma alma é fervorosa, ela tem necessariamente de gostar e promover, na medida de seu possível, o que é melhor ao culto de Deus, pois isto resulta da justiça devida a Deus. Os templos verdadeiramente suntuosos, como Notre Dame de Paris, por exemplo, não o são absolutamente por vaidade ou por um pendor artístico de mero bom gosto, sem alcance mais alto. Não! São-no justamente porque seus inspiradores e construtores tinham fé viva, amor extremado a Deus, e por isso um senso de justiça que já não se vê normalmente hoje. Daí a perfeição nas linhas e em todos os detalhes daquelas catedrais européias, a qual deixa qualquer arquiteto e engenheiro de hoje embasbacado.

    4. Uma pena que esquecera disso!O que vemos hoje. Igrejas e catedrais em forma de figuras geométricas. Conheci uma em forma de uma colmeia em Goiás na cidade de Jataí. Me chamou a atenção foi a forma de um favo de mel. E informando que construção era aquela, fui informado que era a Catedral da Diocese. E a doutrina que ensinam? Pela resposta, não era surpresa a arquitetura apresentada. Na maioria das vezes as Igrejas construídas pelos TL tem forma de galpões operários sem nenhum compromisso com a tradição. Graças a Deus que ainda resta alguns sacerdotes que primam pela vocação a que são chamados.
      Parabéns Padre David. Deus te abençoe.
      Paz e bem. Salve Maria!

    5. @Ênio José Toniolo

      Concordo que templos para adoração a Deus, devem ser feitos com esmero e maior beleza arquitetônica possíveis. Mas, não é a beleza que atrai as almas para Deus. É o Espírito Santo, do qual Jesus Cristo disse no Evangelho de São João Cap. 16 vers. 7-14: “Ele convencerá o homem do pecado, da justiça e do juízo”.
      Se o Espírito Santo não estiver em nosso meio, não adiantam templos suntuosos.

    6. Boa parte das igrejas ditas “modernas” são feiíssimas, com aparência de hangares ou armazéns. Não exprimem louvor a Deus. Não atraem as almas. Pouco ou nada elevam os espíritos. Servem mesmo para quê?

    7. Este artigo do Padre David é tão rico e bem feito como o Templo de Jerusalém. Que bom termos sacerdotes com esse conhecimento e unção.

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