Contemplando maravilhada e desinteressadamente uma catedral gótica, do fundo de nossas almas sobe uma coisa que é luz, super luz.
Mas, ao mesmo tempo, é penumbra ou obscuridade sem ser treva.
É a ideia de todas as catedrais góticas do mundo – as que foram construídas e as que não foram – dando uma ideia de conjunto de Deus que, entretanto, ainda é infinitamente mais do que esse cojunto.
Essa contemplação nos leva para o espírito que inspirou todas essas catedrais.
E aí, realmente, nós vivemos mais no Céu do que na Terra.
Aí o nosso desejo de uma outra vida, de conhecer um Outro – tão interno em mim, que é mais eu do que eu mesmo sou eu, mas tão superior a mim que eu não sou nem sequer um grão de poeira em comparação com Ele –, esse desejo se realiza.
A alma diz: “Ah, eu compreendo, o Céu deve ser assim!”
Por que o Céu?
Porque o homem sabe perfeitamente que um caco de vidro é um caco de vidro. Ele sabe que o sol não é senão o sol.
E que tudo o que existe seria uma ilusão se não fosse a expressão de um Ser infinitamente maior que se oculta aos nossos sentidos, mas que se mostra através desses símbolos.
Que toda essa feeria de belezas que existem, e o número ainda muito maior das que poderiam ter existido seriam absurdos, se esse Ser não existisse oculto atrás das belezas das catedrais e mostrando-se através delas.
Ora, como não é possível que tanta ordem e tanta beleza sejam absurdas, a conclusão é que Deus existe e se manifesta através delas!
No fundo, sem perceber, amando aquele rubi, ou aquele jogo de luz, ou aquele vitral, amando a alma que ama aquele vitral mais do que o vitral ele mesmo, nós amamos ainda mais o puríssimo Espírito eterno e invisível que criou tudo aquilo, e que por meio dessas belezas sublimes nos diz:
“Meu filho, Eu existo. Ame-me e compreenda: isto é semelhante a Mim.
“Mas, sobretudo, por mais belo que isto seja, Eu sou infinitamente dessemelhante disto, por uma forma de beleza tão quintessenciada e superior, que é só quando me vires que verdadeiramente te darás conta do que Eu sou.
“Vem, meu filho, vem que eu te espero!
“Luta por mais algum tempo, que Eu estou me preparando para te mostrar no Céu belezas ainda maiores, na proporção em que for grande e dura a tua luta.
“Espera que, quando estiveres pronto para veres aquilo que Eu tinha intenção de que visses quando Eu te criei, Eu te chamarei.
“Meu filho, sou Eu a tua Catedral!
“A Catedral demasiadamente grande!
“A Catedral demasiadamente bela!
“A Catedral que fez florescer nos lábios da Virgem um sorriso como nenhuma joia fez florescer, nenhuma rosa, e nem sequer nenhuma das meras criaturas que Ela conheceu.”
Essa Catedral é Nosso Senhor Jesus Cristo.
É o Coração de Jesus, que tirou do Coração de Maria harmonias como ninguém tirou. Ali, tu o conhecerás.
Ele disse de Si: “Serei Eu mesmo a vossa recompensa demasiadamente grande.”
E quando a gente vê monumentos desses, a gente tem uma sensação do demasiadamente grande.
Mas de um demasiadamente delicioso que não tem proporção conosco, mas para o qual nós voamos.
É a esperança do Céu.
(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, excertos de conferência proferida em 13/10/79. Sem revisão do autor).
As catedrais são realmente a herança da cristandade medieval, da sacralidade da Igreja. Comtemplar seus vitrais é aproximar-se de Deus em certa medida. Atitude contrária aos tempos modernos de agitação e de culto as coisas feias… Muito bom o artigo!