O último olhar de Jesus

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PRC_Cristo-Flagelado-4Tarefa difícil, para não dizer impossível, escrever um artigo nas proporções costumeiras sobre a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Acontecimento trágico e grandioso, pois crime maior não há que matar o próprio Deus que se encarnou para que os homens pudessem ser salvos.

A natureza inteira se reveste de luto e de tristeza, o sol se vela e o céu fica envolto em trevas. O bom ladrão – depois de sua confissão piedosa e sincera – é contemplado com o Paraíso, tornando-se um exemplo vivo para todos da bondade, da misericórdia, do perdão e da clemência do Filho de Deus.

Aos pés da Cruz, Maria permanecia de pé ao lado de João, o discípulo amado. Havia ao redor outras testemunhas daquela divina imolação. Coube a São João escrever muitos detalhes do que ali se passou naqueles derradeiros momentos de Cristo que vieram a se somar ao que os outros evangelistas não disseram.

Já na Cruz, Jesus chama a sua Mãe. E, como vencedor, lhe tributa honras de amor filial. Ao perdoar e ao mesmo tempo prometer os frutos da Paixão ao bom ladrão – símbolo de todos os homens –, demonstra afeição, carinho, desvelo e compaixão ainda maiores a Maria.

Fê-lo com palavras divinas, chamando-A doce e amorosamente de mulher; e, apontando para João, disse: “Eis aí o teu filho”. Em seguida, voltando-se para João, lhe dá o maior prêmio da terra: “Eis aí a tua Mãe”. Cristo selava seu testamento do alto da Cruz ao repartir entre mãe e filho os deveres de Seu carinho.

Ele deixava uma herança não de dinheiro nem de bens temporais, mas de vida eterna. Herança não lavrada em cartório de ofício, mas estabelecida de viva voz pelo Homem-Deus diante de todos, selando, na pessoa de João, a filiação materna da humanidade inteira a Maria Santíssima.

Sem deixar de ser a Mãe de Cristo, o Senhor de todas as coisas A torna também mãe de todos nós, porque Ela estava de pé, junto à Cruz, fixando com os seus maternais olhos o Filho todo chagado, depauperado, desfigurado física e moralmente. Ela apenas esperava a Sua morte para que se consumasse a salvação do mundo.

Compartilhando com Ele a dor, o sofrimento, a tristeza e a desolação, Maria contribuiu também para a nossa eterna salvação, tornando-se corredentora do gênero humano. Ela, que O trouxe ao mundo por obra do Espírito Santo, está também aos Seus pés junto à Cruz para assim também nos salvar.

A cruz na qual Cristo se encontrava havia se tornado a mais elevada cátedra de todos os tempos a ensinar o afeto e o amor que devemos ter em relação às nossas mães. O carinho com que Ele tratava a Sua Mãe por ter dado a Ele o corpo humano ensina-nos que mesmo em meio às piores dores, seu último olhar foi de gratidão e de amor para com a sua Mãe.

Um texto de Jeremias profeta ilustra bem a situação. Com efeito, não há dor maior para a mãe do que ver seu filho sofrer e morrer. Maria, que não gerou outro filho senão Jesus, em meio às desolações, tristezas e luto, tornou-se nossa mãe. E Ela tem este papel que não se pode esquecer, porque não tendo Maria por mãe, não teremos Deus por pai.

Pe. David Francisquini é sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira-RJ

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