Kevin Lau, ex-redator chefe do jornal Ming Paode Hong Kong, foi apunhalado pouco depois de ser expulso do jornal, noticiou o site“20minutes.fr”.
O método é bem conhecido nessa cidade onde ainda vigoram certas formalidades legais: o dissidente morre ou sofre um atentado dissuasório com aparências de crime comum.
No continente o procedimento é menos rebuscado: o dissidente é pego sem aviso prévio pela polícia socialista e “desaparece”.
Cabe aos parentes e amigos descobrir se foi parar a algum campo de concentração, a um “cárcere negro”, ou … recuperar seus restos.
O atentado contra Kevin Lau levou milhares de pessoas às ruas de Hong Kong pedindo garantias para a liberdade de informação e de expressão.
As autoridades socialistas repetem que essas liberdades têm plena vigência na cidade, mas os cidadãos sabem reconhecer os palavreados ocos e insinceros.
A mídia de Hong Kong e os cidadãos que querem ordem, liberdades fundamentais e democracia têm agora mais razoes para temer que o contrário esteja se intensificando.
Segundo os cálculos da polícia ou as estimativas dos organizadores, entre 8.600 e 13.000 pessoas vestidas de luto desfilaram no centro dessa urbe financeira, em 2 de março (2014).
Em clara referência às autoridades comunistas de Pequim, Sham Yee-lan, presidente da Associação dos Jornalistas de Hong Kong, declarou:
“Nós advertimos às potências maléficas que seu punhal não nos causa medo”.
Sham Yee-lan falou na manifestação diante da sede do governo da cidade que usufrui de um estatuto legal peculiar de transição rumo à inclusão plena na China comunista.
Os manifestantes marcharam até o quartel geral da polícia para entregar um abaixo assinado de 30.000 pessoas exigindo o pleno esclarecimento da agressão a Kevin Lau.
O jornalista ferido escapou da morte e enviou uma mensagem para a manifestação:
“a violência visa nos aterrorizar. Se nós cedemos diante do medo, perderemos a liberdade”, disse.
Nenhuma medida policial foi tomada. A polícia socialista pretextou se tratar de um problema ligado às máfias chinesas.
Kevin Lau foi demitido em janeiro do Ming Pao, sendo substituído por uma personalidade pro-Pequim.
A troca foi vista como mais um passo para afogar esse jornal de tendência liberal, bem considerado pelas suas enquetes e análises.
Um dos “crimes” decisivos de Lau foi escrever sobre a morte do dissidente chinês Li Wangyang.
O jornal também é “réu” de acolher em suas páginas o debate sobre o futuro de Hong Kong que risca cair definitivamente sob o taco de ferro de Pequim.
De fato, Hong Kong conserva ainda o estatuto de região administrativa especial que concede uma larga autonomia segundo o modelo “um país, dois sistemas”.
Meu blog “Pesadelo Chinês” ainda pode ser acessado desde essa cidade, porém está censurado em todo o continente.
Porém, as liberdades que ainda sobrevivem estão sendo cerceadas. O processo que deve concluir com o controle total de Pequim progride lenta mas assustadoramente.
De ali os justificados medos dos habitantes da cidade cada vez que ouvem falar de esfaqueamentos e outros atentados contra figuras não alinhadas com o comunismo.
A China comunista prometeu instalar o sufrágio universal direto do chefe do Poder Executivo até 2017 e do Parlamento até 2020.
Mas os democratas têm razoes demais para duvidar dessas promessas. As datas, aliás, vêm sendo adiadas regularmente.