Corria o ano de 1975, e a Revolução dos Cravos prosperava em Portugal. Um líder revolucionário, cujo nome não anotei, usou uma comparação curiosa: o processo revolucionário é como uma bicicleta: se anda devagar, ele se desequilibra, e se pára, cai.
Contei esta frase a Dr. Plinio que sempre ensinou sobre a importância das velocidades na condução de um processo1 revolucionário. Ele a considerou verdadeira, e a comparação com a bicicleta digna de constar em seu profético livro Revolução e Contra-Revolução.
É isto, pensei! Se não podemos derrubar a Revolução a curto prazo, façamos ao menos que se diminua sua velocidade, para que assim ela se desequilibre e caia.
Foi o que fizeram, por exemplo, rapazes e moças que escolheram não ter relacionamento sexual antes do casamento. No Brasil, eles constituem o movimento chamado Eu Escolhi Esperar. É um movimento bem-sucedido porque, “contando seu público na internet, eles já seriam dois milhões de não praticantes — de 18 a 30 anos, a maioria, mulheres”.2
Trata-se de uma tendência que se estende por vários países. Mas há outros fatos que desequilibram a Revolução, embora aparentemente a agravem. É o caso do assassinato de cristãos nos dias atuais em países como a Nigéria, o Iraque, a China e vários outros; esses martírios, se livremente aceitos, têm um valor imenso aos olhos de Deus. E se têm valor aos olhos de Deus, está tudo dito. O sangue dos mártires é semente de novos cristãos, dizia Tertuliano.
Em Mossul (Iraque), as casas dos cristãos foram marcados com um N, que significa Nassarah ou Nazareno, “um pouco como as casas dos judeus eram emporcalhadas por Hitler”, comenta Gilles Lapouge.3
Também diminuem a velocidade da Revolução as campanhas incruentas que muitos filhos da Igreja fazem, um pouco por toda parte, contra o aborto, o homossexualismo, o “casamento” homossexual, a “teoria do gênero” etc. Contra o igualitarismo, o socialismo, e contra toda terceira força em geral.
Plinio Corrêa de Oliveira afirma na obra acima citada que o orgulho e a sensualidade são as forças propulsoras da Revolução. Assim sendo, conclui-se que a luta contra estas más tendências desequilibra a máquina revolucionária.
O articulista Rui Castro pergunta: “A continuar assim, onde vamos parar? Se a virgindade e a missa em latim estão de novo na praça, logo teremos a volta do vestido saco, das saias com anáguas. Pelo visto, nós, os garotos de 1968, que pensávamos ter derrubado essas instituições, derramamos o nosso sangue, suor, em vão”. O título do artigo é exatamente ‘Em vão”, e portanto contem o reconhecimento de uma vitória da Contra-Revolução.
A diminuição da velocidade revolucionária é, pois, sintoma de sua decadência? A longo prazo, isso leva à sua deterioração? É mesmo – voltando ao tema – como a velocidade de uma bicicleta? Quem viver, verá. O que é certo é que, em Fátima, Nossa Senhora prometeu que por fim o Imaculado Coração dEla triunfará.
1 – Processo: o caminhar da revolução não se faz por fatos espetaculares e isolados, como ensina Plinio Corrêa de Oliveira em sua obra “Revolução e Contra-Revolução”, mas através de um longo sistema de causas e efeitos, articulados entre si (I, 2, 5).
2 -Folha de S. Paulo, 4 de agosto de 2014. Ruy Castro, artigo intitulado “Em vão”.
3 – OESP, 24-7-2014.
Espetacular! Um rasgo de esperança para os cristãos e a Igreja. Que voltem a virgindade com todo o seu valor e que a família seja o baluarte da sociedade. Espero que se confirme o declínio da força desses movimentos desagregadores e acabem caindo da byke.
Eu completei 18 anos em 1965. Nunca quis derrubar nada, preferi ser aquela velha opinião formada sobre tudo que é imutável e aguardar com tranquilidade a metamorfose das coisas mutáveis. Quando encontro algum desses velhos contemporâneos ou contemporâneas só posso mencionar-lhes o “Soneto Póstumo”, de Mário Quintana. Com o detalhe que sou o mesmo para mim mesmo, em Cristo e Maria.