A caça ao odiento polarizador nos Estados Unidos

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Gráfico demonstra a polarização ocorrida dentro dos partidos Democrata e Republicano
Gráfico demonstra a polarização ocorrida dentro dos partidos Democrata e Republicano

Vai mar alto o ataque tendencioso à polarização nos Estados Unidos. Não só lá, aliás. Polarização virou palavra-talismã, carregada de radiação; ardilosamente utilizada, bomba atômica para eliminar o adversário, chicoteado como odiento polarizador. Meu foco, as tensões autênticas, vivas rejeições à decadência, tantas vezes no noticiário qualificadas com isenção aparente de polarizadoras. Posições assim, bem administradas, inibem a fragmentação, estimulam restaurações e atiçam os Estados Unidos no rumo direito. Friso o perigo: tem um montão de investidas contra a polarização, cujo resultado é abrir o estradão para políticas girondinas debilitadoras da reatividade; mais ainda, favorecem a disseminação da mentalidade girondina. A análise de A a Z do fenômeno é meio eficaz, à mão, para arrancar a espoleta da bomba e preservar a sanidade da opinião pública. Desço a boa parte dos fatores geradores de tensão. Vou empilhá-los. Arrastando para um polo estão os liberals e assemelhados, aqui se junta o rebanho de mentalidade libertária e esquerdista. Via geral é chegado no inchamento do Estado, tem xodó por medidas protecionistas, simpatiza com o cerceamento da concorrência, a taxação alta e niveladora, embirra com a livre iniciativa, o big business e o corporate world; em sentido contrário, gosta das leis atravancadoras promulgadas para confessadamente proteger o meio ambiente; na linha, zabumba fracassos do mercado e os quer compensados pelo agigantamento estatal na economia. Em outra faixa, costuma apoiar a liberalização do aborto e as práticas homossexuais, e igual, afinado, as políticas de gênero. A mais, de viés ateu, trabalha obstinado pela expansão do secularismo. Um fio liga tais posições: empurram para baixo e fragmentam os Estados Unidos. Puxando para o polo contrário, está o blocão conservador. Defende a vida humana desde a concepção, põe lá em cima a família, as posições for mom and apple pie, segue a work ethics, tem olho feio no bedelho do Estado na vida deles; na economia, gosta da desregulamentação e privatização. Ainda tem coisa: espia com simpatia o mundo das empresas, fica chateado com impostos além da conta, é a favor de orçamento militar robusto e disciplina fiscal; costuma apoiar a atuação dos Estados Unidos no mundo. De resto, distante do ateísmo, vê necessário o recurso a Deus e sua presença na vida pública e privada. Numa só frase, quer de todo jeito os Estados Unidos nação de ponta.

Vou mais fundo: a matéria mais delicada nem é a polarização, é a cristalização (ou a falta dela); vem antes. A cristalização, fenômeno de montante, conforma a polarização, fenômeno de jusante. O que é cristalização aqui? Cristalizar é (re)agir escorado em princípios e não só por hábito; em particular, no caso, mergulhar as raízes dos bons costumes até as embeber em princípios. Aí, no hábito se enxerta a convicção doutrinária, o que o enrijece. Com isso, a resistência do hábito ao ambiente dissolvente, já saudável, deixa o estado gelatinoso; cristaliza. Realço, cristalizar é construção gigante, começa lá na modelagem infantil, vara a vida toda; no exato, tem ponto de partida antes do nascimento, com a formação dos pais e professores. No inverso, aspecto esquecido e tantas vezes determinante da vida de pessoas e povos: depois de períodos de tensões fortes, sucede às vezes a calmaria com despreocupação generalizada; e daí a desmobilização dos espíritos. Nesse clima se dá com frequência a interrupção do processo de cristalização e pencas de hábitos bons se esvaem gradualmente; é desmoronamento paulatino, quase indolor, o mais das vezes.

Fenômenos de desmoronamento em parte decorrência da polarização manipulada já aconteceram, sua recordação serve de alerta pedagógico. Entre outros, ao longo dos séculos 19 e 20 atrapalhação sem fim carunchou a Espanha e teve efeitos arrasadores. Ali, o ataque preconceituoso à polarização, mais que nos Estados Unidos, foi arma de descrédito nacional e de demolição contra faixas conservadoras e até tradicionalistas. Por largos períodos a nação respirou um clima político corrosivo, fato tendenciosamente atribuído ao choque destruidor de las dos Españas. As guerras carlistas, três num século, 1833-1840, 1846-1849, 1872-1876 dessangraram a nação; parte enorme do sangue melhor foi sugado pela terra. Estourou a revolução republicana de 1868 e veio o deus nos acuda do sexênio revolucionário, 1868-1874. E então os desgastantes choques na época da dinastia de Saboia, 1870-1873, um emplastro que não curava nada. A 1ª República, 1873-1874, piorou a paralisação no governo e se alastrou que nem tiririca a impressão de que a urucubaca espanhola ia acabar nunca. Já em meados do século 19, a Espanha atordoada cambaleava exausta, triste España, unilateralmente estigmatizada de “nação moribunda” por corifeus da política e do jornalismo. Mais tarde, a república anticlerical de 1931 e a guerra intestina de 1936-1939 com sofrimentos e sequelas pavorosas. Veio a ânsia de nunca mais repetir o horror. E, bola de neve engrossando, setores nacionais importantes acharam que o país daquele jeito era inviável. Ou rejeitava princípios e condutas apontados em estridentes acusatórios facciosos como polarizadores, causa do entalo, ou ia remanescer sempre las dos Españas em autodestruição sem fim. Em parte pelos prolongados efeitos deletérios desse clima envenenado, a acomodação à modernidade revolucionária lá desemboca agora em maçaroca morna de relativismo, agnosticismo e costumes libertários. Ali boiam nacos do que outrora foi realidade generalizada, em que borbulhava religiosidade intensa, quase toda evaporada. Em perspectiva histórica mais esticada, o que restou do império de Carlos V em que o sol não se punha? Coisa parecida penou a Áustria, atacada como anacrônica e atravancante do progresso; antes cabeça, depois rabo. Após a 1ª Guerra Mundial virou republicano-socialista e miúda de importância. Todas as três, Estados Unidos, Espanha, e Áustria, potências conservadoras. Por processos de fundo parecido, os Estados Unidos, os anos voando, se não abrirem o olho, podem terminar nação esfarinhada; à vera, caudatária.

Um jeito de evitar desastres é começar por examinar na lupa as chefias do blocão conservador. Muita cristalização errada (origem de polarizações perigosas) vem de pregações furadas de mandachuvas contrafativos. São que nem gangrena, apodrecem a reatividade sadia, às vezes a desmoralizam; no avesso, dirigentes com ideias direitas energizam a reatividade no rumo certo. Fora os sintomas manjados positivos, feito líderes motivadores e de resultados, temos testes bons para julgar a sanidade de tais equipes dirigentes. Preliminar, olho no programa. Indícios de programa bom, encarece a pessoa, estimula seu desenvolvimento, de preferência às estruturas, acento na proteção à família; ampla difusão da propriedade. No mais, afinado com o princípio de subsidiariedade, fomento aos grupos sociais intermediários. E assim tem o Estado como ferramenta da sociedade. Coerente, espera mais da ação na sociedade que no Estado; este, contudo, valorizado com equilíbrio em sua indispensável e benéfica função supletiva de reparar, preparar e dinamizar. Sob o guarda-chuva do Estado parceiro, planos de assistência estatal para todos os desvalidos em qualquer proporção e condição, sim, os mais amplos possíveis, aqui de modo particular generosos e judiciosos programas de transferência de renda; entanto, que tais iniciativas, sem viés estatizante, alentem a autonomia pessoal, coarctando a dependência e o conformismo. Quanto à questão ambiental, sob a égide da qualidade de vida e do incentivo à economia, proteção efetiva à natureza. Tantos outros objetivos a examinar com os mesmos critérios, resumidos, sob um prisma, em sensibilidade social e estímulo à garra empresarial. Lideranças deste naipe açulam a reatividade boa.

Contrafativo vem de contrafação, parecendo, não é; não parecendo, é; casca brilhosa, miolo bichado. Significa impostura, caricatura, fraude. Caciques assim favorecem a cristalização das posições de seus adeptos em alicerces esburacados. São cúpulas deterioradas, pipocam daqui e dacolá. Também existem testes para constatar chefias bichadas. Tiro os critérios batidos, feito falta de norte e pregação desanimadora. Se o líder der positivo nesse outro tipo de teste, dos quais falo agora, luz vermelha. No que difunde, acento, claro, nos programas, mas até por gestos e atitudes, o dirigente contrafativo soca a estrutura antes da pessoa; e então, o Estado antes do indivíduo e da sociedade (Mussolini assim sintetizou a posição: Tutto nello Stato, niente al di fuori dello Stato, nulla contro lo Stato). Congruente, faz pouco-caso das sociedades intermediárias, modo especial, a família. Subestima questões doutrinárias e morais. Sua ação, tantas vezes pontuada de omissões escandalosas e reações com frequência desproporcionais, com o tempo, amolece a reatividade e em geral acaba por desmoralizá-la. Napoleão, o referido Mussolini e comandantes parelhos foram dirigentes contrafativos; macaqueação do que um bocado de ingênuos via neles e, então, trotava atrás. Porta arrombada, tranca de ferro.

1 COMENTÁRIO

  1. Os Estados Unidos, o modelo de sociedade que esta dando certo, e por conta disto, serve de “farol’ para o resto do mundo, está sofrendo os efeitos corrosivos do ataque das ideias socialista, a sedução da igualdade, está cada vez mais conquistando adeptos naquele pais, o fenômeno é mundial, afetando muitas nações como Brasil, Venezuela, Argentina e agora chegando a maior economia do mundo.
    Propostas prometendo uma “melhor distribuição da renda dos outros” sempre vão conquistar seguidores, afinal “as portas do céu
    são estreitas e de difícil acesso, mas as portas do inferno são amplas
    arejadas e de facilmente visíveis”

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