Novos governantes: critérios para uma análise

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Outubro, mês de eleições. Escrevemos sem conhecer ainda o resultado final das urnas. A ocasião é altamente propícia para estabelecer critérios segundo os quais acompanhar — aprovando ou combatendo — a trajetória daqueles que nos governarão nos próximos quatro anos.

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Comecemos por lembrar as imensas manifestações ocorridas em junho de 2013. Elas transbordaram para o mês seguinte e foram analisadas com cuidado e pormenor no dossiê publicado neste site em agosto/2013.

Bem ponderadas, tais manifestações nos fornecem bases suficientes para o acompanhamento do que farão ou deixarão de fazer nossos novos governantes.

A nota tônica delas, como tivemos oportunidade de salientar na ocasião, consistiu num imenso descontentamento em relação aos rumos pelos quais o Brasil estava sendo conduzido por seus dirigentes.

“Os mais de 10 anos de governo do PT, com sua tendência estatizante e seu aparelhamento do Estado, agravaram enormemente o descontentamento no País”, dizíamos na ocasião.

Exemplos de reivindicações justas

A solução de bom senso, para apaziguar o crescente e protuberante descontentamento expresso naquelas manifestações, seria atender os reclamos profundos que nele emergiram:

— menos imposição do Estado sobre os cidadãos;

— menos impostos;

— menos intervenção nas famílias e nas escolas;

— mais garantias para a propriedade privada e a livre iniciativa;

— mais rigor com a bandidagem e a com expansão das drogas;

— pôr fim à utilização da propaganda dos direitos humanos para arrastar o País a uma situação de amoralidade sem freios nem barreiras;

— nada de facciosismo esquerdista na política exterior, que vem sendo pautada pelo favorecimento da Cuba comunista e dos países ditos “bolivarianos”, e pela repulsa às relações com os Estados Unidos que se diria ridícula, se não fosse altamente prejudicial aos interesses da Nação;

— fim das perseguições contra os que defendem a moral católica.

As reivindicações desviadas. O Decreto 8.243

Nada disso, porém, foi feito. Pelo contrário.

Tentou-se, de um lado, desmoralizar as manifestações de junho através da multiplicação exacerbada de manifestações menores, altamente agressivas e antipáticas, como as dos black blocks, dos chamados “sem-teto”, dos indígenas (verdadeiros ou postiços), e assim outras. Fazendo com que os cidadãos de bem se sentissem inibidos de continuar seus protestos, pelo medo de serem implicados em violências descabidas ou reivindicações estranhas a seu descontentamento.

Ao mesmo tempo, o governo tentou cooptar o movimento de junho por meio de lançamentos bombásticos e aventureiros, como a convocação inconstitucional de uma Constituinte e um plebiscito sobre a reforma política, que se mostraram inviáveis. Mais ainda, foi insinuando subtilmente no panorama pontos do ideário socialista, e procurando aplicá-los, como se correspondessem às reivindicações dos manifestantes.

O mais escandaloso deles foi o Decreto 8.243, que institui numerosos conselhos (soviets, em russo), para deliberarem junto com o Executivo e sob o tacão deste sobre os problemas nacionais, com a falaciosa aparência de que seria o povo a governar nessa espécie de democracia direta.

Muito se criticou o malfadado Decreto, inclusive vários deputados o fizeram. Mas o leitor terá notado que até agora o Congresso Nacional, devidamente cooptado pelo Executivo, nada fez de eficaz para revogar a danosa decisão autoritária, a qual continua como uma espada de Dâmocles pendente sobre as cabeças dos brasileiros, a ser utilizada pelo governo que em breve sairá das urnas.

Fratura entre o País real e o País legal

Na realidade, surfando as manifestações, o governo buscou aplicar um programa de tipo socialista e anticristão, como se isso pudesse atender a voz das ruas. Ledo engano ou passa-moleque? O partido no poder chegou a incentivar a cobrança de impostos sobre as grandes fortunas — medida de caráter comunista, que ninguém pediu — para financiar o atendimento das reivindicações populares!

Na elaboração dessa miragem, segundo a qual as manifestações visariam sobretudo ações em favor da esquerda, a presidente passou a receber militantes dos movimentos impropriamente chamados “sociais” (muitos deles, na verdade, são anti-sociais), como se tais agremiações representassem a multidão que saiu às ruas!

Assim, chegamos às eleições de 2014 vendo alargar-se a impressionante fratura entre o País legal e o País real.

Quaisquer que sejam agora os eleitos — presidente, governadores, senadores, deputados — cabe-lhes esforçar-se para pôr remédio àquilo que constitui o fundo do problema, ou seja, o imenso desagrado de uma Nação que não se vê representada em seus anseios pelas leis que se querem aplicar, pela corrupção moral e financeira de seus dirigentes, enfim pelo modo como o Estado vem sendo conduzido.

Não há solução fora da civilização cristã

Se, porém, os novos governantes buscarem desviar de seu leito o rio da indignação popular, para fazê-lo servir a programas socialo-comunistas, socialo-ecológicos, igualitário-tribalistas, com o aumento de impostos a pretexto de distribuir riquezas, as estatizações, o aparelhamento do Estado pelas forças da esquerda, e outras coisas do gênero, tudo rumo a um anarquismo ecológico-tribalista, cumpre que as forças vivas da Nação utilizem todos os meios legais para se opor a isso.

Não há solução para o Brasil fora das vias da civilização cristã, civilização da ordem, de favorecimento do autêntico espírito familiar, da livre iniciativa, da aplicação do princípio da subsidiariedade, da defesa da propriedade particular, sobretudo da consideração de que há um Deus no Céu que a tudo vê, tudo julga e dará a cada um segundo suas obras, não só aos indivíduos, mas aos povos e às nações.

Ficam assim esboçados alguns critérios, que podem ajudar o leitor a acompanhar a trajetória dos políticos que começarão a nos governar no próximo ano. Se os novos governantes conduzirem o País nas vias adequadas, poderá fechar-se, ao menos em grande parte, a enorme fratura existente entre o Brasil real e o Brasil legal. Caso contrário, essa fratura tenderá a escancarar-se, arrastando a Nação para catástrofes imprevisíveis, que não desejamos.

Aplicam-se aqui as palavras de Plinio Corrêa de Oliveira, em sua famosa obra “Projeto de Constituição angustia o País”:

“Olhar de frente esses problemas, e enfrentar as perplexidades e apreensões que eles trazem consigo, oferecendo ao Poder Público e à opinião do País sugestões viáveis: assim pode o bom brasileiro cumprir seu dever em ocasiões dramáticas, como esta em que vamos entrando.”

Fica, eventualmente, para a próxima edição, uma análise do resultado das eleições.

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