A Verdade Libertadora

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Frei dominicano Victorino Rodríguez y Rodríguez.
Frei dominicano Victorino Rodríguez y Rodríguez.

No ensaio recentemente publicado sobre o miserabilismo, menciona-se como o processo revolucionário vem ofuscando nas almas a percepção da verdade, através do relativismo filosófico, moral e religioso.

Com efeito, o tema foi abordado, de forma concisa e brilhante, no pequeno opúsculo “A Verdade Libertadora”, escrito pelo ilustre teólogo espanhol Frei Victorino Rodríguez e Rodríguez, O.P. (“Verbo”, Madrid, julho-agosto-setembro 1985).

A mera enumeração de alguns dos temas ali analisados mostra sua atualidade e a relação direta que podemos estabelecer com os problemas das doutrinas “miserabilistas” enquanto instrumentos para atrofiar as potências da alma humana, fomentar a conaturalidade com o horrendo e atentar contra a própria glória de Deus. Podemos citar, por exemplo, os parágrafos “A Verdade e suas Modalidades”, “O Valor da Verdade”, “Efeitos Dignificantes da Verdade”, “O Dever-Direito de Conhecer a Verdade com Certeza e Dizê-la com Claridade”, “As Raízes do Erro e da Mentira”, “Intercambiáveis a Verdade e o Erro?”.

Vejam, em seguida, alguns trechos escolhidos.

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Frei Victorino Rodríguez afirma: “O fato de que Cristo se identifica com a Verdade (João 14:16) e de que nos diz que para isso veio ao mundo – ‘para dar testemunho da verdade’ – são decisivos para avaliar o excelso da verdade, isto é, do conhecimento verdadeiro.

Semelhante louvor, ainda mais abstrato, se encontra nos sábios livros do Antigo Testamento: “A sabedoria vale mais do que pedras preciosas; tudo quanto há de desejável não pode comparar-se a ela” (Prov. 8:11). “Sim, a riqueza é um bem desejável na vida; que coisa é mais rica que a sabedoria que opera tudo?” (Sab. 8:5). “O lábio veraz mantém sempre a palavra; a língua mentirosa, somente por um instante” (Prov. 12:19)” (p. 779).

Como bem lembra Pe. Victorino (p. 780), Santo Tomás de Aquino, ao iniciar o Liber de Veritate Catholicae Fidei Contra Errores Infidelium – chamado comumente “Suma contra os Gentios” – considera a verdade como objeto primordial da sabedoria, por ser ela a última finalidade do universo (I, 1, nº 4). Mais concretamente – acrescenta Frei Victorino – a perfeição máxima e última finalidade sobrenatural do homem consiste no conhecimento da verdade divina plenamente revelada: “A mente racional é informada imediatamente por Deus… como por sua forma perfectiva, pois a mente criada se considera informe enquanto não adere à própria primeira verdade” (Santo Tomás de Aquino, “Suma Teológica”, I, 106, 1 a 3; cfr. I, 12, 1 e 5; I – II, 4, 8).

Mais adiante, o autor particulariza os efeitos dignificantes do singular valor da verdade, o “bonum intellectus” (p. 786), sob o subtítulo “Efeito personalizador do conhecimento da verdade”: “Por ser a racionalidade a nota distintiva ou quase específica da pessoa humana (“rationalis naturae individua substantia”), nenhuma perfeição pode ser-lhe mais penetrável que o conhecimento da verdade e a conseguinte racionalização de sua vida. Comportar-se como pessoa é comportar-se como ser inteligente e racional; é buscar a verdade e contentar-se em sua posse e comunicação com gestos e palavras e realizá-la em sua praticidade. Daí que o salmista tenha que corresponder a falta de exercício de inteligência com a falta de personalidade: “Não sejas sem entendimento como o cavalo e o burro” (Salmos 32:9). Incluído na ordem sobrenatural, sustentado na fé, “sem a qual é impossível agradar a Deus” (Heb. 11:6; cfr. Concílio de Trento, Ses. 6, c. 8, DS 1532), o crente busca, espontaneamente, conaturalmente, a inteligência no mistério (I Concílio Vaticano, Ses. 3, c. 4, DS 3016). Daí nasce a sagrada teologia, como “fidens quaerens intellectum”, como dissera Santo Anselmo, interpretando o “credere ut intelligas” de Santo Agostinho”.

Ao falar da verdade enquanto raiz da autêntica liberdade, e de seu legítimo e saudável efeito libertador (p. 795), em oposição às interpretações errôneas do “progressismo”, o teólogo espanhol aponta: “A verdade é também fator fundamental de libertação sociopolítica, não somente enquanto garantia de uma autêntica ou verdadeira justiça e de uma autêntica e verdadeira amizade entre os homens – que é um modo de prevenir a escravidão, injusta e rancorosa, ou de se livrar dela (Santo Tomás, “Suma Teológica”, II – II, 29, 1 e 3) –, mas também enquanto exclusão da desonestidade, da mentira e do erro de objetivos sociopolíticos ou de cálculos utilitários misturados com a honestidade sociopolítica. Nesta verdade não reflete a abusivamente chamada “Teologia da Liberação”, que reduz a verdade (a ortodoxia) à ação revolucionária (ortopraxis)”.

“Em definitivo – afirma Pe. Victorino em outra passagem (p. 793) – , a verdade une as inteligências em seu próprio objeto comum, o “verum”, que está em Deus, no mundo e nos homens; une ou assemelha as inteligências entre si em sua confluência de cara com a verdade; e une os corações, tornando-os “com-cordantes”, na aspiração e na tranquila posse do bem verdadeiro, do “verum bonum”.

3 COMENTÁRIOS

  1. Vejo com muita clareza agora, todo o empenho da tv globo em fazer a apologia das garatujas de Niemayer e de Picasso. E com muita satisfação a natural repulsa que o povo brasileiro tem dessa “arte” dita moderna.

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