O hábito não faz o monge, mas a casca protege o fruto
A feminista brasileira Sara Winter, conhecida por sua militância pró-aborto, após ter dado à luz, publicou em 14/10/2015 na sua página do Facebook um texto com o título“Eu me arrependi de ter abortado e hoje peço perdão”. Eis um trecho do que ela escreveu:
Amanhã faz um mês que meu bebe nasceu e minha vida ganhou um novo sentido. Estou escrevendo isso enquanto ele dorme sereno no meu colo. É a melhor sensação do mundo.
Eu ensaiei este texto milhares de vezes durante meses na minha mente e talvez ele não saia tão brilhante como eu gostaria que saísse, mas o mais importante que gostaria de que chegasse a vocês é que, por favor, mulheres que estão desesperadas para abortar, pensem muito, eu me arrependi muito, não quero o mesmo destino pra vocês[1].
Além disso, Sara passou a criticar a ideologia de gênero, tão cara às suas colegas feministas. Em seu artigo “Meu filho é XY e sou muito feliz com isso”, de 17/10/2015, ela diz:
Algumas pessoas têm comentado aqui na page sobre o que eu acho da Teoria de gênero.
Quero deixar claro que há mais de 1 ano eu mudei minha concepção de gênero.
Eu não acredito que uma pessoa possa se identificar com um gênero e a partir de então pertencer a ele. Ou seja, essa ladainha de “eu sou mulher porque me sinto mulher”, eu não acredito e não apoio. […] Não se ‘vira’ mulher quando se passa batom, coloca silicone e começa a falar fino. Ser mulher é MUITO MAIS DO QUE ISSO. Assim, como duvido muito que uma mulher que coloque roupas largas e corte o cabelo terá privilégio que homens tem, como ganhar um salário 30% maior, tem mais segurança na rua…
Como se vê, ela admite diferenças naturais entre os sexos e não aceita que tudo se reduza ao modo de falar, de cortar o cabelo ou de se vestir. Curiosamente, ao falar da diferença no vestuário, Sara não falou aquilo que espontaneamente se falaria há algumas décadas, ou seja, que as mulheres usam saias e os homens vestem calças. Hoje parece que essa diferença deixou de existir. O que ela vê de diferente é que os homens usam “roupas largas”, o que implica que as mulheres usam roupas justas ou apertadas.
Qual a função das roupas?
“Ora, os dois estavam nus, o homem e sua mulher, e não se envergonhavam” (Gn 2,25). Antes do pecado original, Adão e Eva gozavam de um dom chamado integridade. Por esse dom, os sentidos e os instintos estavam harmoniosamente submissos à razão. A visão do corpo do outro, mesmo de seus órgãos reprodutores, não era capaz de causar excitação, a menos que a vontade consentisse segundo a reta razão. Por isso, não havia necessidade de se cobrir o corpo.
Depois do pecado original, a integridade se perdeu. Adão e Eva “descobriram” que estavam nus e se envergonharam. A partir daí, os instintos rebelaram-se violentamente contra a razão, sobretudo o instinto sexual. A virtude da castidade — que é o controle desse instinto — passou a exigir muita luta e vigilância. Foi necessário cobrir o corpo.
Adão e Eva, envergonhados, cingiram-se (cobriram a cintura) com folhas de figueira (Gn 3,7). Deus, porém, não achou tal cobertura suficiente, e deu-lhes túnicas de peles de animais, para que se vestissem (Gn 3,21).
Hoje, portanto, as roupas são necessárias para se conservar a castidade. De fato, se não cobríssemos o corpo, o instinto carnal gritaria tanto, com sede de prazer, que a razão ficaria obscurecida, incapaz de conhecer a alma.
A pureza exige o pudor. Este é parte integrante da virtude da temperança. O pudor preserva a intimidade da pessoa. Consiste na recusa de mostrar aquilo que deve ficar escondido (Catecismo da Igreja Católica, 2521).
A diversidade de roupas masculina e feminina tem um fator cultural, mas não é um produto exclusivo da cultura. Homens e mulheres têm corpos diferentes e essa diferença natural influi sobre o modo de vestir que convém a cada sexo. A mulher tem a pelve (bacia) mais larga e o osso sacro mais curto e mais largo. O motivo dessa disposição óssea é abrigar o bebê durante a gravidez. Daí a conveniência de que as roupas femininas sejam largas na altura dos quadris. Por esse motivo, durante séculos consolidou-se o uso de saias pelas mulheres. De fato, a saia adapta-se perfeitamente ao corpo da mulher não apenas com decência, mas com uma particular elegância.
Não se pode dizer o mesmo da calça. Raramente se encontra uma calça suficientemente folgada para ser decente em um corpo feminino. Hoje, com a generalização do uso da calça jeans pelas mulheres, verifica-se o que foi observado por Sara: enquanto os homens usam “roupas largas”, as mulheres, em sua grande maioria, vestem calças tão apertadas, que o costume de vestir-se imodestamente causou a perda do senso do pudor.
Em 12 de junho de 1960, o Cardeal de Gênova, Giuseppe Siri, escreveu uma “Notificação relativa às mulheres que vestem roupas de homem”[3], referindo-se ao recente uso de calças compridas por moças e senhoras de sua Diocese. Dizia o Cardeal que esse tipo de roupa, geralmente colada ao corpo, dava-lhe a mesma preocupação que as roupas que expõem o corpo. Mas a imodéstia das calças não era o único problema para o Cardeal. Mais grave que isso, o uso de roupas masculinas causava uma alteração da psicologia da mulher, levando-a a querer “ser igual ao homem” e a competir com ele, por considerá-lo mais forte, mais livre e mais independente. Assim, ela via sua feminilidade como inferioridade, e não como diversidade. Além disso, ao usar roupas iguais às do seu marido, a mulher eliminava um dos sinais externos da diversidade dos sexos. E isso tenderia a corromper as relações entre os sexos.
Parece que o Cardeal já estava pressentindo como o uso de calças pelas mulheres favoreceria a difusão da ideologia de gênero e seus postulados, em particular o da anulação das diferenças sexuais.
Hoje assistimos a um movimento semelhante, no sentido inverso: homens advogando o direito de usar saias, a fim de libertar-se da “ditadura da calça”. Em 2008, o jornal francês Liberation noticiava a existência da Associação Homens de Saia (Hommes en Jupe). Seu fundador, Dominique Moreau, defendia a “emancipação masculina”, reivindicando o “direito de dispor plenamente do próprio corpo, nos moldes da liberação feminina”[3].
Tudo isso nos faz lembrar o que dizia o saudoso Bispo de Anápolis Dom Manoel Pestana Filho: “O feminismo trouxe, primeiro, a masculinização da mulher; depois, a feminização do homem; por fim, a bestialização de ambos”.
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[1] https://www.facebook.com/sarawinter13/posts/418933078317145:0
[2] Cf. HAMMOND, Colleen. Dressing with Dignity. TAN, Charlotte, 2005. Appendix 3.
[3] http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,homens-franceses-defendem-o-direito-de-usar-saia,172777
Gostaria de mencionar que não sou católica mas super concordo com esta matéria. Exatamente como penso. Excelente conteúdo!
Oi novamente. Gostaria de saber, se caso eu quiser imprimir esse artigo em forma de folheto e com a permissão do meu pároco, posso distribuir na minha paróquia?
Pode sim. Sem problemas.
Pior que isso, vi uma no Facebook que existe lingerie para homens, um absurdo…..
Fantástico e sucinto artigo! Estou seguindo a modéstia através dos ensinamentos católicos, principalmente de padre Paulo Ricardo e documentos da Igreja, como esse que vocês postaram. Nunca me senti tão bem como mulher! Minha forma psicológica de encarar as diferenças entre homem e mulher mudou bastante; redescobri o meu valor, a minha essência. Meu matrimônio melhorou bastante. Busco a serenidade e a ternura da Santíssima Virgem Maria! Faço por amor à Deus e por caridade aos meus irmãos e irmãs em Cristo!