No último mês de novembro, completaram-se 260 anos do nascimento daquela que foi a mais famosa rainha da França, Maria Antonieta.
Há certas almas que são chamadas por Deus para cumprir uma determinada missão, e de tal maneira representam algo de sublime e de sacral que acabam marcando o seu tempo, arrastando multidões com seus inúmeros imprevistos e exemplos de valor, que até os homens mais pragmáticos de nosso século são assaltados pela sua lembrança e são levados a admitir que essas almas fizeram história, seja para o bem ou para o mal.
Assim é Marie Antoinette Josèphe Jeanne de Habsbourg-Lorraine!
Mesmo que mais de duzentos anos nos separem de Maria Antonieta e do mundo em que viveu, ela ainda hoje é lembrada como a figura feminina mais impressionante do século XVIII. Sua figura é para alguns motivo de respeito e admiração, para outros, motivo de ódio e desprezo, por que ela é o tipo de alma que continuamente está contrastando o modo de vida do homem igualitário de nosso tempo.
***
Nasceu no dia 2 de novembro de 1755, no magnifico Palácio Imperial de Schönbrunn, em Viena, filha de Maria Teresa, Imperatriz da Austria, Rainha da Hungria e Boêmia, e de Francisco I, soberano do Sacro Império Romano Alemão.
Tendo como cenário a pomposa corte de Viena, a jovem arquiduquesa mostrava ser dotada de uma natural bondade, que se aliava a um gosto acentuado pelos estudos. Ainda é lembrado hoje em dia seu “noivado” com Mozart, então grande pianista, que, sendo apenas uma criança de cinco anos, acreditava ingenuamente estar noivo da formosa filha dos soberanos do Sacro Império.
A diplomacia do Duque de Choiseul, o influente ministro do Rei da França, Luís XV, veio, porém, pôr um termo a esta infância sem nuvens, promovendo o casamento de Luís XVI, ainda príncipe herdeiro, com Maria Antonieta. “Na sua primeira fase, a vida desta princesa decorreu feliz e brilhante como um sonho dourado, em que se reuniu, na mesma pessoa, toda a glória do poder, todo o brilho da fortuna, e todo o encanto de uma radiosa juventude. Subitamente, porém, este longo encadeamento de venturas foi cortado por um tufão medonho, que provocou o naufrágio da Monarquia, a profanação dos altares e a derrocada de uma nobreza que, através dos séculos, vinha escrevendo com a própria espada as páginas mais brilhantes da história de França. E em pleno desabamento do edifício político e social da monarquia dos Bourbon, quando todo o mundo sentia o solo ruir sob seus pés, a alegre arquiduquesa d’Áustria, a jovial rainha de França, cujo porte elegante lembrava uma estatueta de Sèvres, e cujo riso tinha os encantos de uma felicidade sem nuvens, bebia com uma dignidade, com uma sobranceria, e com uma resignação cristã admirável os goles amargos da imensa taça de fel com que resolvera glorificá-la a Divina Providência.[1]
***
Conhecida e amada por uns, odiada por outros, Maria Antonieta é recordada em nossos dias como um espelho que reflete um mundo que há tempos deixou de existir. Um mundo em que o bom trato e a cortesia eram aliados inseparáveis e davam uma nota de enlevo predominante na vida cotidiana daquele tempo.
O ódio que se levantou contra sua pessoa não foi por causa de seus eventuais maus exemplos ou suas aventuras levianas – que infelizmente os houve – mas por que Maria Antonieta, Rainha de França “representava em sua versão brilhante o tipo de dama destinada a desaparecer pela ação demolidora da Revolução.” [2] (Isto porque a Revolução deseja para o mundo um tipo de homem e de mulher igualitários e anárquicos.)
Maria Antonieta representa a contraposição do “feminismo” igualitário e sensual, um modelo para um gênero de dama — não apenas de “corte”, mas para todos os escalões da sociedade.
Plinio Corrêa de Oliveira, em inúmeras análises feitas ao longo de sua vida, apresenta Maria Antonieta como o ponto ideal de uma evolução, na qual os acontecimentos, as ideias e as tendências vinham, há séculos, gerando um modelo de dama ideal e esse modelo tinha desabrochado na pessoa de Maria Antonieta, com um brilho absolutamente excepcional, “ficando como uma figura de um navio em guerra, pois era um símbolo que a Revolução precisava destruir”.
Por que esse modelo precisava ser destruído? Por tudo o que ela representa e também porque ela era um símbolo anti-consensual. Os conselhos que ela dava ao rei eram anticonsensuais e todas as suas atitudes eram anticonsensuais.[3]
É preciso considerar que Maria Antonieta morreu nas vésperas do início do século XIX, o qual presenciaria o nascimento e a expansão pelo mundo inteiro dos primeiros movimentos “feministas”, com o aparecimento de um outro modelo de mulher cada vez menos caracteristicamente feminina.
Portanto, o auge da mulher bem feminina, com todo charme e distinção, e também toda debilidade e força feminina, foi Maria Antonieta. Ela representa o extremo oposto da nefasta Ideologia de Gênero inculcada desde os bancos escolares até nos outdoors das grandes capitais, procurando pôr um fim na legítima desigualdade dos sexos com o desaparecimento da varonilidade do homem e a delicadeza da mulher, bem como do senso católico que tornava a vida de família amena e agradável.
***
Marie Antoinette!
Que contraste nos traz a sua ímpar personalidade no mundo atual. Lembrada hoje, quer por ser amada, quer por ser odiada, ela é o símbolo da luta entre a Revolução e a Contra-Revolução, sempre recordada, com profundo respeito e profunda dor, por todos aqueles que têm uma fagulha de Contra-Revolução na alma e vista com extremo ódio por todos aqueles que odiando todas as desigualdades, mesmo as desigualdades harmônicas e proporcionais, odeiam essa Rainha, que durante o curto tempo de vida percorreu um longo caminho.
Não é o caso de lembrar aqui as numerosas incriminações que lhe fazem, algumas delas verdadeiras, outras exageradas e outras ainda caluniosas.
A imensa bondade de Deus, assim o esperamos, terá preparado no Céu o lugar condigno para aquela que tanto sofreu, amando-O mais quando Ele lhe enviava penas, do que na plenitude de seus prazeres. No dia 16 de outubro de 1793, cessou seu longo martírio na guilhotina, cuja lâmina, ao mesmo tempo criminosa e caridosa, cortou o fio de sua extraordinária existência.
Assim terminou a soberana mártir, cuja história lembra um minueto delicado e palaciano cujas notas harmoniosas fossem bruscamente abafadas pelo rugido pavoroso de uma horrenda agitação revolucionária, ela que, nas palavras de Plinio Corrêa de Oliveira “foi fútil como princesa, e imperdoavelmente leviana na sua vida de rainha,[mas] perante o vagalhão de sangue e de miséria que inundou a França, transformou-se de um modo surpreendente; e o historiador verifica tomado de respeito, que da rainha surgiu uma mártir, e da boneca uma heroína.”[4]
[1] Discurso pronunciado por Plinio Corrêa de Oliveira na 5a. Sessão da Academia Jackson de Figueiredo, em São Paulo, 21 de agosto de 1929.
[2] Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em três de setembro de 1988.
[3] Conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em três de setembro de 1988.
[4] Discurso pronunciado por Plinio Corrêa de Oliveira na 5a. Sessão da Academia Jackson de Figueiredo, em São Paulo, 21 de agosto de 1929.
Oui, aujourd’hui tous les Français pleurent la mort de Marie-Antoinette. Elle est vénérée comme reine et martyre. Et les Français ne se pardonnent pas de l’avoir honteusement traitée et tuée.