Um “Plebiscito” para dividir Fazendas?

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    Sob o título Um plebiscito para dividir fazendas?, Dom Christiano Krapf, Bispo da Diocese de Jequié (BA), estampou em seu blog Lux Mundi uma análise lúcida, corajosa e patriótica sobre o projetado plebiscito visando à divisão das propriedade rurais no Brasil. Por sua importância, transcrevemo-la aqui na íntegra:

    Uma campanha de embolar o campo com Plebiscito Popular.

    Diante da pobreza de milhões de brasileiros nesta terra tão rica em recursos naturais, até pessoas bem intencionadas se deixam instrumentalizar por adeptos de uma ideologia anticapitalista e antineoliberal que ainda tem a ilusão de construir uma sociedade mais justa pelo atalho da luta de classes.

    No último dia da Reunião dos Bispos em Brasília tivemos um tempinho para sugerir emendas para um texto de 55 páginas sobre a Questão Agrária. O Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, FNRA, quer envolver a Igreja na luta por uma lei arbitrária para diminuir as fazendas.

    Faz muito tempo que tal projeto é tramado nos bastidores de setores que desejam radicalizar a reforma agrária. Falei que seria melhor insistir na exigência da função social de toda propriedade, em vez de perturbar o trabalho de pessoas que fazem a terra produzir. Tentei oferecer um texto crítico que fiz às pressas com argumentos razoáveis contra tentativas de atacar e atrasar o desenvolvimento de uma agricultura moderna num país com a vocação de ser o celeiro do mundo neste século de perspectivas ameaçadoras de conflitos crescentes por alimento, por energia e por água.

    Não conseguindo distribuir a todos o meu texto sobre o tal plebiscito, o mandei aos colegas pela internet, junto com outro mais elaborado sobre a Questão Agrária para Bispos, que ainda está guardado no meu Blog, porque se refere à primeira versão do texto da CNBB, do qual ainda não vi a versão final.

    Quando questionei o envolvimento oficial da CNBB numa campanha contra grandes propriedades rurais que só servirá para agitar ainda mais o ambiente rural, recebi a resposta que não seria publicado um documento oficial da CNBB, mas apenas um texto para estudo. No entanto, agora já começou a campanha com coleta de assinaturas e mobilização para o grito dos excluídos. Quem não participar, será acusado de estar do lado dos ricos contra os pobres.

    Quando um bispo ou uma pastoral da CNBB assume posições muito definidas, colegas não gostam de apresentar opiniões divergentes. Foi assim quando alguns queriam mobilizar a Igreja contra projetos de transposição do São Francisco e contra hidroelétricas na Amazônia. O mesmo acontece agora com a Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra.

    Não vejo por que todos os bispos devam marchar unidos contra projetos complicados que dividem as opiniões dos envolvidos e dos entendidos. Muitos deles fabricam argumentos para justificar suas posições, em vez de escolher os seus objetivos de acordo com a verdade objetiva da razão.

    Precisamos cuidar da unidade na fé. Em questões de política econômica, não cabe à CNBB impor seus pontos de vista a ninguém. As opiniões de cada bispo valem de acordo com o peso dos seus conhecimentos manifestados nos seus argumentos. Viva a liberdade!

    A situação fica mais complicada quando uma proposta já assumida por pastorais foi apresentada por uma comissão nomeada pela presidência e passou pela maioria. No entanto, mesmo assim, o povo tem o direito de ouvir também o outro lado.

    Não quero impor as minhas opiniões. Quero apenas oferecer meus argumentos aos interessados no assunto, e deixar claro que nenhum católico é obrigado a participar de uma campanha promovida por uma entidade qualquer, mesmo que conte com o apoio da CNBB. A Igreja não pode exigir que todos tenham a mesma opinião sobre problemas de política econômica, nem que todo católico venha embarcar na canoa furada desse “plebiscito”.

    Na proposta que surgiu na nossa Assembléia faltou definir coisas importantes:

    1) Qual deve ser o tamanho limite das propriedades?
    2) A desapropriação será com indenização ou por confisco sumário?
    3) Quem receberá a terra pronta e as benfeitorias de presente? O invasor que chegar primeiro? Os amigos dos donos do poder?

    Agora, o FNRA já diz qual deve ser o Limite da Propriedade: 35 módulos fiscais. Um manual recente do FNRA explica que um módulo tem entre 5 e 110 hectares. O INCRA diz que regiões boas para culturas permanentes em São Paulo têm um módulo de dez hectares. Assim, propriedades acima de 350 hectares serão desapropriadas.

    Com leis que protegem fazendas produtivas já surgem invasões de áreas plantadas. Na Bahia, invasores de terras alheias cortaram pés de eucalipto com o argumento que pobre não come madeira. Alguém imagina que grandes plantações de laranja, café, cana, soja, eucalipto, seriam entregues sem resistência ao primeiro invasor que chegar? Ou será que ainda existem movimentos que sonham com revoluções?

    No sertão difícil, os módulos são bem maiores, mas o pessoal não dorme no ponto. Vão procurar as regiões melhores. Já existem assentamentos que produzem pouco, mas que receberam casas perto de cidades. Outros procuram lugares de futuro turístico. Assentamentos no interior do sertão só sobrevivem enquanto continuam recebendo ajuda.

    Acho que a lei para limitar o tamanho das fazendas não vai vingar. Vingando ou não, a campanha vai provocar confusão e aumentar os conflitos.

    Resumindo, a proposta do FNRA é esta: Confiscar as grandes fazendas:

    Áreas acima de 35 módulos seriam automaticamente incorporadas ao patrimônio público e destinadas à reforma agrária. Se querem dividir fazendas, por que não dividir os milhões dos milionários? Podiam começar tirando o ICM da Cesta Básica e diminuindo os juros. Só com juros da sua dívida o Governo transfere aos ricos dez vezes mais que aos pobres pelo BOLSA FAMILIA.

    Jequié, 18 de Julho de 2010 + Cristiano Krapf

    7 COMENTÁRIOS

    1. Fico escandalizada quando olho uma pessoa que é formadora de opinião e responsavel por instrumento que fez uma opção clara de servir a Deus através dos pobres, escrever tamanha imundicie. É por esses e outros que a igreja se encontra da maneira que esta, cada vez mais vazia. Estão dando até hostia para cachorro….
      Negar a reforma agraria, é querer naturalizar as favelas, a fome, a violência…. é dizer que no nosso pais não tem mais desigualdade, somos o “novo império”. É naturalizar a nossa história de exploração sob o dominio e ainda dominio do mercado estrangeiro. É negar o sangue de muitos que morreram defendendo a justiça. Negar as chacinas da Candelaria, Vigario Geral, da Sé, Eldorado dos Carajas. Negar o sangue derramado de Irma Doraty e outros…
      É lamentável! Estupida tais afirmativas, sem base teorica, enfim uma catastrofe geral!

    2. A CNBB pode ter sido intimidada para aceitar a trabalhar em favor desta questão, se ficar de fora estará a favor dos grandes proprietários, se aceita complica-se mais ainda, pois lutará por algo que promoverá divisões e ataques de “nervosimo”, nas classes da sociedade brasileira.
      REVOLTANTE.

    3. Sou suspeito para comentar, para comentar, sobre esse assunto, por que sou pastor da Assembléia de Deus. Mas ai está minha opinião: A CNBB, deveria de cuidar melhor da vida espiritual dos católicos, se é que se pretende, conduzir os seguidores ao reino de Deus en-
      nando- os o caminho, segundo as escrituras. A CNBB, tem a maioria do povo em suas mãos. Muitascoias erradas surgidas no seio da sociedade é por ação ou omissão da CNBB. Para tomar decisões que envolva o interesse da sociedade, porque? não consulta antes os fiéis em plebiscito no ãmbito das Dioceses.

    4. Até que enfim, começa a falar um bispo silencioso… Que ainda os que estão silenciosos, usem do mesmo direito que lhes assistem a soberania de sua diocese , pois, cada bispo tem sua jurisdição própia pelo Direito Canônico. São Principes da Santa Igreja Católica Apostotólica Romana ,susessores dos apóstolos. A CNBB, não pode passar por sima deste direito sacrosanto. Rezemos nós os católicos pela virtude da Fortaleza dos bispos silenciosos.
      Que Nossa Senhora os encoraje a todos.

    5. É muito importante que bispos expressem opiniões contrárias à reforma agrária. Os argumentos de Dom Christiano Krapf são verdadeiros e merecem acatamento. Lembro que neste site há inúmeros argumentos sérios que Plinio Corrêa utilizava para contrariar os agroreformistas. Um de que me lembro era que a reforma agrária no fundo é um roubo e por isso mesmo um pecado. Tá lá o mandamento 7 da lei de Deus.

    6. Não há duvida que as ideologias socialistas passam pela divisão social da terra. E não importa o tamanho e a dimensão dos problemas que possam causar.
      Não vi no presente texto alguma referencia aos Ruralistas, que geralmente so corporativos e destemidos quando se fala em divisão de terras.
      Ao final deste texto muito bem argumentado, está a proposta que merece ser acatada e promulgada: tirar ICM da cesta básica e diminuir os juros. No Brasil a distribuição de rendas não acompanha a abundancia de distribuição de alimentos, os custos na ponta ainda não permite encher o carrinho de compras. E já faz tempo que se vê em supermercados carrinhos de menores tamanhos, para compras irrisorias.

      Deve haver ainda muito espaço de tempo para a CNBB refletir melhor sobre o assunto “plebiscito” e dar um parecer mais consistente.

    7. Afinal doutos senhores,

      Que “reforma agrária” tão decantada se fala e sobre se escreve em infindaveis artigos ditos patrioticos e politizados e ditos ecologicamente corretos?

      Se tais pobres e miseraveis comunidades rurais sequer tem EDUCAÇÃO e FINANCIAMENTOS para implementação de tais pseudos politicas agrarias..

      Sejamos realistas e sem paixões politicas de pseudos salvadores da patria por favor!!!

      Basta de tanta arrogancia tola de tais senhores da verdade!!!

      Afinal do que vale a distribuição equitativa de tais terras se sequer comunidades locais sabem trabalhar e retirar da terra seu sustento em larga escala? Po falta de implementos agricoilas e treinamentos em lides agrarias,como controle de pragas sazonais e etc..

      Ate quando iremos ter que conviver com tais ideologias vazias e sem sentido realista dos fatos? Esta é a pergunt que não quer calar!!!! Ate quando doutos senhores??

      Ao invés disto se adotada a educação de base nas lides agricolas para tais ditas comunidades rurais a curto ,médio e longo prazo.

      Além de pleno financiamento para podução extensiva de bens de consumo na cadeia alimentar e logistica de distribuição aos grandes centros consumidores e exportação de excedentes de produção agricola ,sem “patriotismos” tolos, o Brasil tera muito mais a lucrar!!!!

      Sejamos pragmáticos pois assim exige a realidade economica e financeira mundial !!!

      Para o bem de todos incluindo a face economico financeira da matéria em tela..

      Chega de manipulação de tais massas rurais de manobras de pobres miseraveis paar fins eleitoreiros de politicos aéticos. em ditos “movimentos sociais”, de plantão consumindo avidamente verbas nacionais e estrangeiros em prol de minorias de seus chamados lideres!!

      Afinal “lideres de que”???

      Que ideologias vazias de propositos realistas e sérios são estas afinal ?

      Onde esta a formação constante e atualizada de mão de obra especializada nas lides rurais???

      Além de consequente financiamento para produção rural,sem desvios vergonhosos de verbas públicas de tais pseudo politicas ditas “sociais”como denunciado anualmente pela midia nacional e mundial; em escandalos de notória corrupção que nos envergonham imensamente, a grande maioria silenciosa de pagadores de impostos e eleitorado idem

      Que tanta falta fazem em tais comunidades miseraveis dos bolsões da fome no NE brasileiro e poulações riberinahs da vasta e rica Amazonia, como já denunciada em notaveie obras literárias e conferencias nos pós segunda guerra mundial do séc.passado, no passado nas obras do eminente médido e sociólogo Dr. JOSUÉ DE CASTRO?

      Por que após tantas décadas nada resolveram,apos ditas tantas “lutas inglórias”??

      Afinal ate quando doutas autoridades, teremos que aturar na midia nacional e mundial tais figurinhas carimbadas, incompetentes e caricatos personagens de ideologias pseudo socialistas, de varias nacionalidades e vazias de forma e conteúdo!!!

      Ate quando doutos senhores???? Esta é a simples e arguta pergunta que não quer calar!!!!!!!

      Outrossim sera mais magnanimo mudança realista e séria de modernos modelos economicos e sociais para melhor uso e distribuição equinanime de tais verbas de várias origens em prol do povo miseravel e faminto dos bolsões de miséria em especila nas areas rurasi do NE brasileiro,

      Sem que poder eclesiastico católico se comprometa, evidentemente como comprovado sem o expresso aval de Roma e logicamente do Vaticano, em tais politicas temporais de cunho economico, que nunca se perenizam pela rotatividade do poder politico na mão dos senhores do poder politico do passado e poucas familias que detem a minoria privilegiada das grandes riquezas nacionais e poder economico nacional…

      Nada se ve de positivo a bem da verdade,há decadas, além da manutenção constante de conflitos que custam vidas e perpetuam a miseria social sem que as partes envolvidas encontrem justa e realista solução…

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