Política de abelha

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Sombra-31Basta ter sido um observador sereno da política brasileira para não alimentar ingenuamente algumas ilusões que, quando desfeitas, provocam certo desânimo.

De fato, qual tem sido, até hoje, a característica principal dos métodos políticos de nossa terra senão o personalismo mais primitivo e feroz, e uma ausência completa de ideias e programas?

Tudo quanto, durante o Império ou a República, tem aparecido por aí, com os rótulos de federalismo, civilismo, voto secreto, […] são aspirações vagas, imprecisas, mal coordenadas, que os políticos exploram a seu favor, sem um corpo de doutrina, um programa dentro do qual se encaixem e se justifiquem.

Em última análise, todas as lutas políticas, em nosso País, se resumem na conquista do Poder pelo Poder, ou melhor, pelas vantagens do Poder…

Faz-se uma propaganda eleitoral, faz-se uma revolução, e ao cabo de uma ou de outra, vença ou não vença, a situação é a mesma […].

Entre os partidos, só o personalismo dos chefes servia de limite, porque um e outro participavam da mesmíssima mentalidade […].

Excertos-1Não vemos para já, no cenário político brasileiro, outra perspectiva senão esta: a dos partidos do Governo, montados através da vasta rede do municipalismo, e a dos partidos de oposição, a declamarem nos ouvidos do povo as eternas cantilenas dos descontentes, com o fim único de arrancar as rédeas do Poder a quem as tenha.

Oliveira Viana conta que um biógrafo de Hamilton observa que os verdadeiros estadistas praticam a política de colmeia, procurando tudo subordinar ao interesse coletivo, enquanto os falsos “políticos” praticam a política da abelha, na qual tudo se subordina ao interesse individual.

Destes “políticos” temos tido; mas estadistas realmente não. O Poder Público é transformado num cargo rendoso, numa verdadeira profissão, e não num ônus pesado e cheio de responsabilidades de quem deve olhar para o interesse da nação e promover o bem comum, em vez de procurar colocar bem a sua gente e o seu partido.

Excertos-2Os partidos políticos são verdadeiras tribos que se digladiam.

Quem pretenda realizar ideias terá todas as dificuldades do semeador que espera frutos das sementes lançadas no deserto… Não foi o Sr. Oswaldo Aranha quem chamou o Brasil de deserto de ideias?

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