O ecumenismo, com a infatigável e vã tagarelagem de seu diálogo, é bem a religião dos mediocratas. Uma espécie de seguro, ou de resseguro, para a vida e para a morte, mediante o qual todas as religiões são solicitadas a dizer em coro que indiferentemente, em qualquer delas, os homens podem alcançar para sua saúde, seus negocinhos e sua segurança, e mesmo depois da morte, um bom convívio com Deus.
Nesta perspectiva, parece que a Deus é indiferente a que se siga qualquer religião. Pode-se até blasfemar contra Ele e persegui-Lo. Pode-se até negá-Lo. Ele é indiferente a todos os atos dos homens. Olimpicamente indiferente. Ecumenicamente indiferente. Como aliás os medíocres, por sua vez, tenham eles ou não algum Crucifixo, algum Buda de louça ou de cerâmica, ou algum amuleto nos locais em que dormem ou em que trabalham, são olimpicamente indiferentes a Deus.
Na atmosfera relativista dos paraísos cubiculares mediocráticos, Deus é — segundo o brocardo italiano — um ente “con il quale o senza il quale, il mondo va tale quale” [com o qual ou sem o qual, o mundo vai tal qual].
Nesta perspectiva também, Deus pagaria aos homens na mesma moeda. Poder-se-ia então dizer que a humanidade é, para Ele, o formigueiro (ou nó de víboras?) “con il quale o senza il quale, Iddio [o Senhor Deus] va tale quale”.
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A mediocracia e o indiferentismo religioso são corolários um do outro. Como também, por sua vez, esse indiferentismo não é senão uma forma de ateísmo. O ateísmo dos que, mais radicais (em certo sentido) do que os próprios ateus convencionais, não tomam Deus a sério. Ao passo que o ateu, se tivesse a evidência de que Deus existe, O odiaria… ou, talvez, O serviria… Mas, em todo caso, O tomaria a sério.
A esse ateísmo ecumênico e relativista corresponde uma específica modalidade de deterioração moral.
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Excertos do artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, publicado na “Folha de S. Paulo”, em 20 de junho de 1981.