A cerimônia de investidura, também chamada “ordenação do cavaleiro”, geralmente realizava-se em uma igreja. Podia ser também em um castelo feudal, ou até mesmo em pleno campo de batalha.
O Infante D. Henrique, por exemplo, foi armado cavaleiro no campo de luta, após haver demonstrado extraordinária bravura na conquista de Ceuta.
Na véspera o candidato jejuava, confessava-se e passava a noite em oração — a “vigília das armas”. Na manhã seguinte realizava-se a cerimônia. A ordenação do cavaleiro chegou a ser considerada como se fosse um oitavo sacramento. De fato, a Igreja chegou a considerá-la um sacramental.
A cerimônia iniciava-se com a celebração da Missa. No sermão, o sacerdote lembrava as obrigações que o cavaleiro iria assumir. Dava também a bênção às armas que lhe seriam entregues.
Geralmente o padrinho era o senhor feudal da região. O senhor, tendo o futuro cavaleiro de joelhos diante de si, pergunta-lhe se está disposto a assumir os compromissos que a condição de cavaleiro impõe. Recebe então o juramento de obediência e entrega a armadura peça por peça, e finalmente a espada.
A espada era algo grande e sagrado, nessa época da Idade Média em que os heróis não tinham outra profissão a não ser a guerra.
Desde o dia em que era armado, o cavaleiro não podia descingi-la nunca, mesmo quando estivesse sem armadura.
Com ela vivia, com ela junto a si dormia, e com ela entre as mãos morria e era sepultado. A espada era a arma nobre do cavaleiro cristão, e a poesia medieval é incansável na descrição das espadas.
A palavra espada, no idioma nórdico, procede da mesma raiz que “chama” ou “incêndio”, pois a espada brilha na noite e brilha nos combates à luz do sol.
Na espada do cavaleiro ninguém podia tocar, a não ser ele. Osculando e tocando a sua cruz, fazia os seus juramentos.
E quando a legava a um herói ou a seus filhos, era o presente mais apreciado do mundo. A espada tinha um nome com o qual devia passar à História, se se tornasse gloriosa.
Foi assim que o romance e a poesia imortalizaram a “Tizona” e a “Colada” do Cid, a “Joyeuse” e a “Hauteclaire” de Carlos Magno e a “Gleste” (esplendor) de Siegfrid.
A razão pela qual a espada era a principal arma do cavaleiro é que ela significava e condensava em si as quatro principais virtudes do cavaleiro: cordura, fortaleza, equanimidade e justiça.
A cordura estava representada no punho da espada, que o homem tem encerrado na mão, e, enquanto assim o tiver, está em seu poder levantá-la, baixá-la, ferir ou deixá-la.
No pomo da espada (parte onde se prende o espigão da lâmina) está toda a fortaleza da espada, já que ela sustenta o punho, a guarda e a lâmina.
A guarda, colocada entre o punho e a lâmina, é o símbolo da equanimidade. A justiça aparece na lâmina da espada, que é reta e pontiaguda, e corta igualmente de ambos os lados.
Por todas estas razões, os antigos determinaram que os cavaleiros trouxessem sempre a espada consigo.
Na França, a cerimônia culminava com a “colée”, isto é, o senhor feudal dava um grande golpe no pescoço do candidato, e lhe dizia: “Sois preux” — sê valente. Depois da cerimônia o novo cavaleiro era aclamado pelos circunstantes.
Estamos na vigília de Pentecostes. É ativa a animação no castelo paterno. No salão, a mãe põe em ordem a veste branca, os esporões dourados, a túnica de arminho que o candidato a cavaleiro vestirá no dia seguinte.
Na estrada há um grupo de jograis e menestréis. Vindos para festejar o acontecimento, executam uma música e outros números: harpa, cambalhotas, brincadeiras. E há pobres pedindo esmolas.
No salão, depois que pobres e jograis são dispensados, são arrumadas grandes cubas, amplas tinas destinadas ao banho do futuro cavaleiro e dos companheiros que devem com ele receber o sacramental: primos, amigos, pares.
À saída do banho, os jovens são vestidos com um tecido branco, seda espessa chamada sami, enfeitada de ouro e prata, sobrepondo-se a esta uma túnica de arminho com tons de cinza.
Do castelo toma-se o caminho da igreja, onde os aspirantes à Cavalaria velarão durante toda a noite, na galeria do coro.
Ao amanhecer, assistem à Missa, e depois voltam ao castelo, onde os espera um grande festim: um bom desjejum, pão branco e caça.
A mãe já providenciou para seu filho calça e camisas brancas, “mais brancas que o granizo e que as flores de abril”.
As madrinhas, que vieram para assistir à sagração, vestem no candidato seu capuz e seu manto. Ao sinal dado pelas trombetas muito agudas, começa a solenidade.
Sobre a erva verde da pradaria em torno dos muros do castelo, os servidores estenderam tapetes. O noviço é ali vestido com suas armas pelos seus padrinhos. A cota de malha de aço se ajusta como uma camisa.
O pai se aproxima e prende com gesto grave a espada ao lado esquerdo de seu filho. O jovem sente um estremecimento de emoção. Oscula a empunhadura da espada que contém uma relíquia, e seu pai lhe diz em voz baixa: “Curva a cabeça”.
Em seguida aplica sobre a nuca do rapaz um forte golpe, com a palma da mão direita. Feliz e comovido, ele abraça seu filho, transformado agora em seu par, seu igual, pelo menos no que diz respeito à Cavalaria. A cerimônia da sagração propriamente dita está terminada.
Os escudeiros conduzem até o rapaz seu cavalo. “Ele é bom cavaleiro?” — perguntam-se os espectadores. De um salto ele se põe na sela, rito que se tornou obrigatório. E da multidão se ouvem estas palavras circularem em murmúrio: “sem estribo!”
Outros escudeiros trazem ao novo cavaleiro as últimas armas com as quais ele deve se munir: o grande escudo abaulado, que cobre um homem da cabeça aos pés, no qual estão pintados leões dourados.
A lança está enfeitada na ponta com uma longa e fina bandeira de guerra de três pontas, que descem até o elmo do jovem guerreiro, quando está na posição correta.
O novo cavaleiro deve testemunhar aos olhos da multidão o seu valor ao cavalgar. Uns instantes de galope: é o “ensaio”.
Por fim a última prova, a “quintaine”: um manequim vestido de enorme e sonora armadura, que ele trata de derrubar com um golpe de lança.
O poste é endireitado ao sinal dado: “Levantarei a quintana!”
O jovem põe seu cavalo a correr, mantendo sua lança firme. Quando ao primeiro golpe a quintana é derrubada com sua ferralha, a multidão aplaude.
“Um belo golpe de quintana — observa L. Gautier — bastava, no século XII e XIII, para um homem ter sucesso, da mesma forma como em nossos dias o saber falar bem”.
Ranald de Montauban, sob o olhar de Carlos Magno, ao primeiro golpe põe ao chão o poste armado.
O imperador exclama, entusiasmado: “Tu serás senescal no meu Império!” Um homem assim tão vigoroso e decidido, tão hábil para abater uma quintana, não podia ser menos, para administrar um Estado.
Lê-se na Ordem de Cavalaria:
“O cavaleiro deve se mostrar ao povo do lugar, a fim de que este saiba que ele é cavaleiro recentemente formado e ordenado, e que está obrigado a defender e a manter elevada a honra da Cavalaria.
“Desse modo nosso cavaleiro saberá se conter antes de praticar o mal, e ainda, pela grande vergonha que será infligida àquele que desserve a Cavalaria. Assim, ele evitará o mais possível de atentar contra a Ordem de Cavalaria”.
Ao entardecer, no castelo, nova seção de música, que encerra a longa festa. Enfim o “vin du coucher” (vinho para deitar-se) e pôr-se na cama.
Depois a Igreja sentiu que era muito pobre essa maneira de ingressar na Ordem da Cavalaria, e surgiu então o adoubement religioso, que constava essencialmente, como o outro, em cingir a espada, e geralmente também na “accolade”.
Mas isso era precedido por um ato religioso, que era a vigília de armas.
O recipiendário passava a noite em oração na igreja, depois assistia à Missa (aliás, eles tinham o costume de assistir à Missa todos os dias), confessava-se e comungava, e um sacerdote benzia a espada.
Mas o “adoubement” propriamente dito — a cerimônia de cingir a espada — ainda era feito por um outro cavaleiro, um leigo.