Brasil: vocação de síntese, recebida de Portugal

0

PRC_Salvador-Museu-da-Gastronomia-Bahiana-3Compreende-se melhor como é o modo de penetrar da brasilidade, sem miscigenação — que entra e muda algo, mas altera acrescentando, muda somando —, através da imagem de uma gota de azeite sobre uma folha de papel. Ela cai e se espalha. Ela tirou algo do papel? Nada! Toda a substância do papel permanece intacta. O papel nem sequer ficou mais grosso com aquela gota de azeite, mas a gota tornou-o transparente, como que transformou-o em cristal. Entrou por ali o “azeite” e tudo mudou.

A Europa, no passado, não compreendeu inteiramente Portugal e empurrou-o para o canto. Portugal, ao mesmo tempo que plantava olivas e uvas — para produzir seu esplêndido vinho —, dentro de sua própria alma “produzia azeite”.

E esse azeite foi “derramado” no Brasil inteiro: é o povo brasileiro, povo “azeitado” por excelência, povo suave, povo amável, povo compreensivo, voltado a admirar os outros, que aprecia encontrar em outro povo uma qualidade. Fica encantado quando aprende de outro uma moda nova, um estilo novo, um arranjo novo, não pensando em se comparar com ninguém. Dispondo de uma tal vastidão de terras, que abriu para todo mundo com toda naturalidade, como quem não está fazendo favor.

Esse povo recebe aqui as mais variadas raças do mundo, às quantidades, e penetra a todas por um lado da alma, que é o que ela tem de mais íntimo. E é curioso: pode-se pegar qualquer povo vindo ao Brasil; se não se miscigena, ele embrasileira. Isso é o mais característico: em alguma coisa no cerne de sua alma penetra o tal “azeite”, de tal forma que ele continua inteiramente pertencente a seu povo, mas, na essência, algo se acrescenta — sem tirar nada — e põe ordem em tudo.

É essa ação de presença do povo brasileiro que torna as coisas afáveis, e, assim, voltadas para a síntese.

_______________________________________

 Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para sócios e cooperadores da TFP, em 17 de abril de 1980. Sem revisão do autor.

Transcrito do site “ABIM”

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui