O exemplo de Perpétua e Felicidade

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    A todo momento lê-se na imprensa, vê-se na televisão, ouve-se no rádio que é preciso tomar medidas contra a desigualdade, que esta aumenta, que o governo não consegue controlá-la etc. etc.

    Mas nunca se faz a distinção – absolutamente indispensável – entre a desigualdade exagerada e abusiva, portanto condenável, e a desigualdade boa e legítima, que está de acordo com a ordem natural das coisas. De modo que a impressão subliminar que o noticiário transmite é de que toda desigualdade, seja qual for, é sempre um mal e deve ser erradicada.

    Segundo essa concepção, o ideal — não explicitado, mas latente — seria alcançado numa sociedade onde houvesse a igualdade absoluta, de todos os modos e em todas as formas. É a utopia revolucionária em sua formulação crua e nua.

    Tal teoria acaba arrombando as portas das mentes das pessoas, que não se dão ao trabalho de refletir e analisar aquilo que vem subentendido no noticiário, instalando-se assim no universo de conhecimentos de cada indivíduo como uma espécie de verdade evidente, que não é preciso demonstrar.

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    Ora, nada de mais falso. As desigualdades exageradas e abusivas são más, não por serem desigualdades, mas por serem exageradas e abusivas. As desigualdades justas e harmônicas são um bem. Não seria difícil provar essa tese, mas seria longo e não caberia nesta seção. Baste-nos lembrar o ensinamento de Plinio Corrêa de Oliveira:

    “Em um universo no qual Deus criou desiguais todos os seres, inclusive e principalmente os homens, a injustiça é a imposição de uma ordem de coisas contrária a que Deus, por altíssimas razões, fez desigual. Assim, a justiça está na desigualdade. […] Com efeito, Deus criou as desigualdades, não aterradoras e monstruosas, mas proporcionadas à natureza, ao bem-estar e ao progresso de cada ser, e adequadas à ordenação geral do universo. E tal é a desigualdade cristã” (A justiça está na desigualdade cristã, “Jornal da Tarde”, 9-6-1979).

    Para o espírito malfazejo da Revolução, toda desigualdade deve gerar um ódio e uma luta de quem é menos contra quem é mais. Pelo contrário, onde entrou o espírito autenticamente cristão, a desigualdade gera respectivamente o serviço e a proteção, ligados pelo laço do amor a Deus.

    Perpetua e Felicidade
    Santas Perpétua e Felicidade (século III)

    Foi o que se deu, por exemplo, com as santas Perpétua e Felicidade (século III). Perpétua era uma nobre romana muito rica, que se converteu ao cristianismo. Felicidade era sua escrava, que igualmente se converteu. Por isso foram conduzidas à prisão e condenadas à morte. Amarradas com arame e colocadas na arena diante de uma vaca brava, esta a princípio as atacou, mas depois desistiu.

    O povo sanguinário que a tudo assistia pediu então que lhes cortassem as cabeças. A senhora e a escrava abraçaram-se emocionadas. Felicidade teve sua cabeça cortada por um golpe de machado. O verdugo, muito nervoso, errou o golpe em Perpétua. Ela deu um grito de dor, mas em seguida posicionou melhor a cabeça e indicou ao verdugo onde deveria atingi-la.

    De tal modo elas foram unidas na fé, que a senhora e a escrava morreram juntas, sendo por isso seu martírio celebrado pela Igreja no mesmo dia 7 de março.

    Sem querer de nenhum modo justificar aqui a escravidão romana, que tinha aspectos altamente censuráveis, a lição que nos dão Perpétua e Felicidade é de como a fé cristã e o amor de Deus unem de modo perfeitíssimo pessoas colocadas nos extremos opostos da escala social. Perpétua não desprezou Felicidade, nem esta se revoltou contra a sua senhora. Permanecendo cada uma na sua condição social, o amor de Cristo as uniu na Terra e na Eternidade.

    Como é injusta e antinatural a pregação de uma igualdade a qualquer preço!

    4 COMENTÁRIOS

    1. As castas na India a meu ver, são condenaveis. Mas o mundo moderno produz um tipo de casta muito mais reprovavel, como certas modelos ou artistas sem nenhum valor moral ou intelectual, que fazem imensa fortuna expondo o corpo em publicidade, enquanto o trabalhador ve sua esposa numa maternidade coletiva ao lado de prostitutas em nome da igualdade. O futebol por exemplo que é um exporte vulgar, ou histriões, chamados de apresentadores, fazem fortunas imensas. Já o fazendeiro ou empresário é assediado por fiscais do Ibama, Receita, semace, Mte,
      ITR, e todo um exercito de corruptos querendo vantagens.

    2. Julgo o artigo um pouco confuso.
      A desigualdade é natural e, por conseguinte, nada tem de mau, nem de bom. É neutra.
      Deus a criou, porque ela é absolutamente necessária para a vida. Não há vida em sociedade, até mesmo, nem haverá sociedade, se todos somos perfeitamente iguais. Portanto, a igualdade é uma utopia
      A forma como se instalou a desigualdade pode ser malévola, se ela se conseguiu através de caminhos condenáveis: se veio pelo roubo, pelo assassínio, pela cobiça, e semelhantes.
      O uso que se faz da desigualdade pode ser também malévolo: se a desigualdade nos leva ao abuso do poder, ao achincalhamento dos inferiores, à preparação de crimes, etc.

      Há que bendizer a desigualdade, mas é necessário que ela não seja afrontosa, que ela seja humilde, que ela esteja a serviço do “menor”, que ela viva com o sentido de que os primeiros são os últimos e os últimos serão os primeiros

    3. A desigualdade em si não é um mal, mas um bem, ela incentiva a competição, que gera a inovação, que gera o progresso, todas as conquistas sociais, tecnológicas e científicas se deve a esse fator! A ela deve ser creditado o elevado padrão de conforto que desfrutamos hoje em ralação aos nossos antepassados! Que morriam cedo, atacados por doenças que hoje são facilmente curadas com modernos recursos da medicina.
      Mas como diz aquele velho ditado popular: “a diferença entre o remédio e o veneno está
      na dosagem”. claro que desigualdade em escala fora dos padrões é condenável!
      O problema consiste em definir o “ponto de inflexão”, a partir de onde começa desigualdade patológica? Até onde vai a desigualdade sadia? É onde os “teóricos do partido” deitam e rolam, oferecendo as delícias da utopia de uma sociedade sem classe, sem pontos fora da curva, aliás até sem curva!

    4. A veces escuchamos que comuismo ruso tenia aspcto capitalistas y que por lo mismo había traicionado ideales propicios al pueblo………Falso según el programa marxista asi debio ser para instalar eficazmente el comunismo . Por otra parte sin esos rasgos capitalistas hubier sido u tsunami genocida, mas de lo que fue.

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