Na encruzilhada histórica em que o Brasil se encontra, nada mais oportuno do que lembrar o pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira sobre a missão do Brasil como nação cristã.
De um artigo publicado no “Legionário” (7-10-1945), que na época tinha este líder católico como diretor, extraí algumas de suas idéias sobre o tema, aproveitando as festas mariais de outubro, mês das missões.
Os subtítulos não constam do original e o texto, em algumas passagens, foi resumido.
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Os desbravadores portugueses tinham alma de cruzados
Na época de laicismo em que vivemos, a missão histórica de Portugal costuma ser considerada de um ponto de vista inteiramente agnóstico.
O ciclo das navegações é apreciado, pela maior parte dos compêndios, apenas em seus resultados econômicos e políticos. De nada ou quase nada tem valido, que historiadores de maior quilate hajam demonstrado coisa diversa.
Acumulam-se as provas de que o primeiro móvel da alma lusa, na aventura das navegações, foi apostólico. Os desbravadores de oceanos que o pequenino Portugal deitou pela vastidão dos mares tinham alma de cruzados, e não de mascate.
Para a História corrente, manipulada e deformada segundo as conveniências da irreligião, a glória de Portugal continua privada do esplendor sacral e heróico dos ideais religiosos, e reduzida ao mérito sem “panache” das realizações materiais da vida burguesa.
O Brasil deve a Portugal a graça de pertencer à Igreja
Nada disto, porém, altera a evidente realidade dos fatos. A monarquia fidelíssima foi essencialmente missionária. O Brasil deve a Portugal a ação missionária do luso, a suprema graça de pertencer a Igreja. E não é só o Brasil. Nem é só a África. Mais além, bem junto da zona conflagrada do Extremo Oriente, na Índia, e mais além, no mundo amarelo, é o esforço missionário português que deixou fincadas as sentinelas avançadas da Religião, as colônias lusas de que se irradia nas gentilidades vizinhas um proselitismo até hoje vivaz e fecundo.
Era bom que se lembrasse isto no mês das Missões. O Brasil nasceu como uma realização missionária.
A obra missionária de Portugal não acabou
Essa grande nação missionária, que é Portugal, não encerrou o ciclo de seus feitos religiosos com as navegações. Muito recentemente, a Providência Divina confiou ao povo português outra grande obra missionária. Querendo falar ao mundo, Nossa Senhora escolheu um canto do solo português para as suas aparições.
Escolheu três pequeninos portugueses como seus arautos, fixou em Portugal essa fonte perene de milagres, que é Fátima, e com isto atraiu para Portugal as esperanças de todos os sofredores da terra. Em Fátima, Nossa Senhora fez revelações de um alcance universal e não se limitou a falar de Portugal.
Toda a crise contemporânea, e suas raízes profundas, da impiedade e pecado, os cataclismos universais que dela vão nascer, tudo que mais a fundo interessa à humanidade inteira nas terríveis convulsões de hoje, tudo isto Nossa Senhora o confiou a três pastorinhos portugueses, para que dos lábios destes pequeninos pendesse para o mundo orgulhoso e abatido, a terrível e maravilhosa mensagem.
É impossível não ver que Nossa Senhora concedeu à antiga nação missionária uma grande tarefa histórica a realizar. Portugal inteiro, as nações de língua portuguesa juntamente com Portugal tem a incumbência de pregar a todos os povos, o grande fato religioso do século XX, que são as aparições de Fátima.
Somos chamados a dilatar o Reino de Cristo
Este mês missionário tem duas grandes festas de Maria. Nossa Senhora do Rosário, e Nossa Senhora de Fátima.
Fruto de um esforço missionário, o Brasil foi sempre ardente devoto de Maria Santíssima. A festa de Fátima, tem para nós um especialíssimo significado. Para Portugal as aparições Fátima significam que a gloriosa fecundidade da nação missionária não esgotou suas possibilidades de ação ao serviço da Igreja.
Para o Brasil, lembram de modo muito especial, que estamos no momento de produzir para a dilatação do Reino de Cristo os frutos que as inúmeras graças e dons, sobrenaturais e naturais, de que fomos cumulados, nos obrigam a dar ao mundo.
O Brasil entra para a primeira plana da vida internacional, precisamente em uma quadra na qual o esforço missionário é mais necessário do que nunca. Não se trata só de conduzir ao redil de Jesus Cristo as nações do Oriente. É no Ocidente, é no próprio grêmio da Cristandade em ruínas, que se instalou um paganismo mil vezes pior do que o antigo.
O neopaganismo contemporâneo não tem a explicação tantas vezes cabível quanto aos pagãos orientais: a ignorância. No paganismo ocidental fermenta a apostasia, o pecado contra o Espírito Santo, o amor deliberado e satânico ao erro e ao mal. É contra os hereges de hoje, que perderam suas últimas tintas de cristianismo, que o esforço missionário do Brasil se torna necessário.
No admirável “Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”, de São Luiz Grignon de Montfort, lê-se com freqüência esta súplica: “para que venha o vosso Reino, venha a nós o Reino de Maria”.
O Brasil cumprirá sua missão se for devoto de Maria
O Brasil tem de ser o grande arauto da realeza de Jesus Cristo. E para que ele cumpra sua missão, é preciso que ele ainda atenda ao apelo marial de Fátima, se torne um pregoeiro infatigável da devoção a Nossa Senhora. As devoções marianas são as estradas reais pelas quais se chega a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em Fátima, Nossa Senhora recomendou duas devoções, de modo todo particular. A elas há de se apegar o Brasil, com o maior fervor. Uma é a do Coração Imaculado de Maria. Outra é a do Santo Rosário.
Se o Brasil quiser ser a grande nação de cruzados e missionários do séculos vindouros, é por meio de uma ardente piedade marial que conseguirá essa graça. E se quiser essa graça, há de implorá-la pelos meios que a própria Virgem indicou.
É bom lembrar da missão do Brasil agora que vamos decidir que rumo vamos dar à essa Nação querida pela Providência.
O Brasil é, e sempre será, a terra de Santa Cruz!
Lutemos e rezemos para o Brasil conquistar sua vocação.
Que Nossa Senhora de Fátima o proteja.