O livro Reforma Agrária — Questão de Consciência, com argumentação persuasiva baseada no Magistério pontifício e em grandes autores católicos, foi uma barreira eficaz e indispensável para a defesa do direito de propriedade e da livre iniciativa no País
Catolicismo — Em relação ao livro, como reagiram os proprietários rurais?
Dr. Plinio Xavier — Os principais líderes dos fazendeiros – Clóvis Salles Santos da FARESP, Severo Fagundes Gomes da Associação Brasileira dos Criadores, Sálvio de Almeida Prado da Sociedade Rural Brasileira – e fazendeiros de grande destaque nos meios econômicos de São Paulo, como João Mellão e outros, mantiveram sucessivos encontros com os autores do livro.
Até então desanimados ante as propostas do projeto de revisão agrária, eles ficaram profundamente impressionados com o seu caráter anticristão ressaltado no livro, como também muito desapontados com o apoio de membros eminentes do episcopado.
Catolicismo — O livro exerceu algum efeito sobre o projeto do governo Carvalho Pinto?
Dr. Plinio Xavier — A Assembléia Legislativa de São Paulo, à qual incumbia discutir e aprovar (ou não) o projeto, era presidida na época pelo deputado Abreu Sodré, e uma bancada numerosa apoiava o governo Carvalho Pinto.
A oposição mais significativa era constituída pela bancada do Partido Social Progressista, do ex-governador Adhemar de Barros. O presidente da Comissão de Economia da Assembléia, deputado Ciro Albuquerque, convidou os autores de RA-QC para exporem ao plenário do Legislativo Paulista as teses principais do livro.
A sessão foi realizada com a presença de vários assessores da Secretaria da Agricultura, bem como de membros do “Grupo do Plinio”. Enquanto os quatro autores do livro expunham suas posições, os deputados governistas e os assessores da Secretaria da Agricultura procuravam ressaltar que vários bispos, inclusive o então cardeal-arcebispo D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, mostravam-se favoráveis ao projeto.
Também quanto à parte técnica, o economista Luiz Mendonça de Freitas encontrou opositores dentre os representantes enviados pela Secretaria da Agricultura. A deputada Conceição da Costa Neves, vice-presidente da Assembléia, teve especial destaque, mostrando-se fortemente favorável às teses do livro e contrária ao projeto de “Revisão Agrária”.
Catolicismo — Como reagiu o episcopado paulista?
Dr. Plinio Xavier — Diante de toda a celeuma em torno do assunto, o episcopado paulista reuniu-se juntamente com D. Helder Câmara, secretário-geral da CNBB, e alguns prelados de outros estados.
Uma emissora de TV mostrou D. Helder e mais quatro ou cinco bispos dos estados de São Paulo e do Espírito Santo, num enfático pronunciamento de apoio ao projeto de “Revisão Agrária”. O programa televisivo chocou profundamente a opinião pública católica, já assustada com o aspecto socialista desse projeto, denunciado por RA-QC.
Catolicismo — O projeto acabou sendo aprovado pela Assembléia Legislativa?
Dr. Plinio Xavier — Impressionada pela argumentação do livro e assustada com a reação da opinião pública, a maioria governista apresentou um projeto substitutivo muito mais moderado, mas assim mesmo inaceitável pela opinião pública católica, que foi convertido em lei promulgada pelo governador Carvalho Pinto.
O leitmotiv da campanha do então secretário da agricultura Coutinho Nogueira, para a sucessão governamental, foi exatamente esse projeto. E o resultado dessas manobras manifestou-se nas urnas: Coutinho Nogueira, apoiado pelo governo Carvalho Pinto, foi relegado a um terceiro lugar nas eleições, tendo sido escolhido novamente governador a polêmica figura de Adhemar de Barros.
Catolicismo — A TFP figurava entre os organizadores da Marcha da Família com Deus pela Liberdade em 1964, considerada a principal manifestação popular que concorreu para a queda do governo João Goulart?
Dr. Plinio Xavier — A esse respeito o livro Um homem, uma Obra, uma Gesta, historiando a luta do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, registra:
“Quando, a partir do dia 19 de março, as grandes e memoráveis Marchas da Família com Deus pela Liberdade começaram a atrair para as ruas imensas multidões, delas participaram com entusiasmo os elementos da TFP, alegres por terem dado um peculiar contributo para a criação desse clima ideológico e psicológico que se traduziu em tais manifestações de patriótico inconformismo. Com o suceder das Marchas, ficava tão claro o sentir do povo brasileiro, que ninguém mais deteria o curso dos acontecimentos.
“No derradeiro discurso [no dia 30 de março] televisionado (que antecedeu de um dia a sua queda), Goulart, exasperado, vituperou acerbamente aqueles que lutavam contra seus aliados, os ‘católicos esquerdistas’, e contra as ‘reformas de base’: ‘O veto desta minoria reacionária ao meu governo […] fortaleceu-se quando afirmei que as Reformas de Base são um imperativo da hora em que vivemos. […] É demasiada a audácia desses aventureiros, de se atreverem a falar em nome da Igreja. Não me cabe, porém, combater essa usurpação, pois a Ação Católica de Minas e de São Paulo já tomou essa iniciativa’” (“O Globo”, 31-3-64, apud “Um homem, uma Obra, uma Gesta ── Homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira, Edições Brasil de Amanhã, São Paulo, p. 79).
ESTÁ NA HORA DESSES BISPINHOS DE ARAQUE TOMAREM ATITUDES PARA REVERTER O CAOS QUE FABRICARAM NO CAMPO DURANTE AS ULTIMAS DECADAS
Vem de longe o apoio da CNBB a posições nítidamente comunistas, que são eles, o que querem?