Perto da metade dos católicos chineses não endossa a recusa da autoridade papal exigida por Pequim. Eles integram a chamada “Igreja clandestina” que vive sob a ameaça constante de invasão policial e até mesmo de prisão para fiéis e sacerdotes, constatou a revista “Time”.
Um fotógrafo estrangeiro viveu na China há oito anos e documentou a vida do rebanho “clandestino” de Hebei, que é guiada pelo padre Dong Baolu.
A metade da cidade outrora foi católica devido ao apostolado dos missionários estrangeiros, que difundiram muito profundamente a fé nas mais variadas localidades da China rural.
A revolução comunista de Mao Tsé-Tung em 1949 e as campanhas políticas de extinção dos opositores nas décadas seguintes deram um golpe tremendo no rebanho católico.
O regime perseguidor se perpetua até hoje e exige dos fiéis que queiram se reunir a submissão a um ente espúrio denominado Associação Patriótica Católica Chinesa.
Essa dependência estatal socialista cultiva relações estáveis com o progressismo católico no Ocidente, notadamente com a Teologia da Libertação e certas conferências episcopais, inclusive a brasileira, que há poucos anos recebeu sua delegação em Brasília. Também está num controvertido diálogo com a Ostpolitik vaticana, ou política de aproximação da Santa Sé com os governos comunistas.
Porém, o padre Dong Baolu, de Hebei, bem como muitos outros sacerdotes e bispos se recusam a ceder às intimidações e seduções. No último Domingo de Páscoa, conta “Time”, o sacerdote voltou a elevar o Santíssimo Sacramento no cálice durante a Missa, para adoração dos fiéis reunidos em sua capela clandestina.
Havia ameaças da polícia socialista, mas esta não afastou os fiéis, que ocuparam um beco e um telhado para receberem a comunhão.
Enquanto isso, o fotógrafo viu que a igreja oficial próxima, acumpliciada com a Associação Patriótica Católica Chinesa, estava completamente vazia.
Há na China um braço de ferro, cujo fiel da balança é constituído pelos homens. Os dois braços são, porém, fabulosamente maiores: o Céu e o inferno.
Nesse longo braço de ferro, a garra de Satanás – representada pela igreja patriótica, a Ostpolitik vaticana e o governo comunista – dá sinais de fraquejar.
Um número cada vez maior de chineses está encontrando a esperança na religião.
As contrafações do catolicismo – como os protestantes e as diversas formas de sincretismo religioso, que são menos perseguidos e até tolerados pelo socialismo – têm mais membros que o Partido Comunista.
É na procura da Verdade que esses chineses acabam descobrindo, não sem muitos sofrimentos, a única Igreja verdadeira, oculta na clandestinidade: a Santa Igreja Católica Romana.
A repressão oficial está cada vez mais furiosa. Nos últimos anos, centenas de templos clandestinos que desafiavam o governo exibindo suas cruzes as tiveram removidas, ou os templos definitivamente demolidos.
O governo socialista apela sorrateiramente ao Vaticano, sonhando conseguir um acordo através do qual a Ostpolitik eclesiástica lhe entregue na bandeja a cabeça dos fiéis clandestinos.
Por isso, eles temem a aproximação entre o governo carrasco de Pequim e a Santa Sé, a qual ganhou força com o Papa Francisco.
Se houve muito sangue derramado por mártires chineses nos séculos passados, sob o regime comunista no século XX ele foi torrencial.
Esse sangue “semente de cristãos”, como disse Tertuliano, está rendendo surpreendentes frutos e acelerando o dia em que a China se verá livre do monstro marxista e de seus “companheiros de viagem” católico-progressistas.