Veja o importante pronunciamento do recém-nomeado Cardeal Raymond Burke sobre como o católico deve ver a questão das eleições.
E confira abaixo trechos do discurso de Mons. Burke em 09/10 p.p., no 5º Congresso da Oração pela Vida, em Roma.
“Nas palavras do Papa Bento XVI, é necessário mais uma vez mostrar às futuras gerações a beleza do matrimônio e da família, e o fato de que essas instituições correspondem às mais profundas necessidades e dignidade da pessoa (Caritas in veritate, n. 44). Assim, ele observa que “os Estados são chamados a instaurar políticas que promovam a centralidade e a integridade da família fundada no matrimonio entre um homem e uma mulher, célula primeira e vital da sociedade, e assumir responsabilidade por suas necessidades econômicas e orçamentais, respeitando ao mesmo tempo seu caráter essencialmente relacional” (Caritas in veritate, n. 44).
O Magistério e a Promoção da Cultura da Vida
O próprio fundamento de nossa vida em Cristo e nossa salvação eterna depende de nossa relação com o Magistério da Igreja. Em um mundo que valoriza acima de tudo o individualismo e a autodeterminação, o cristão é facilmente tentado a considerar o Magistério do ponto de vista do seu individualismo e auto-realização. Em outras palavras, ele é tentado a relativizar a autoridade do Magistério. Esse fenômeno é hoje popularmente conhecido como “catolicismo de cafeteria” (onde cada um escolhe o “prato” ou doutrina que deseja seguir).
A missão do bispo como verdadeiro pastor do rebanho é fundamental, realmente insubstituível. O Papa João Paulo II, em sua Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores Gregis “Sobre o Bispo, servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo”, promulgada em 16 de Outubro de 2003, no vigésimo quinto aniversário de sua eleição para a Cátedra de São Pedro, recordou o Rito de Ordenação do Bispo e especificamente a imposição do Livro dos Evangelhos “sobre a cabeça do bispo eleito” durante a oração de consagração que contém a forma do Sacramento, observando:
“Este gesto indica, por um lado, que a Palavra abarca e guarda o ministério do Bispo e, por outro lado, que a vida do Bispo, para ser totalmente submetida à Palavra de Deus em seu engajamento de pregar o Evangelho diariamente com toda paciência e sã doutrina” (cfr. 2 Tim. 4.) (Papa João Paulo II, Exortação Apostólica Pastores Gregis “Sobre o Bispo, servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo”, 16 de Outubro de 2003, n. 28).
Anteriormente, na Exortação Apostólica pós-sinodal ele frisou que a “proclamação de Cristo está sempre em primeiro lugar e o Bispo é o primeiro pregador do Evangelho por suas palavras e pelo testemunho de sua vida”. Recordou então aos Bispos que devem “estar conscientes dos desafios da hora presente e ter a coragem de enfrentá-los” (n. 26).
Tudo que nossa Fé contém, que em sua primeira e segunda Epístola a Timóteo São Paulo chama de depósito da fé, encontra-se na Sagrada Escritura e na Tradição (1 Tim. 6,20 e 2 Tm 1,12-14). A fé em sua integridade foi confiada à Igreja por Cristo através do ministério dos Apóstolos. O depósito da fé é o ensinamento dos Apóstolos e o viver tal ensinamento na vida sacramental e de oração, dando testemunho do mesmo em nossa vida moral. Isso tudo é baseado na sã doutrina que encontra sua máxima expressão nos Sacramentos, sobretudo na Santa Eucaristia, e é testemunhado pelo fiel pela santidade de sua vida (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 84).
A responsabilidade pelo depósito da fé e por sua transmissão em todos os tempos pertence “somente ao Magistério vivo da Igreja” (Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição dogmática Dei Verbum “Sobre a Divina Revelação”, 18 de Novembro de 1965, n. 10). O “Magistério vivo” ou Magistério da Igreja, exercido pelo Pontífice Romano e pelos Bispos em comunhão com ele, recebe sua autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Cristo confiou aos Apóstolos, com Pedro como seu chefe e a seus sucessores os Bispos, juntamente com seu chefe, o Sucessor de Pedro, a autoridade de ensinar autenticamente (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 85). O Romano Pontífice e os Bispos são servos de Cristo e de Sua santa Palavra. O Magistério “ensina somente aquilo que lhe foi entregue. Sob o comando e com a ajuda do Espírito Santo, ele ouve esta palavra com devoção, guarda-a com dedicação e a expõe fielmente” (Dei Verbum, n. 10). O Pontífice Romano e os Bispos em comunhão com ele ensinam apenas o que está contido no depósito da fé como sendo verdade divinamente revelada (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 86).
O Magistério, em obediência a Cristo e pelo poder da graça particular do Espírito Santo, interpreta a Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura e na Tradição em matéria de fé e moral. O Pontífice Romano e os Bispos em comunhão com ele definem os dogmas de fé, isto é, as verdades contidas no depósito da fé e as “verdades necessariamente conexas com tais dogmas” (Catecismo da Igreja Católica, n. 88).
No que diz respeito à moral, o Magistério representa fielmente o Decálogo e as exigências da vida virtuosa. O magistério fracassaria em sua missão por Deus confiada se não aplicasse a Tradição viva às circunstâncias da vida diária em Cristo. O Papa João Paulo II exortou os Bispos a exercerem o magistério em relação à vida moral com estas palavras:
As regras que a Igreja estabelece refletem os mandamentos divinos, que encontram sua coroa e síntese no mandamento evangélico do amor. O fim para o qual tende toda regra divina é o maior bem do ser humano. … Tampouco devemos esquecer que os Dez Mandamentos têm sua firme fundação na própria natureza humana e, portanto, os valores que defendem têm validade universal. Isto é particularmente verdadeiro sobre valores como a vida humana, que deve ser defendida desde sua concepção até seu fim com a morte natural; a liberdade dos indivíduos e das nações; a justiça social e as estruturas necessárias para alcançá-la (Pastores gregis, n. 29).
Em uma cultura assolada pelo que o nosso Santo Padre, em sua homilia na manhã do início do conclave no qual foi eleito Sucessor de São Pedro, chamou de “ditadura do relativismo”, o Bispo, como Principal Mestre da fé e da moral na Diocese, carrega o fardo especialmente pesado e constante de fornecer o são ensino que salvaguarda e promove o bem de todos os fiéis, especialmente dos que não podem cuidar de si mesmos ou defender-se (“Dittatura del Relativismo”: “Initium Conclavis” Acta Apostolicae Sedis, 97 [2005], p. 687).
A catequese é uma responsabilidade das mais fundamentais que o Bispo exerce em nome do bem dos fiéis confiados aos seus cuidados, e em última análise, da sua salvação eterna. O Papa João Paulo II lembrou aos Bispos que cumprem sua responsabilidade pelo primeiro anúncio da fé, ou kerigma, “que é sempre necessário suscitar a obediência da fé, mas que hoje em dia, numa época marcada pela indiferença e pela ignorância religiosa por parte de muitos cristãos, torna-se ainda mais urgente” (Pastores Gregis, n. 29). A catequese dos que abraçaram a fé e se esforçam para ser obedientes a ela são unidos pelo kerigma. O Papa João Paulo II declarou: “É, portanto, dever de cada Bispo dar real prioridade em sua Igreja particular a uma catequese ativa e eficaz. Ele deve mostrar sua preocupação pessoal através de intervenções diretas destinadas a promover e preservar uma autêntica paixão pela catequese” (Pastores Gregis, n. 29).
Como o Papa João Paulo II lembrou aos bispos na Exortação que acabamos de citar, o Magistério inclui também os preceitos da lei natural inscrita por Deus no coração humano, as exigências de conduta inerentes à própria natureza do homem e à ordenação do mundo criado por Deus. A obediência às exigências da lei natural é necessária para a salvação e, portanto, ensinar a lei natural está no âmbito da autoridade do Magistério e é parte solene de sua responsabilidade. “Ao recordar os preceitos da lei natural, o Magistério da Igreja exerce parte essencial de sua missão profética de anunciar aos homens quem realmente são e recordar-lhes o que devem ser diante de Deus” (Catecismo da Igreja Católica, n . 2036). Quando Bispos e fiéis obedientemente se submetem de alma e coração ao impulso do Espírito Santo, a verdade perene da fé resplandece em toda a Igreja para a edificação do Corpo de Cristo e a transformação do mundo.
A resposta tanto do Bispo como dos fiéis ao exercício da autoridade docente de Cristo é a obediência, pois reconhecem nas verdades proclamadas a respeito da fé e da moral, o guia infalível para sua salvação em Cristo, que disse aos seus Apóstolos: “Quem vos ouve, a mim ouve” (Luc. 10,16). As palavras de Nosso Senhor e seu significado são inconfundíveis.
A obediência ao Magistério é uma virtude que se alcança pela prática dessa obediência. Quando os pastores do rebanho são obedientes ao Magistério a cargo do seu exercício, os membros do rebanho crescem na obediência e seguem com Cristo no caminho da salvação. Se o pastor não é obediente, o rebanho facilmente cede à confusão e ao erro. O pastor deve estar especialmente atento aos assaltos de Satanás, que sabe que o trabalho de dispersão do rebanho será fácil se conseguir ferir o pastor (ver Zacarias 13:7).
Na sua Encíclica Fides et ratio “Sobre a relação entre a Fé e a Razão”, o Venerável Papa João Paulo II recordou-nos que o Magistério está estritamente ligado à Sagrada Tradição e à Sagrada Escritura, e ao mesmo tempo a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura são transmitidas de geração em geração pela obediência ao Magistério. O Papa João Paulo II declarou:
Abaixo a tradução de trechos do discurso do recém-nomeado Cardeal Raymond Burke, chefe da Signatura Apostolica, o equivalente no Vaticano ao nosso Supremo Tribunal Federal (STF), durante o 5º Congresso de Oração pela Vida, em Roma, no dia 9/10 p.p.
A “regra suprema de sua fé” vem da unidade que o Espírito estabeleceu entre a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, numa reciprocidade que significa que nenhum dos três pode sobreviver sem os outros (Fides et ratio, n. 55).
A fé é viva. A fé é recebida pela ação do Espírito Santo habitando dentro da alma e é expressa pela ação purificadora e fortalecedora do Espírito Santo, que inspira o homem a colocar sua fé em prática.
A disposição da mente e do coração para crer tudo o que Deus nos revelou e fazer tudo o que nos pede é a obediência da fé. A obediência da fé é a resposta adequada à revelação de Deus, que tem sua plenitude em Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Heb 11,8). A obediência ao Magistério, guardião e mestre da fé, é a disposição fundamental do católico batizado e crismado (cf. Catecismo da Igreja Católica, nos. 142-143).
A Virgem Maria viveu perfeitamente a obediência da fé. Na Visitação, sua prima Isabel identificou Maria como Mãe do Redentor, com as palavras: “Bem aventurada aquela que acreditou que as palavras do Senhor a seu respeito se cumpririam” (Lucas 1,45). A resposta de Maria ao anúncio do Arcanjo Gabriel expressa perfeitamente a disposição de total obediência total que marcou sua alma: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas, 1,37-38). A resposta de Maria é o modelo de como deve ser nossa resposta diária à vontade de Deus em nossas vidas, que o Magistério da Igreja nos ensina. As últimas palavras de nossa Mãe Santíssima, registradas no Evangelho, resumem sua maternal instrução para nós. Quando os serventes de vinho nas Bodas de Caná aproximaram-se pedindo sua ajuda, ela os enviou ao Filho de Deus, seu Filho, dizendo: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Obedecendo a seu materno conselho, os serventes testemunharam o primeiro milagre do ministério público de Jesus.