O Serviço de Informação de Segurança da República Checa (BIS) publicou seu Relatório Anual 2015, resumido pela agência EUobserver.
Além do terrorismo, os serviços de contra inteligência identificaram que os “serviços de inteligência chineses e russos eram os mais ativos na República Checa”.
A espionagem chinesa entrou de mãos dadas com a presença econômica de Pequim no pequeno, mas estratégico país da Europa Central.
As mexidas dos serviços secretos chineses visaram primariamente influenciar a política e a economia checas em favor dos interesses econômicos de Pequim.
O verdadeiro elefante – ou urso – no salão foi a Rússia.
A espionagem russa foi “a mais ativa na República Checa” em 2015. O BIS disse que “não identificou nenhuma outra atividade relevante das espionagens de outros países da ex-União Soviética”.
Na capital checa, outrora nas mãos do exército vermelho, a Rússia mantém 140 diplomatas acreditados, o dobro dos EUA.
Segundo o BIS, os espiões ativos da Rússia agem sob a cobertura da embaixada russa. O serviço checo reconhece que essa cobertura é também real nas embaixadas de outros países, “mas o número dos oficiais de inteligência russos é muito maior”.
Em geral, os países amigos declaram quem são seus agentes, mas a Rússia, não.
“Essa conduta clandestina sobre os filiados ao serviço de inteligência sinaliza claramente atividades que ameaçam a segurança e os interesses da República Checa”.
O problema se repete em toda a União Europeia. Os serviços de inteligência da Suécia, Sapo, estimam que um terço dos 35 funcionários russos acreditados na embaixada de Estocolmo são espiões.
Mas, para o BIS, o Kremlin tem seis objetivos bem definidos.
O primeiro é “debilitar a independência da mídia checa” tradicional ou virtual, infiltrando-a e introduzindo a produção maciça de propaganda e desinformação russa, controlada pelo Kremlin.
Isso, em segundo lugar, visa minar “a resistência na guerra da informação” com desinformação pré-fabricada atribuível a fontes checas, servindo inclusive para reforçar os pontos de vista do Kremlin ante a opinião pública russa.
Também, terceiro, visa distorcer “as percepções e os pensamentos do público checo, debilitando sua vontade de resistência, saturando as informações que relativizam a verdade e a objetividade, e promovendo a ideia de que todo o mundo mente”, para a opinião pública perder a vontade de resistir.
O quarto objetivo consiste em “criar ou promover tensões dentro da sociedade e entre os grupos políticos da República Checa, formando organizações títeres que promovem dissimulada ou abertamente temáticas populistas ou extremistas”.
O quinto é “perturbar a união e prontidão da NATO” como, por exemplo, “perturbar as relações checo-polonesas, espalhando desinformação e rumores alarmantes que difamem os EUA e a NATO, e enganem sobre o perigo potencial de uma guerra com a Rússia”.
O sexto consiste em “danificar a reputação da Ucrânia e isolá-la internacionalmente, engajando cidadãos e organizações checas anti-ucranianas lideradas secretamente pela Rússia”.
O BIS também alerta contras as operações da Rússia no conflito da Síria e as infraestruturas que está criando secretamente na vida checa.
A conclusão é carregada: o conjunto de atividades russas visa “desestabilizar ou manipular a sociedade e o ambiente político checo a qualquer momento, segundo as intenções da Rússia”.
Isso seria apenas o início de futuras operações russas com vistas a instalar em 2018, no palácio presidencial de Praga, um político populista que seria nada mais nada menos que um “Cavalo de Troia” russo, geopoliticamente útil a Moscou na Europa Central.