Podem as recentes declarações do Cardeal Müller encerrar os debates a respeito da Amoris Laetitia?

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    O Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Gerhard Müller, criticou o procedimento dos Cardeais Burke, Brandmüller, Meisner e Cafarra a respeito da Carta Apostólica Amoris Laetitia.

    [Relembrando: Esses quatro Cardeais enviaram um catálogo de perguntas ao Papa Francisco com as assim chamadas “dubia” (dúvidas), pedindo-lhe precisões a respeito de determinadas passagens de Amoris Laetitia. Em particular, trata-se da questão de saber se, sob certas condições, os divorciados recasados podem ser autorizados a receber a comunhão. Segundo a doutrina tradicional da Igreja, isso não é possível. A Amoris Laetitia contém passagens sobre essa problemática que levaram a interpretações diametralmente opostas. Não raro essas passagens são interpretadas de acordo com o próprio gosto. Deste modo, alguns bispos liberais e até mesmo Conferências Episcopais estão agora defendendo que foram levantadas as limitações para a distribuição da comunhão aos divorciados recasados. Os conservadores afirmam que nada teria mudado. O fiel comum acompanha perplexo este debate que vai se tornando cada vez mais agudo.]

    Há pouco, em 8 de janeiro de 2017, o Cardeal Müller [foto] manifestou-se a respeito deste tema numa entrevista para um canal da Internet, criticando o modo de agir dos quatro Cardeais, e sobretudo o fato de que tenham publicado suas perguntas ao Papa. Ademais, o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé esclareceu que Amoris Laetitia não representaria perigo para a Fé.

    De fato, o Cardeal Müller tentou, desde a publicação da Exortação Apostólica, resolver o problema da Amoris Laetitia interpretando-a no sentido da tradição. Enquanto tal, sua atitude não é inteiramente nova. Contudo, sua ultima entrevista para um canal internet de televisão levanta algumas questões.

    É de chamar a atenção que o Cardeal Müller escolha uma entrevista de televisão para criticar seus irmãos do Sacro Colégio. Enquanto Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, ele dispõe de outras possibilidades mais adequadas do que uma entrevista de 11 minutos, na qual apenas três minutos foram dedicados à Exortação Apostólica. Será que sua declaração numa entrevista televisiva tem uma autoridade especialmente relevante? De um Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé era de esperar que semelhante tomada de posição, que provocou um verdadeiro terremoto, saísse no Osservatore Romano ou em alguma revista teológica especializada.

    Com isso surge outra questão: o Cardeal Müller não teve tempo para fundamentar adequadamente a sua crítica. O modo por ele escolhido não permite uma ampla fundamentação que corresponda à importância de sua declaração. O que, aliás, seria verdadeiramente apropriado. É impossível que tenha escapado ao Cardeal Müller que muitos bispos e conferências episcopais estão interpretando a Exortação Apostólica num sentido muito diferente do da Tradição, querendo assim permitir a comunhão para os divorciados recasados. Esta é a clara tendência existente na Alemanha, pátria do Cardeal Müller.

    Se ele pensava que era preciso criticar os autores das “dubia”, então teria sido proporcionado que criticasse também aqueles que interpretam a Amoris Laetitia num sentido contrario à Tradição. A começar pelo Cardeal Marx.

    Com sua critica unilateral o Cardeal Müller aumentou a confusão em torno da Amoris Laetitia. Os católicos normais estão ouvindo uma cacofonia nunca antes ouvida sobre uma questão teológico-moral esclarecida há séculos por Papas, Concílios e teólogos. Vai-se difundindo a impressão de que o Magistério da Igreja não tem mais vigência e não deve ser levado a sério. Muitos se perguntam: Por que o Papa e o segundo homem do Vaticano, isto é, o Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fe, não confirmam a doutrina da Igreja nesta importante questão, num momento em que tantos a contestam?

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    (Tradução do original alemão de Renato Murta de Vasconcelos).

    2 COMENTÁRIOS

    1. EVIDENTE QUE D MÜLLER NÃO DESINCENTIVARÁ OS QUATRO CARDEAIS, AO CONTRARIO, DEU-LHES MAIS ÂNIMO E ELES ESTÃO RESOLUTOS A DAREM PROSSEGUIMENTO!
      D Muller, anteriormente, estaria diferente que dessa vez em suas falas – teria estado sob pressão para reconsiderar-se? – pois pareceria que mudou de posição de uma hora para outra, e a partir de suas proprias palavras recentemente, se contradiria, a saberem, teria dito:
      … sobre a permissão da S Comunhão a adúlteros, como aos “recasados”: “Não é possível negociar o ensinamento de Jesus Cristo”.
      QUANTO À QUESTÃO DE HAVEREM TRECHOS OU NOTAS QUE FAVORECERIAM AMBIGUIDADES E EVENTUAIS CONFUSÕES:
      … “A Igreja sempre diz “isto é verdadeiro, isto é falso” e ninguém pode interpretar de modo subjetivista os Mandamentos de Deus, as Bem-aventuranças, os Concílios, segundo seus próprios critérios, seu interesse ou inclusive segundo suas necessidades, como se Deus fosse apenas um fundo para a sua autonomia”.
      Nesse caso, dentre mais, em caso de amainar os ânimos, D Müller mais os teria incentivado a prosseguirem pois teria mostrado essa insegurança, provindo logo do prefeito da Congregação da Doutrina da Fé que deveria ser deposto, mas nunca ceder, mudar ou mesmo reformular os termos anteriores, e muito menos outrora deveria ter feito uma releitura da Amoris laetitia, a qual àquela época fôra bastante retumbante!
      Nesse caso, porque tal atitude de lhe fazer uma releitura – senão mesmo uma recomendação formal- se estava a Exortação Apostólica Amoris laetitia tão conforme à doutrina da Igreja?
      Quando a insegurança e dúvidas proviriam de uma instancia como essa, imaginem das outras!

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