Matteo Renzi, 42 anos, foi primeiro-ministro da Itália até sofrer fragorosa derrota no referendo proposto por ele mesmo em dezembro de 2016, para introduzir na Constituição reformas de amargo sabor socialista. 60% dos italianos disseram-lhe NÃO.
Desde então ele declina. Sua política causa enfado. Quase nada há em Renzi de notável além de sua pouca idade e de seu saliente nariz que fazia dele um mimado Pinocchio. Nas recentes eleições municipais, seu partido perdeu as prefeituras de 11 capitais de Estado. Das 88 prefeituras, conservou apenas 55. Algumas delas, como Gênova, eram históricos bastiões da esquerda. Calamidade à esquerda.
À derrota seguem-se brigas e divisões internas, como não poderia deixar de ser. Personalista, narcisista, ufano de seu ego, são reprovações agora ditas por ex-correligionários no seu nariz. Alguns chegam a qualificá-lo de Macron, em razão de seu autodeslumbramento. De Renzi quebrou-se o fascínio, como Cinderela cujo poder de encantar a todos cessava à meia-noite. A fada, ao embelezar Cinderela, advertiu-a que à meia-noite cessaria o encanto e ela voltaria a ser simples faxineira. E Cinderela bailou nos braços do príncipe, mas deixou às pressas o palácio em gala pouco antes dessa hora fatal. No entanto, a fada de Renzi parece não tê-lo advertido da chegada da hora da funesta de sua noite política. Cinderela partiu, e açodada deixou para trás seu sapatinho de cristal que só seu pé calçava. Renzi caindo, deixa apenas sua fada desocupada. E outros, ávidos de tomar seu lugar.
Desocupada na Itália, a fada parece ter ido para a França, dar encantos a Macron. Seu último toque de varinha mágica levou o jovem presidente francês a Versalhes [foto ao lado], o encantador palácio dos reis. Em 3 de julho, ali se reuniram deputados e senadores para o discurso presidencial. Macron entrou só, fazendo o vazio em torno de si, percorrendo alas de uma guarda de honra em uniforme histórico. Almejava a pompa. Também ele queria encantar. Encenação republicana, feita por maus atores, da magnífica “Abertura do Parlamento”, anualmente realizada em Westminster, durante a qual a Rainha Elisabeth II, de seu trono, fala à Nação.
Em Versalhes, Macron anunciou uma revolução. Embora reconhecendo existir neste momento em cada francês um “cínico adormentado”, discerne ao mesmo tempo a “vontade resoluta de uma transformação profunda”. Ele disporá do breve tempo de seu mandato para operar essa ressurreição histórica, levando seu povo do “cinismo adormecido à transformação profunda”. Macron tem pressa. Ele não sabe quanto tempo separa sua teatralidade da meia-noite fatal da artificialidade política.