Num ato eleitoral no enclave de Kaliningrado, encaixado em posição estratégica entre a Alemanha e a Polônia com aceso direto ao Mar Báltico Putin afastou qualquer dúvida a respeito de sua sintonia profunda com a falida União Soviética de Lenin e Stalin.
Se ele tivesse a possibilidade de modificar a história recente da Rússia, afirmou ele, impediria o desabamento da URSS, segundo informaram as agências de imprensa russas, referidas pela agência ocidental Reuters.
Putin falou nesse enclave militar quando faltavam pouco mais de duas semanas para sua enésima reeleição à presidência já descontada após a eliminação dos opositores que podiam lhe fazer sombra.
Uma pessoa presente perguntou-lhe qual seria o evento da história russa que ele gostaria mudar e respondeu sem hesitação: “o afundamento da União Soviética”.
O todo-poderoso chefe da Rússia, já em 2005 havia definido o desmantelamento da URSS acontecido em 1991 de “a maior catástrofe geopolítica” do século XX.
Esse sonho de recuperar a URSS e lhe obter o domínio universal foi renovado por Putin no dia 1º de março, segundo nosso calendário.
Na data ele pronunciou discurso ante a Duma (Parlamento) de Moscou de importância comparável à do ‘Discurso sobre o Estado da União’ que o presidente americano profere todo ano,
Ele não só tratou de difícil situação do país cada vez mais empobrecido nos últimos anos em decorrência das aventuras militares contra a Ucrânia e as subsequentes represálias econômicas ocidentais.
Malgrado a decadência econômica ele exibiu vídeos montados em laboratórios virtuais do que seriam as armas de guerra “invencíveis” com as que tentaria assentar seu sonho de hegemonia universal, noticiou a BBC Mundo.
Os vídeos ficção incluíram misseis intercontinentais, foguetes hipersónicos e armas com raios laser.
Enquanto passava os vídeos montagem Putin, disse que apresentava apenas seis novas armas “invencíveis”, mas que a lista seria maior.
“Ninguém no mundo tem algo igual, por agora. É algo fantástico!” exultou o omniarca revivendo a linguagem da Guerra Fria.
Não é a primeira vez a o dono do Kremlin faz anúncios de armas assustadoras. Mas essas até agora não deram sinais de existência.
Tampouco nesta ocasião forneceu provas reais e fonte independente alguma se atreveu a fornecer alguma confirmação de que existem ou de terem as capacidades que embriagaram de entusiasmo ao presidente russo.
“Estamos observando a Rússia há muito tempo e não ficamos surpresos. Essas armas estão em desenvolvimento há muito tempo”, afirmou a porta-voz do Departamento de Defesa, Dana White, ante os jornalistas.
A Casa Branca disse já saber dessas histórias e que “a Rússia vem desenvolvendo armas desestabilizadoras há uma década violando as obrigações” contraídas em acordos internacionais, acrescentou a porta-voz Sarah Huckabee Sanders.
Segundo o Departamento de Estado, Moscou está violando o Tratado INF, com que em 1987 os EUA e a periclitante URSS eliminaram os “euromísseis” – mísseis balísticos e de cruzeiro com capacidade nuclear ou não e com um alcance de entre 500 e 5.000 km.
As novas armas até agora só virtuais incluem o já muitas vezes propagandeado “Satan 2” que Putin garantiu que “entrou numa fase ativa”.
Acrescentou que “o novo sistema não tem limites” e pode atingir qualquer objetivo “no Polo Norte e no Polo Sul” sem ser interceptável por qualquer sistema de defesa.
Putin apresentou em segundo lugar um míssil de cruzeiro, ainda sem nome, que não procede com rotas balísticas de voo tornando inúteis as defesas.
É comparável ao Tomahawk usado há décadas pelos EUA, mas seria movido por um propulsor de energia nuclear “superpoderoso” de pequeno porte e de alcance “ilimitado”, além de “imprevisível”.
Putin falou de “veículos subaquáticos não tripulados que operariam em profundidades muito grandes podendo atingir alvos intercontinentais a uma velocidade várias vezes superior a dos torpedos mais modernos” com ogivas convencionais ou nucleares.
Também acenou com o “Kinzhal”, nova “arma hipersónica” que atinge alvos a mais de 2.000 km em alta velocidade.
Outra arma também inverificável que Putin definiu como “um tipo completamente novo” já teria passado por provas “com êxito” voando a mais de Mach 20 (por volta de 24.696 quilômetros por hora).
Segundo o presidente russo este míssil viaja como “um meteorito, uma bola chamejante, uma bola de fogo” em que a temperatura exterior atinge entre 1.600 e 2.000 graus centígrados.
Também falou de passos notáveis na produção de “armas laser” já fornecidas ao exército russo.
Putin não apresentou prova alguma e as novas armas supostamente existentes não são verificáveis.
O especialista em controle de armas internacional Petr Topychkanov, do Instituto Internacional de Estocolmo para a Investigação da Paz (SIPRI), disse à agência Euronews que mais provavelmente os anúncios visavam efeito eleitoral.
Provavelmente irreais, propagandísticas ou não, essas “armas” são reveladoras dos delírios de ódio destrutor que habitam a mente do chefe do Kremlin e de seus estrategistas.
Simultaneamente, os EUA aprovaram a venda de mísseis antitanque “Javelin” ao governo da Ucrânia.
A autorização concedida à agência norte-americana de Cooperação em Segurança e Defesa (DSCA no acrónimo em inglês) inclui 210 mísseis e 37 lançadores com um custo estimado de 47 milhões de dólares.
Essas armas não são fantasia, mas foram testadas e podem converter-se na antecâmara de uma nova frente de tensão com a Rússia, escreveu Euronews.
O sistema “Javelin” justificado como instrumento para os ucranianos “defender a soberania e a integridade territorial” mira os tanques russos já instalados no leste ucraniano, e os concentrados do outro lado da fronteira.
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