Este santo era filho de Julião Eymard, viúvo, que contraíra novo matrimônio com Maria Madalena Pelorse. Embora os filhos fossem chegando, Deus Nosso Senhor lhes reservara uma Cruz: em menos de cinco anos perderam sete deles, alguns de pouca idade. O nascimento de Pedro Julião, em 4 de fevereiro de 1811, teria sido uma compensação?
Criado em uma família virtuosa, o menino sentiu-se atraído desde cedo para as coisas da Religião. Sua mãe, que assistia à Missa diariamente, começou a levá-lo, como também às visitas diárias que fazia ao Santíssimo Sacramento. E Pedro Julião menino se mostrava muito comportado nesses atos.
Em La Mure, onde nascera, havia o piedoso costume de dar a bênção do Santíssimo Sacramento pelos agonizantes. Maria Madalena levava então o bebê à igreja, e o erguia na hora da bênção, suplicando ao Senhor que o abençoasse.
Quando mais crescido, nas sextas-feiras, em vez de pô-lo para dormir no berço, sua mãe o colocava sobre a palha, em louvor da Paixão de Nosso Senhor e para acostumá-lo a fazer alguma mortificação.
Com o falecimento da mãe, coube à irmã prosseguir a sua criação. Certo dia, quando tinha cinco anos, Pedro Julião desapareceu. Após procurá-lo em vão por toda parte, sua irmã teve a inspiração de ir à igreja. Quando olhou atrás do altar, viu-o sentado na escada utilizada para colocar o Santíssimo Sacramento em exposição, com o rosto encostado no sacrário.
O caminho da Divina Providência, que queria torná-lo o apóstolo da devoção eucarística, passou por vários meandros. Pedro Julião sentia em si vocação religiosa e acabou entrando para a congregação dos Oblatos de Maria Imaculada, de fundação recente. Além da educação da juventude, ela se dedicava também às missões rurais, e acabava de mandar os primeiros missionários para a Oceania. Pedro Julião foi exercendo várias funções, mas como não deixava de cuidar dos pobres e dos doentes, passou a ser conhecido por eles como “o Santo”.
Durante a revolução anarquista de 1848, o Pe. Eymard passava por uma das ruas de Lyon quando se deparou com um grupo de revolucionários.
– “O quê, um padre por aqui?” – gritaram alguns.
– Joguemo-lo no Ródano – gritaram vários deles, em coro, ameaçando atirá-lo ao rio e avançando para agarrá-lo.
Nesse momento um dos revolucionários gritou: “Mas é o padre Eymard!”.
A este nome todos pararam em silêncio, e depois gritaram:
– “Viva o padre Eymard!” E puseram-no nos ombros, levando-o em triunfo até o convento.
Em sua primeira viagem a Paris, o Pe. Eymard tomou contato com a Adoração Perpétua. Ali conheceu um judeu convertido, Ermano Cohen, que iniciara a adoração noturna dos homens. Nos meios eucarísticos conheceu também um capitão de fragata, Conde Raimundo de Cuers, que depois seria seu auxiliar na nova congregação dos Sacramentinos.
Um dia em que o Pe. Eymard orava diante do altar de Nossa Senhora da Basílica de Fourvière, teve a seguinte inspiração, que descreve assim: “Eu estava rezando, quando se apoderou de mim um pensamento tão forte, que me absorveu a ponto de perder completamente todo outro sentimento: para glorificar seu Mistério de Amor, Jesus, no Santíssimo Sacramento, não tinha um corpo religioso que fizesse disso sua finalidade e a isso dedicasse todos os seus cuidados. Era necessário que houvesse um.” E quem tinha a graça para fundá-lo era ele próprio.
Quanto lhe custou levar essa obra adiante! Religioso com os três votos – pobreza, obediência e castidade –, não era livre para se dedicar inteiramente à obra que a Providência lhe pedia. E o superior-geral dos Oblatos de Maria Imaculada não queria dispensá-lo dos votos, para não perder um elemento tão útil à sua congregação.
O Pe. Eymard consultou o próprio Papa Pio IX sobre a possível futura congregação. Respondeu o imortal Pontífice: “A obra vem de Deus, estamos convencidos. A Igreja necessita disto: que se sigam todos os caminhos para tornar conhecida a divina Eucaristia.”
Finalmente o Pe. Eymard conseguiu dispensa dos votos. Com o Comandante de Cuers, a essa altura ordenado sacerdote, deu início à Congregação do Santíssimo Sacramento. Ao Arcebispo de Paris, que daria autorização para a nova Congregação, explicou que “a nossa não é uma Congregação puramente contemplativa. Nós fazemos a adoração, é certo. Mas queremos também levar outros a serem adoradores, e devemos nos ocupar das Primeiras Comunhões tardias. Enfim, queremos pôr fogo nos quatro cantos de Paris, que tanto necessita”. Entretanto, a vocação do verdadeiro adorador do Santíssimo Sacramento era, segundo ele mesmo, mais ampla: “Adorar perpetuamente Nosso Senhor no trono da graça e de amor, agradecer-Lhe pelo inefável benefício da Eucaristia, tornar-se uma mesma vítima com Jesus Hóstia para reparação de tantos pecados que cobrem a Terra, exercer aos pés da Eucaristia uma missão perene de ação de graças e impetração pela Igreja, pela paz entre os príncipes cristãos, pela conversão dos pecadores, dos hereges, dos infiéis, dos judeus: eis o elemento perene da vida do religioso do Santíssimo Sacramento.”
E ele havia se dedicado inteiramente para torná-la realidade: “Disse sim a tudo e fiz voto de dedicar-me até a morte à fundação de uma congregação de adoradores. Prometi a Deus que nada me deteria, devesse eu embora comer pedras e acabar no hospital. E, principalmente, pedi a Deus (e talvez fosse isto presunção de minha parte), trabalhar sem o menor conforto humano.”
Assim, em 22 de maio de 1856, festa de Corpus Christi, foi inaugurado o primeiro “cenáculo”, nome típico que o Santo daria a todas as casas do Instituto. Fundou também a Congregação das Servas do Santíssimo Sacramento, para a adoração perpétua.
Quem muito ajudou com orações e incentivo São Pedro Julião nas muitas dificuldades por que passou foi São Cura d’Ars, com quem esteve mais de uma vez e que dele falou a outros nos melhores termos.
Uma pessoa que conheceu bem o Pe. Eymard assim o descreve: “Era de estatura mais bem alta, magro, ossudo; tinha uma face não propriamente bela, mas marcada com traços salientes, que a tornava verdadeiramente escultural. A fronte era larga, os pomos salientes, os olhos celestes, um olhar profundo e límpido sob umas sobrancelhas bem definidas. O nariz reto, e os lábios, nem grossos nem finos, abertos num sorriso benigno”.
O Pe. Eymard compunha poesias e tinha dotes musicais. Tocava piano, violino e guitarra, tendo composto vários motetes eucarísticos.
Sobre as graças próprias ao fundador de uma obra, dizia ele a seus sacerdotes: “Não compreendeis o favor, a graça que o Senhor vos faz ao colocar-vos junto da própria nascente do Instituto. Não me perguntais nada, não vos valeis disso. Eu também sou mortal, e quando não estiver mais aqui, nenhum outro terá as graças do fundador.”
São Pedro Julião Eymard faleceu no dia 1º. de agosto de 1868, aos 57 anos de idade.