16/08 – Santo Estevão rei, Confessor

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Geysa, quarto Duque dos hunos ou húngaros, ainda bárbaro e pagão, teve a felicidade de casar-se com a virtuosa Sarolta, filha do Duque de Giula, que aos encantos femininos unia os da virtude. Como uma nova Clotilde, ela se empenhou com sucesso na conversão do marido, que recebeu o batismo juntamente com vários nobres.

Essa conversão, embora sincera, não foi suficiente para fazê-lo cessar de vez com os costumes bárbaros, sobretudo de torná-lo modelo diante de seus súditos. Um dia em que refletia sobre o modo de levar seu povo todo à conversão, um anjo lhe apareceu e disse que, por ter as mãos ainda tintas de sangue, isso caberia a um filho seu, o qual “será do número daqueles Reis que Deus escolheu para Reis eternos”. A Geysa, por sua vez, Deus enviaria como embaixador um santo varão que deveria ser obedecido pelo Duque em tudo o que mandasse.

Esse varão era Santo Adalberto, Bispo da Boêmia, que, obrigado a sair de sua diocese em virtude da rebeldia de seus rudes vassalos checos, foi pedir asilo na Hungria. O Duque Geysa recebeu-o com grande benevolência, colocando-se em suas mãos para que o guiasse naquilo que julgasse ser da maior glória de Deus.

O santo Bispo, com sua vida, doutrina e pregação divina, converteu grande número daquela gente que, por sua natural condição e sua idolatria feroz e bárbara, vivia apartada do grêmio da Santa Igreja.

Enquanto isso, a Duquesa, que animava e secundava seu esposo em tudo, estando para dar à luz, teve uma visão, a qual lhe assegurava que o filho que portava no seio acabaria a obra que ela e o marido haviam começado e exterminaria o paganismo do meio de seu povo.

O esperado menino – futuro Santo Estevão – nasceu em 977, recebendo o nome do protomártir em seu louvor. A criança soube pronunciar o nome admirável do Salvador antes de saber pedir o pão e saudar seu pai e sua mãe. Viu-se nele, desde a infância, tão belas inclinações para a piedade, que não se duvidou de que levaria avante fielmente o que o Céu havia prometido e predito.

O menino recebeu como tutor Teodato, Conde da Itália, que de comum acordo com Santo Adalberto fê-lo progredir nas sendas da virtude e da ciência. Os conhecimentos com que ilustrou sua inteligência e as virtudes com que adornou sua alma fizeram de Estevão o Príncipe mais completo de seu século.

Quando Estevão atingiu os 15 anos, seu pai confiou-lhe parte dos negócios do Estado e, vendo que Deus o havia dotado de uma prudência singular, não tomava nenhuma medida importante sem ouvir antes seu parecer. Pouco mais tarde, confiou-lhe também o comando do exército.

No ano de 997, duas mortes feriram o generoso coração de Estevão: a de seu pai, a quem devia suceder, e a de Santo Adalberto, a quem considerava seu pai espiritual. Este, tendo ido evangelizar os povos da Prússia, lá obteve a coroa do martírio.

O primeiro cuidado de Estevão após ascender ao trono ducal foi o de fazer a paz com seus vizinhos, para poder dedicar-se ao estabelecimento do cristianismo em seus Estados. Bem sucedido na primeira empresa, não o foi na segunda, pois alguns de seus vassalos, ainda muito apegados ao paganismo e às superstições, levantaram-se em armas contra ele, atacando a cidade de Veszprem, a mais importante do Ducado depois de Esztergom.

Estevão preparou-se com jejum e oração para a campanha militar, escolhendo para patronos de sua empresa São Martinho de Tours, seu compatriota, e São Jorge. E embora contasse com um número inferior de soldados, desbaratou o inimigo. No local da vitória, mandou edificar um mosteiro em honra de São Martinho.

Livre assim para prosseguir seus desígnios, edificou igrejas e mosteiros. E, para evangelizar seu povo, ele mandou vir de outros países sacerdotes e religiosos recomendáveis por sua piedade, alguns dos quais viriam a receber a coroa do martírio.

Mas faltava ao jovem Duque a chancela do Sumo Pontífice. Por isso, enviou uma embaixada a Roma com a finalidade de oferecer ao Pai comum da Cristandade aquele novo Estado cristão, pedir-lhe a bênção apostólica e a confirmação das dioceses criadas. Sobretudo, que ele concedesse ao novo Duque cristão o título de Rei, para que este pudesse levar avante com mais autoridade tudo o que pudesse servir para a propagação da fé e da verdadeira religião.

A coroa de Santo Estevão, símbolo do poder e da nação.

Narram os cronistas que, nessa mesma época, o Duque da Polônia, Miceslau, tendo-se convertido ao Cristianismo, mandara ao Papa uma embaixada com o mesmo pedido. Silvestre II, para honrá-lo, havia mandado preparar uma magnífica coroa de ouro com riquíssimos esmaltes. Entretanto, um anjo lhe apareceu e comunicou que aquela coroa não seria para o duque polonês, e sim para Estêvão, Príncipe da Hungria, cujos embaixadores chegariam no dia seguinte, porque suas virtudes e seu zelo pela fé lhe mereciam essa preferência. O Pontífice concedeu então ao duque magiar o título de Rei, e a coroa presenteada pelo Papa passou a ser para os húngaros não apenas uma relíquia, mas o símbolo de sua própria nacionalidade. A cruz da coroa é um tanto inclinada devido a um acidente, e assim se mantém até os nossos dias.

Estevão submeteu sua coroa e Estados à Sé de Pedro, e consagrou seu Reino e pessoa à proteção especial da Mãe de Deus, de tal modo que só se referia ao Estado húngaro como “a família de Santa Maria”. “E tal é o respeito que os húngaros têm à Virgem, que ao falar dEla, a denominam sempre de ‘a Senhora’, ou ‘Nossa Senhora’, e inclinam a cabeça ao mesmo tempo, algumas vezes dobrando os joelhos”.

Estevão combatia como um bravo nas batalhas, mas ciente de que a vitória dependia de Deus. Após o falecimento do Imperador Santo Henrique, cunhado e amigo de Estevão, o sucessor dele, Conrado II, quis apoderar-se do reino da Hungria. O santo então se preparou militarmente o melhor que pôde. Mas como confiava sobretudo em Nossa Senhora, aconteceu um fato prodigioso: os generais do Imperador receberam ordem de retornar a seu país sem haver batalha. Mas como a ordem não viera do Imperador, ele próprio reconheceu no fato uma intervenção divina e abandonou seu projeto de conquista.

Como todos os eleitos de Cristo, Estevão foi agraciado com a cruz. Durante três anos foi atormentado por dores agudas e violentas; perdeu os filhos, restando-lhe apenas o mais velho, Américo, no qual, por suas disposições à virtude, depositara todas as esperanças. Era o consolo de sua vida e a esperança de sua velhice. Mas Deus quis também conduzir esse filho ao reino do Céu, para o qual estava tão maduro que foi elevado depois à honra dos altares.

Santo Estevão faleceu no dia da Assunção do ano do Senhor de 1038, tendo sido canonizado pelo Papa Inocêncio XI em 1686.

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