Em junho de 2018, a revista “Isto É” publicou reportagem com o sugestivo título “A Busca da Utopia”.1 Revela o crescimento de certas comunidades que vivem no velho estilo hippie, mas com notas atualizadas: “sintonia” com a natureza, agricultura sustentável e — não poderia faltar — “espiritualidade” entendida no sentido de meditação transcendental, yoga e budismo.
Esse tipo de movimento passou por altos e baixos ao longo das últimas décadas. Plinio Corrêa de Oliveira, em sua obra magna Revolução e Contra-Revolução, já havia vislumbrado seus passos, mais de 40 anos atrás. Vejamos o que há de novo, e também de velho, nas suas versões atuais.
A reportagem descreve, como primeiro exemplo, a vida na comunidade Olhos d’Água, em Mogi das Cruzes (SP), onde se promove “um projeto experimental de permacultura, sistema de ocupação humana sustentável que une práticas tradicionais e conhecimentos avançados em agricultura […]. O clima é de paz e amor, no melhor estilo hippie, com crianças brincando livremente e aprendendo ao ar livre”.
Os organizadores dessa comunidade não estão sozinhos. Existem hoje no País cerca de 300 outros agrupamentos similares na Chapada dos Veadeiros (Goiás) e no sul da Bahia. Seus membros se referem a esses locais como “ecovilas”, ou “comunidades intencionais”, que têm por finalidade a ocupação do solo de maneira sustentável e a produção de alimentos orgânicos.
Não há dúvida de que a tônica nessas “vilas” encontra-se no ecologismo e na vida nos moldes tribais: “Estamos em busca de novas formas de viver e de se conectar com a sociedade”, afirma Tomáz Ahau, 50 anos, fundador e coordenador de projetos da Casa dos Hólons, que funciona na zona sul de São Paulo. E o artigo continua: “Um número crescente de jovens brasileiros está fazendo a transição das áreas urbanas para o campo, em busca de uma existência mais simples, com menos impacto ambiental, e de elevação espiritual”.
A reportagem deixa claro que essas “comunidades alternativas existem desde o século passado, com finalidades espirituais, sexuais e produtivas”. Um ideal muito próximo das correntes tribalistas estudadas na obra Revolução e Contra-Revolução; onde o autor, ao tratar da IV Revolução, se perguntava como seria a passagem da ditatura do proletariado — com a derrocada do Estado comunista hipertrofiado — para um estado de coisas cientificista e cooperativista: “É impossível não perguntar se a sociedade tribal sonhada pelas atuais correntes estruturalistas dá uma resposta a esta indagação. O estruturalismo vê na vida tribal uma síntese ilusória entre o auge da liberdade individual e do coletivismo consentido, na qual este último acaba por devorar a liberdade”.
A aproximação entre as novas comunidades aqui analisadas e o tribalismo se torna evidente ao observarmos o grupo de Inkiri Piracanga. Localizado na Bahia, ele se apresenta como uma das experiências ditas “mais prósperas” desse “neotribalismo”. Em sua webpage2 — muito bem montada e com informações abundantes — encontramos uma série de iniciativas, retiros, cursos de meditação, oferecidos ao público em geral, bem como ações fora da própria comunidade.
Alguns de seus membros têm atuado inclusive em interação com tribos indígenas como os Huni Kuni, povo que habita a fronteira entre o Brasil e a Bolívia, no estado do Acre. “Eles são conectados com a Terra e o Divino por meio da música, da dança, dos cantos, das plantas e dos saberes passados através das gerações”, diz Alessandro Carvalho, um dos que fazem a ligação entre Inkiri Piracanga e a tribo dos Huni Kuni.
Fotografias disponíveis no site da comunidade Piracanga mostram como suas vilas e casas se assemelham, nas partes exteriores, às tabas e ocas indígenas. Será mera coincidência?
E não se pense que o agrupamento vive fechado em si mesmo, como as tribos indígenas “tradicionais”. Hospedagem com acomodações confortáveis, restaurantes (comida vegetariana, diga-se de passagem), lazeres dos mais diversos, tudo oferecido a qualquer pessoa que queira pagar pelos serviços.
Aqui vêm os aspectos atualizados dessas vertentes tribalistas: “A iniciativa mostra como a comunidade vem se integrando com a economia e a sociedade, e evolui de maneira inovadora, como um dos principais centros de retiro místico do País”. Não falta movimentação financeira nessa tribo do século XXI: “A comunidade cresceu tanto que hoje conta com um banco”. A organização possui até moeda própria: “O inkiri, que funciona em paridade com o real, já conta com 800 mil notas em circulação e aumentou em oito vezes a quantidade de trocas na economia local, que envolvem alimentos e produtos de higiene pessoal biodegradáveis fabricados internamente”. É bom lembrar que é proibido a entidades particulares e indivíduos emitir e utilizar papel-moeda sem lastro. Por que os poderes constituídos não intervêm?
Falamos acima de semelhanças. Nessas novas comunidades, a relação com ritos religiosos e espiritualidade tribal não pode ser menosprezada. Aqui se revela o elemento restante para montar um quadro completo. Elemento esse também observado por Plinio Corrêa de Oliveira: “Nas tribos, a coesão entre os membros é assegurada sobretudo por um comum pensar e sentir, do qual decorrem hábitos comuns e um comum querer. Nelas, a razão individual fica circunscrita a quase nada, isto é, aos primeiros e mais elementares movimentos que seu estado atrofiado lhe consente. ‘Pensamento selvagem’, pensamento que não pensa e se volta apenas para o concreto. Tal é o preço da fusão coletivista tribal”.
A unidade da tribo só poderá ser garantida por um chefe espiritual, um guru. Assim conclui o Prof. Plinio: “Ao pajé incumbe manter, num plano místico, esta vida psíquica coletiva, por meio de cultos totêmicos carregados de ‘mensagens’ confusas, mas ‘ricas’ dos fogos fátuos ou até mesmo das fulgurações provenientes dos misteriosos mundos da transpsicologia ou da parapsicologia”.
Ainda segundo a reportagem da “Isto É”, as atuais comunidades tribais não escondem seu lado místico: “Um dos componentes mais importantes das comunidades alternativas é o espiritual. Em todas elas há algum tipo de influência mística que une as pessoas que buscam a expansão da consciência”.
Os gurus, ou pajés, são conhecidos: “Em algumas comunidades ainda se pratica a meditação dinâmica do indiano Bhagwan Shree Rajneesh, o Osho. Osho pregava uma forma de meditação vigorosa e entusiasmada, que servia de caminho para a libertação espiritual”.
Com claro sentido místico, os participantes da Inkiri Piracanga promovem a prática chamada “leitura da aura”. Na internet, encontramos uma longa lista dos “terapeutas da aura”, que não passam de modernos gurus da transpsicologia e da pajelança!
Angelina Ataide, idealizadora da leitura da aura, afirma que “confia completamente nessa ferramenta divina”, e dedica “sua vida com fidelidade e entrega para que a Leitura da Aura se difunda por todo o continente”.3
Nesse mundo de ritos tribais, superstições e misticismo, não há lugar para Nosso Senhor Jesus Cristo, para a religião católica, nem para Nossa Senhora. Trata-se de um mundo paganizado que caminha, na verdade, para o satanismo.
A Revolução trocou uma mentira por outra. Seduziu gerações inteiras com o comunismo, o Estado totalitário e dirigista. Depois inventou o tribalismo, através do qual os homens — saturados de tecnologia, máquinas e frenesi nas concentrações urbanas modernas — desejassem fugir para uma falsa simplicidade, o vazio paganizado das tribos indígenas.
Aqui fica um alerta para nos precavermos contra mais essa insídia do demônio, o pai da mentira.
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Notas:
1. Além da publicação impressa, o artigo encontra-se disponível em: https://istoe.com.br/a-busca-da-utopia/
2. Informações extraídas do site: https://piracanga.com/
3. Cfr. https://escoladaaura.com/instructor/angelina-ataide/
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 819, março/2019.
Bom dia…o senhor e no minimo ignorante e irresponsavel ao citar pessoas que não conhece e desrespeitar as crenças alheias…va de retro tu satanas