Conforme nos reportamos em artigo anterior, as declarações e decisões tomadas pela Conferência Episcopal Alemã, em recente assembléia realizada em Lingen, são altamente preocupantes. Ademais, elas deverão acelerar e intensificar os desacertos que vêm ocorrendo no seio da Igreja, convergindo ainda mais para uma ruptura final dos católicos alemães com a Igreja.
Nessa reunião, os bispos demonstraram querer uma via especial, sem amarras, para mais bem golpear e acabar com a moral sexual, ferindo de morte todo Magistério eclesiástico. Pode-se concluir isso pelo gesto de terem escolhido — consciente et volenter — o bispo de Osnabrück, Dom Franz Josef Bode [foto], como o responsável pelo fórum Moral Sexual. Sem dúvida, um recado a quem possa interessar de que agora em diante será assim e fim de conversa.
Tanto mais quanto o maior e o mais importante parceiro de Dom Bode deverá ser o Comitê Central dos Católicos Alemães–ZdK. Juntos trabalharão para introduzir as máximas da revolução de maio de 68 na Igreja, como uniões livres, indiferença teológico-moral diante da homossexualidade praticada, e assim por diante.
O objetivo do catolicismo reformista é a dissolução da moral sexual, além de um distanciamento da lei natural como base teológico-moral, rumo a uma “ética” de situação liberal e orientada segundo o espírito do tempo. Isto se apresenta especialmente claro nas exigências relativas ao casamento. Na verdade, este caminho sinodal acabará por transformar a Igreja numa instituição igualitária.
O cardeal Reinhard Marx, presidente da Conferência Episcopal Alemã, ainda não definiu o prazo nem o marco legal do Caminho Sinodal, onde e como serão realizadas as discussões sobre moral sexual, formas de vida sacerdotal e estruturas internas de poder da Igreja. Contudo, acenou que o avanço sinodal terá como único parceiro o ZdK. Seguramente, nesse diálogo participarão outros grupos da Igreja, insuflados pelo mesmo espírito de contestação.
Um sintoma que esse será o caminho a seguir é que o ZdK acabou de apresentar uma proposta de reforma, na qual as estruturas clericais de poder deverão ser desmontadas por meio do envolvimento de representantes leigos, eleitos em todos os níveis de tomadas de decisões, bem como de maior envolvimento de mulheres em todos os níveis.
Com efeito, a meta parece já fixada, ou seja, amolecimento da hierarquia da Igreja e o estabelecimento de uma Igreja dominada por leigos e dirigida por estruturas pseudo democráticas. Para o cardeal Marx, a Igreja alemã passa por um momento decisivo, pois a fé só cresce e se torna mais profunda na medida em que “nos tornamos livres dos obstáculos que bloqueiam o pensamento, o debate livre e aberto, a capacidade de assumir novas posições e abrir novos caminhos”.
Para atender tais imunidades faz-se necessário uma Igreja sem Magistério vinculante e hierarquia definida. Uma coisa segue a outra: a Igreja exige de seus fiéis que estejam unidos à verdade e ao Magistério. Ora, guardiã do Magistério é a Igreja com a sua hierarquia. Mas se o Magistério for rebaixado a uma espécie de mero guia de boa conduta, não precisará mais de uma hierarquia que zele pela pureza de sua doutrina.
De fato, não se trata apenas de comunicar a verdade, mas da natureza sobrenatural da própria Igreja, cuja constituição hierárquica decorre diretamente do fato de que os sacerdotes são pessoas consagradas que agem in persona Christi (no lugar de Cristo). Por exemplo, na Eucaristia o próprio Jesus Cristo realiza a transubstanciação; na confissão a absolvição dá-se por meio d´Dele próprio.
A posição mais elevada dos sacerdotes na Igreja decorre de eles, pelo sacramento da Ordem, participarem de modo especial do sacerdócio de Jesus Cristo. Ainda que pecadores, eles se distinguem dos leigos ou pessoas com níveis mais baixos de consagração, pois são pessoas sagradas. Esta pretensa igualdade almeja em última análise obscurecer o sagrado na Igreja e reduzi-La a uma mera associação secular.
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Tradução do original alemão por Renato Murta de Vasconcelos.