Da obra “Tribalismo Indígena – Ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI” (1977), na qual Plinio Corrêa de Oliveira alertou precisamente para questões que hoje se pretende aprovar no Sínodo Pan-Amazônico, reproduzimos ontem o primeiro capítulo, hoje segue o segundo. Os demais capítulos os leitores poderão encontrar no link abaixo indicado.*
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- Plinio Corrêa de Oliveira
> Como fim, retroceder, tomando o aborígene por modelo
> Para retroceder, desmantelar
> Para desmantelar, difamar, separar e guerrear
Bem diferente da concepção católica tradicional das missões é a “missiologia” que se jacta de aggiornata e progressista. É o que se pode constatar pela análise de alguns aspectos colhidos principalmente nos documentos episcopais e órgãos da propaganda missionária.
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1. Meta da missiologia “aggiornata”: nova ordem para a sociedade terrena
A meta capital alegada pelo missionário “atualizado” consiste em instaurar uma ordem de coisas global, justa e prática da sociedade humana.
Tal ordem de coisas tem uma finalidade terrena: uma vez constituída, deve modelar a existência dos homens de maneira a evitar a desordem e assegurar todo o bem-estar terreno.
Quem queira dar a esta nova situação uma interpretação religiosa, pode encará-la como o Reino de Deus na Terra. Pois os princípios enumerados a seguir (cuja observância é o conteúdo da ordem nova) são considerados pela neomissiologia como a própria essência do evangelho.
2. A ordem nova desejada pela missiologia “aggiornata”
A análise da posição do homem perante a situação que os missionários “atualizados” visam implantar torna fácil de perceber o nexo entre a futura ordem e o suposto Reino de Deus.
Tal análise, pressupõe antes de tudo uma crítica ao proprietário atual. É este denunciado como um egoísta, mantenedor e fruidor de um privilégio injusto, ou seja, a propriedade. Este privilégio seria, por sua vez, ponto de partida de muitas outras injustiças.
O adversário capital da ordem futura seria o egoísmo, operando uma completa inversão de valores entre o indivíduo e a sociedade.
Essa inversão — segundo a neomissiologia — dá-se sempre que o homem, rompendo sua inteira vinculação com a coletividade, toma por meta da existência criar para si uma situação: a) fruitiva; b) apropriativa; c) competitiva:
Fruitiva – Isto é, que lhe proporcione deleites, não enquanto membro da sociedade, mas enquanto pessoa individualmente considerada. Isto o leva facilmente a prejudicar a sociedade em vantagem própria.
Apropriativa – O egoísta produz mais do que lhe é necessário para a vida de cada dia. E, em lugar de destinar a sobra para o uso coletivo, acumula-a para sua exclusiva vantagem, o que o torna mais provido e mais “assegurado” do que os demais. A apropriação nasce portanto do egoísmo, e por sua vez o estimula. Ela é um ultraje à igualdade, forma suprema da justiça, e opera uma dilaceração no bom convívio social.
Competitiva – O proprietário, movido pelos impulsos egoísticos, fruitivos e apropriativos, não se contenta em ter muito, ele quer tudo. Daí a competição, pela qual procura tornar-se dono — através da produção, da troca e do dinheiro — do que pertence a outros “proprietários-ladrões” e à sociedade. A vida econômica de nossos dias, com o micro, o médio e o macrocapitalismo, constituiu uma estrutura levada ao auge de sua complexidade, e também de seu poder malfazejo. Pois a competição tende a concentrar cada vez mais os bens nas mãos de poucos, e marginaliza multidões de “alienados”.
3. Homem e egoísmo: contraste entre o ensino tradicional e a nova missiologia
a) O homem tem um fim imediato em si mesmo, e outro transcendente em Deus
Segundo a concepção católica tradicional, o homem tem uma tendência para o egoísmo, porém ele não é todo egoísmo. O egoísmo não é senão uma disformidade moral dele.
O uso que o homem faz de sua inteligência, de sua vontade e de sua sensibilidade para prover ao próprio bem individual, em conformidade com a Lei de Deus e a ordem natural, não é condenável, mas virtuoso. É um corolário do fato de o homem ser inteligente e dotado de vontade — uma pessoa, pois, e não uma coisa — com um fim transcendente, e portanto dono de si mesmo.
O homem tem, certamente, deveres para com o próximo; e consequentemente, para com a família e a Pátria. Mas ele não vive só nem principalmente para uma ou para outra. Fundamentalmente, vive para Deus e para si.
E ainda que o assunto fosse considerado do mero ponto de vista do bem comum, cada homem provê ao bem comum provendo, antes de tudo, diretamente a si próprio.
b) Para a neomissiologia, o homem é como uma peça que vive para o todo
Na nova concepção que aqui se estuda, pelo contrário, o homem não é visto como uma pessoa que tem uma finalidade imediata em si mesmo, e outra transcendente em Deus, mas como uma peça em um todo. A peça vive para o todo. Destacada do todo, ela nada vale; e por assim dizer, nada é. Do todo lhe vem por inteiro a inspiração, o impulso, quase se diria, a vida.
4. Egoísmo e sociedade contemporânea
a) As grandes babéis nascidas da técnica moderna
Parece inegável que a descrição da massa, feita por Pio XII, corresponde ao modo de ser das multidões nas grandes babéis contemporâneas. A do povo corresponde aos conglomerados humanos — sobretudo aos de formação cristã — anteriores às babéis.
Por sua vez, também parece inegável que a formação dessas ciclópicas concentrações urbanas decorreu, entre outros fatores, do uso (pejado por graves faltas de sabedoria e temperança) que a partir do século XIX os homens fizeram correntemente da máquina e dos outros progressos técnicos. Embora em graus diversos, estes resultados apareceram em todas as sociedades do Ocidente. Contribuíram para isto os que manejam o poder político ou a economia, de modo exclusivamente egoístico, movidos pelo desejo desenfreado do mando e do lucro. E também as grandes multidões, pelo fascínio da vida trepidante e aliciante dos centros superpopulosos, para os quais afluem inconsideradamente.
b) Falsa solução da missiologia “aggiornata”
Ante esta situação, cuja causa mais profunda é a influência crescente do neopaganismo em nossa civilização, e a consequente decadência moral, continua intacto o ensinamento tradicional da Igreja sobre o homem, o trabalho, a propriedade e o capital. O homem não atendeu a esse ensinamento, e se precipitou na crise atual. O curso errado dos acontecimentos históricos — a massificação urbana, por exemplo — conduziu, pois, a uma situação que, a agravar-se, ficará insustentável.
A solução não consiste, como quer a nova missiologia, em alterar a doutrina reta para coonestar, no extremo oposto, o desatino de que adiante se falará. Mas em renunciar a toda espécie de desatinos e voltar à reta doutrina.
5. “Um abismo clama por outro abismo” (Ps. 41, 8) – da exacerbação do egoísmo, a sociedade contemporânea chegou ao coletivismo
Diante da crise ciclópica em que estamos, não faltou quem procurasse uma solução. Porém, ao invés de reverter à prática dos princípios da Sabedoria eterna, procuraram levar às últimas consequências os erros cometidos.
a) Confusão entre pessoa e egoísmo
Há nas megalópoles quem, atribuindo com razão ao egoísmo humano a situação em que estamos, recusa a justa distinção, no homem, entre a sua pessoa e o seu egoísmo. Para quem assim pensa, a pessoa é o egoísmo. É, pois, o inimigo. A salvação do bem comum consiste em que a pessoa seja totalmente absorvida, padronizada e dirigida pela coletividade. Seria o único meio de nos evadirmos do caos infernal do egoísmo.
b) Concepção comunista
Bem se vê quanto esta concepção tem de afim com a do comunismo, isto é, a sociedade massificada, sem personalidade, sem classes, sujeita à ditadura do proletariado anônimo.
6. O novo abismo atrai um terceiro: do comunismo à anarquia
a) O “neocomunismo” visa o desmantelamento do Estado
É notório que o regime comunista não reúne em torno de si, como até há pouco, a totalidade dos que querem uma sociedade inteiramente coletivizada.
Muitos “novos” do comunismo opinam que a imensa estrutura estatal comunista não escapa a muitos dos inconvenientes da sociedade capitalista.
Assim, querem com veemência o desmantelamento do Estado e de todos os superorganismos que o integram. O Estado, conforme asseguram, deve desfazer-se em uma galáxia de grupos ou corpúsculos mais ou menos justapostos, e tão autônomos quanto possível.
No interior desses corpúsculos, em rigor de lógica, deverá permanecer a fobia contra o indivíduo, suposto sempre e necessariamente egoísta. Portanto, também será lógico que persevere o empenho em cercear ao máximo as liberdades naturais e legítimas que a doutrina católica reconhece à pessoa humana.
É de se prever que o ideal comunista, igualitário e massificante, subsistiria assim nesses corpúsculos, inteiramente fiel aos seus princípios mais intrínsecos, com a única diferença de que seria posto em prática em organismos de proporções não macroscópicas, mas microscópicas.
b) Os “clássicos” comunistas já previam essa evolução
O aparecimento de inovadores que aspiram a esse “neocomunismo” não é surpresa para os continuadores dos comunistas “clássicos”; estava nas previsões deles. Vaticinavam, segundo seus mais fundamentais doutrinadores, que para além do capitalismo de Estado e da ditadura do proletariado surgiria, no decurso evolutivo da História, uma nova fase em que o Estado seria por sua vez liquidado.
7. Na selva brasileira, missiologia “aggiornata”
Todas as considerações anteriores eram necessárias para aclimatar o leitor ao quadro — estonteante para o homem de bom senso — que em seguida se lhe apresentará.
Muitos missionários, vários deles ainda jovens, penetraram nas selvas do Brasil imbuídos, em grau maior ou menor, de progressismo e esquerdismo difusos. Ou seja, nos mais moderados dentre eles, tendências genéricas e opiniões esparsas, inspiradas no progressismo e no esquerdismo. Umas e outras, porém, se reunidas num vasto mosaico doutrinário, formam o quadro que se acaba de delinear, pelo menos em suas grandes linhas.
a) Organização tribal, obra prima de sabedoria antropológica
Não espanta pois que, sob a influência de tais tendências e opiniões, esses missionários tenham formado uma noção absolutamente surpreendente acerca das condições de vida dos indígenas, que sempre foi marcada, entre outros traços, pela crueldade, pelo mais elementar primitivismo, pela mais melancólica estagnação. Pelo contrário, o índio lhes pareceu um sábio, sua organização tribal uma obra-prima de sabedoria antropológica, o modelo a ser seguido pelos civilizados de nosso mundo.
b) Vida tribal e sociedade comunista
As analogias entre a vida em tribo e a vida da sonhada sociedade comunista são a comunidade de bens, a ausência completa de lucro, de capital, de salários, de patrões, de empregados e de instituições de qualquer espécie. Só a tribo deve absorver todas as liberdades individuais desse pequeno grupo humano não fruitivo, por isso mesmo fracamente produtivo, nem um pouco competitivo. Nele os homens vivem satisfeitos e sem problemas, porque se despojaram de seu “eu”, de seu “egoísmo”.
Um mundo mais do que arcaico, categoricamente pré-histórico, seja dito en passant. Um mundo feito de incontáveis pequenos mundos sem personalidades e realce, isto é, de tribos sem autênticos vôos do espírito, sem élan ascensional, sem ideais definidos, em que os anos se escoam invariáveis e monótonos no ritmo cadenciado dos dias iguais, das músicas tristes ou excitadas e dos rituais uniformes.
c) Índios são comunistas?
Nossos índios podem ser qualificados de comunistas? A pergunta só pode despertar o sorriso.
Do comunista, o índio nada tem. Nem a doutrina, nem a mentalidade, nem os desígnios.
O estado em que ele se encontra apresenta, em relação ao regime comunista, apenas traços de analogia. Isto por um desses jogos de coincidências, que aparecem com frequência quando se faz a comparação entre os estágios primitivos e os de decadência. Entre a infância e a velhice, por exemplo.
Se o primitivo tem (ou quase só tem) a propriedade comum, não é porque seja doutrinariamente contrário à propriedade privada. A razão é a mesma pela qual, se o homem da era da pedra lascada não usava a pedra polida, não era porque pensasse que não a devia usar, mas simplesmente porque não a tinha inventado.
Nessa perspectiva, o índio não pode ser equiparado ao “civilizado” que conhece a propriedade privada, a família monogâmica e indissolúvel, e também os frutos dessas fecundas instituições, mas tem aversão a esses troncos e a seus frutos. O que este “civilizado” quer é aplicar o machado na raiz desses autênticos progressos.
Em suma, uma nação indígena pode ser comparada a uma planta que não cresceu, mas ainda poderá crescer. O adversário da família e da propriedade, pelo contrário, é um demolidor, nostálgico do comunitarismo ou do comunismo tribal (classifique-o cada um como melhor entenda)…
8. Concepções neotribais sobre a família
Qual o papel da família nas galáxias tribais desse mundo futuro, desses sonhos (ou melhor, delírios) que alguns preparam para nós?
a) Superficialidade desinibida e parcimônia enigmática
Não se trata de indagar qual o papel que a família desempenha nas tribos existentes ou que existiram no Brasil; mas sim o que lhe é atribuído pelas concepções neotribais que afloram em nossa atual propaganda missiológica.
Como tantos outros assuntos capitais, também este é tratado pela neomissiologia com uma superficialidade desinibida.
E ainda, com um laconismo enigmático, que destoa da insistência com que são abordados outros assuntos: os supostos inconvenientes da propriedade privada, por exemplo.
9. Nova catequese: catequizar é secundário e até supérfluo
Catequizar? Semear o Evangelho? Para quê? É a pergunta que faz a si mesma a missiologia aggiornata. O Evangelho — pondera — é o antiegoísmo. E assim, segundo os missionários “atualizados”, o Evangelho já impregna tão completamente a esfera tribal, que não é necessário anunciá-lo às coletividades indígenas.
a) Livrar o índio do “contágio” da civilização – Meta do missionário “atualizado”
Quais são as metas do missionário “atualizado”? Defender as comunidades indígenas, ainda “limpas” do contágio de nossa civilização do egoísmo; “conscientizá-las” para a excelência da situação em que vivem; fazê-los recusar o estado ao qual as chamam os homens que hoje vão à cata de riquezas e de mão de obra índia na mata, como dinheiro, cachaça, vícios, máquinas, leis, estruturas etc.; recusar especialmente o macrocapitalismo multinacional, que deseja cultivar a terra e negociá-la.
A todo preço, cumpre que os índios não sofram, em nosso século, o que já sofreram seus maiores, quando os nossos antepassados brancos aqui vieram ter, e entraram em contato com eles.
b) O “erro” dos missionários e colonizadores
De acordo com a nova missiologia, os portugueses colonizadores e os missionários cometeram o erro de incorporar os índios à nossa estrutura… quando os primeiros não os dizimavam.
Anchieta, por exemplo, foi um artífice do referido erro. Para evitar isso, os índios e os missionários deverão resistir à invasão dos colonizadores que os desejam incorporar ao Brasil moderno, ainda que para tanto tenham de lhes bradar como bradou o Brasil oprimido às Cortes revolucionárias lusas: “Independência ou morte!”
10. Alcance do estudo da missiologia “aggiornata”
Essa, em síntese, a missiologia aggiornata, da qual se tem conhecimento pesquisando, articulando num todo lógico e analisando o material de propaganda e divulgação missionária disponível: livros, revistas, boletins, folhetos, noticiário jornalístico, entrevistas, declarações, comunicados, etc.
a) Neomissiologia e estruturalismo
Bem entendido, não seria difícil aprofundar a conexão de tal pensamento com o estruturalismo e outras correntes do pensamento mais moderno sobre a matéria.
Porém isso desviaria do objeto imediato do presente estudo, que não é a filosofia estruturalista, mas apenas alguns aspectos do que pensam e escrevem os neomissionários. Esses aspectos importam especialmente a quem se interessa por nosso País, pois a literatura missionária corre caudalosa nos meios católicos.
Ou seja, em meios culturalmente desiguais, nos quais uma ponderável maioria não sabe definir o que sejam o estruturalismo, o esquerdismo e o progressismo, e que acolhem sem desconfiança aquilo que os missionários lhes instilam na alma.
b) A propósito de dissertar sobre os índios, preparam o advento da sociedade comunista
Do espírito segundo o qual se exerce essa influência, poderá defender-se o leitor médio. Poderá ele aquilatar então quanto a literatura neomissionária é voltada contra a propriedade privada e contra as decorrências desta; e de que maneira muitos autores missionários, a propósito de dissertar sobre os índios e seus problemas, estão preparando o espírito dos leitores para a aceitação da grande tese sócio-econômica do comunismo utópico de outrora, como do comunismo dito científico de nossos dias: “A propriedade, eis o roubo” (Proudhon).
11. Catequese e agitação
a) Vale a pena perder tempo com estes devaneios insensatos?
Valeria realmente a pena expor com tanto pormenor o devaneio de missionários endoidecidos? Sem dúvida, podem ser eles nocivos aos índios junto aos quais atuam, e por certo criarão problemas nessa zona. Mas em uma quadra histórica tão cheia de problemas maiores, vale a pena perder tanto tempo na solução desta questão, que de um modo ou de outro a penetração vitoriosa da civilização resolverá? São objeções que a este trabalho se poderiam fazer.
b) Absurdos que se estiolam e absurdos que se propagam
A responsabilidade dos brasileiros para com o irmão índio justifica que dediquem a atenção necessária para ler este rápido estudo.
Na realidade, porém, uma questão muito maior emerge por detrás do que se poderia chamar a questão neomissionária. É sem dúvida absurdo o pensamento que os missionários brasileiros (e os estrangeiros que aqui atuam) erigem em regra de conduta e de vida, para si e para as tribos que “evangelizam”. Não se deduza daí que está necessariamente fadado a morrer sem história.
Há absurdos que, nas épocas de serenidade, se estiolam e morrem precisamente porque são absurdos; mas há também absurdos que, especialmente nas épocas de crise, se propagam, adquirem influência, assolam e devastam precisamente porque são absurdos.
Este pode bem ser um destes, pois tem pronunciadas afinidades, pelo menos em suas linhas gerais, com uma corrente de pensamento de profundas repercussões no campo sócio-econômico, como é o estruturalismo.
c) Um Bispo que se declara transcomunista
Olhemos para dentro de nossas fronteiras. Quando um D. Pedro Casaldáliga, Bispo de São Félix do Araguaia, se declara ideologicamente situado para além do comunismo (cfr. nosso estudo A Igreja ante a escalada da ameaça comunista – Apelo aos Bispos silenciosos, p. 22 – Vera Cruz, São Paulo, 4ª ed., 1977, 51º milheiro), até que ponto ele — tão festejado e apoiado na CNBB e em altas rodas do Episcopado — afirma sua consonância com estes devaneios? É uma boa pergunta…
d) Como pôde esgueirar-se esta filosofia na Igreja?
Cumpre repetir que o maior problema suscitado por esses delírios não está nos próprios missionários, nem nos índios. Está em saber como, na Santa Igreja Católica, pôde esgueirar-se impunemente essa filosofia, intoxicando seminários, deformando missionários, desnaturando missões. E tudo com forte apoio eclesiástico de retaguarda; tanto que a transferência desse Bispo, que se declara “além do comunismo”, está sendo mais difícil do que o cerco de Tróia: “Mexer com D. Pedro Casaldáliga, bispo de S. Félix, seria mexer com o próprio Papa” — consta até que afirmou Paulo VI ao Cardeal Arns (cfr. “O São Paulo”, órgão oficioso da Arquidiocese paulopolitana, 10 a 16 de janeiro de 1976 — Ver também a mesma informação no órgão “Alvorada”, da Prelazia de São Félix do Araguaia, de novembro de 1975).
Esta erupção do que talvez se chamasse adequadamente comuno-estruturalismo missionário indica a existência de uma considerável infiltração na própria estrutura católica do Brasil. Como explicar a existência e a influência dessa infiltração na Igreja? Essa é uma grande e difícil questão.
e) A Igreja e a Pátria em perigo
Enfim, não é sobretudo dos índios nem dos missionários que se trata. É da Igreja e do Brasil. E a pergunta que se põe é até onde este e aquela poderão ser arrastados, se a infiltração comuno-estruturalista continuar infrene e altamente prestigiada nos meios católicos.
Com efeito, bastaria que tal câncer se manifestasse no setor missionário da Igreja, para justificar ou até impor outra pergunta: não será esse câncer mera metástase de outro tumor localizado em pontos mais decisivos, dentro dos organismos não missionários da Santa Igreja?
Por todo o País notam-se, há décadas, em diversos campos da atividade católica, impulsos que, clara ou veladamente, tentam conduzir a opinião pública a uma posição sempre mais receptiva à doutrina comunista. E que, a este título, são para o comunismo de inapreciável apoio.
Com estas ou aquelas designações, as “reformas de base” esquerdistas, e notadamente a Reforma Agrária socialista e confiscatória, são sempre propugnadas pela “esquerda católica”.
Ora, os missionários “endoidecidos”, dos quais se trata aqui, sentem-se parcela de toda essa imensa agitação nacional. Estudar esta parcela constitui subsídio indispensável para outro estudo mais importante — o dessa imensa agitação.
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(*)https://www.pliniocorreadeoliveira.info/Tribalismo_last_corre%C3%A7%C3%A3o.pdf