A Eminente Santidade de São José e seu Patronato nas dificuldades dos tempos atuais

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A Eminente Santidade de São José

E seu Patronato nas dificuldades dos tempos atuais

Gustavo A. Solimeo

São José: o maior dos santos depois de Nossa Senhora

“A opinião de que São José é o maior dos santos depois de Nossa Senhora é uma opinião que está se tornando cada vez mais comum na Igreja”, escreve o renomado teólogo francês, Pe. Reginald Garrigou-Lagrange (1877 – 1964).

 

E ele concorda enfaticamente com esta opinião: “Não hesitamos em olhar para o humilde carpinteiro como mais alto em graça e glória eterna que os patriarcas e o maior dos profetas ‒ que São João Batista, os apóstolos, os mártires e os grandes doutores da Igreja”.[1] 

A Preeminência de São José sobre os outros santos 

A doutrina da preeminência de São José recebeu a aprovação do Papa Leão XIII em sua encíclica Quamquam pluries, de 15 de agosto de 1899, sobre a necessidade de recorrer ao Patronato de São José, juntamente com o da Virgem Mãe de Deus, nas dificuldades dos tempos atuais:

“Certamente, a dignidade de Mãe de Deus é tão elevada que não pode existir coisa maior. Mas é verdade também que, assim como José está unido à beatíssima Virgem pelo vínculo conjugal, assim mais que ninguém se aproximou àquela dignidade supereminente pela qual a Mãe de Deus se destaca acima de todas as criaturas. O matrimônio é, com efeito, a sociedade e a relação mais íntima de todas, e por sua natureza compreende a recíproca comunhão de bens. Assim, se Deus deu José por esposo à Virgem, certamente não só o constituiu companheiro da sua vida, testemunha de sua virgindade, defensor de sua honestidade, mas também, em razão dessa mesma aliança conjugal, o fez partícipe de sua sublime dignidade. Igualmente supera todos os outros em elevadíssima dignidade porque, por desígnio divino, foi eleito para ser o custódio do Filho de Deus, na opinião dos homens tido por pai.”[2]

O Pe. Garrigou-Lagrange explica que o argumento empregado pelos teólogos para justificar esta doutrina é aquele formulado com simplicidade por São Tomás de Aquino, ao tratar da plenitude da graça em Jesus e a santidade em Maria: “Uma missão divina excepcional exige um grau de graça correspondente”.

Este princípio explica porque Maria, chamada a ser Mãe de Deus, recebeu desde o instante de sua concepção uma plenitude inicial de graça que era maior do que a plenitude inicial de todos os santos juntos: como Ela estava mais próxima do que qualquer outra pessoa da Fonte de graça, Ela recebeu a graça de forma mais abundante. Também explica porque os apóstolos, que estavam mais próximos de Nosso Senhor do que os santos que vieram depois deles, tinham um conhecimento mais perfeito dos mistérios da fé. Assim eles receberam em Pentecostes o dom de uma fé mais eminente, iluminada e firme como o início de seu apostolado, para pregar o Evangelho infalivelmente ao mundo .

A mesma verdade explica a preeminência de São José: ele deve ter recebido uma abundância de graça proporcional à sua missão, já que foi escolhido pelo próprio Deus para cumprir uma missão única no mundo: ser o Esposo da Mãe de Deus, o Pai Putativo e Protetor do Salvador.

O teólogo francês cita São Bernardino de Siena:

“Quando Deus escolhe uma pessoa pela graça para uma missão muito elevada, Ele dá todas as graças necessárias para isso. Isto é verificado de maneira especialmente notável no caso de São José, Pai Putativo de Nosso Senhor Jesus Cristo e Esposo de Maria…”.

O Pe. Garrigou-Lagrange afirma que a predestinação de São José é uma só coisa com o decreto da Encarnação; pois o decreto da Encarnação, que inclui a predestinação de Maria à maternidade divina, também inclui a de José como Pai Putativo e Protetor do Filho de Deus Encarnado.

Ele escreve:

“O fato de que a primeira predestinação de São José foi uma coisa com o decreto da Encarnação mostra quão elevada e única foi sua missão. É isto que as pessoas querem dizer quando dizem que São José foi feito e colocado no mundo para ser o Pai Adotivo do Verbo Encarnado e que Deus quis para ele um alto grau de glória e de graça para adequá-lo a sua tarefa”.

A missão de São José confina com a ordem hipostática

“A missão de São José é evidentemente superior à ordem da natureza ‒ mesmo de natureza angélical”, diz o Pe. Garrigou-Lagrange.

Será também superior à ordem da graça, na qual se encontra a missão de São João Batista, que preparou o caminho da salvação, e à dos apóstolos, no que diz respeito à santificação das almas?

Ele afirma que a missão de São José superou a ordem de graça:

“Ela confina, por seu termo, com a ordem hipostática, que é constituída pelo mistério da Encarnação. … A missão única de Maria, sua maternidade divina, tem seu termo na ordem hipostática. O mesmo ocorre também, em certo sentido, com a missão escondida  de São José. Este é o ensinamento de muitos santos e outros escritores”.

Que tipo de culto é devido a São José?

Dado o lugar supereminente que São José ocupa na história da salvação, deve-se perguntar se ele merece uma veneração especial, superior àquela dada aos outros santos.

A adoração devida a Deus é o culto supremo e absoluto, chamado pelos teólogos de culto de latria. Mas Deus quis fazer as criaturas participarem de Sua perfeição incomunicável; estas, quando brilham por suas virtudes em grau heróico, ou seja, os santos, e também os anjos, podem ser veneradas com um culto subordinado e relativo, chamado culto da dulia

Maria Santíssima, por ser a Mãe de Deus, e por ter alcançado um sublime e inimitável apogeu de virtude e perfeição, merece um culto especial, que os teólogos chamam de hiperdulia. [3]

O Pe. Garrigou-Lagrange comenta:

“A perfeição consiste em fazer a vontade de Deus, cada um de acordo com a sua vocação; a vocação de São José, de silêncio e obscuridade, superou a dos apóstolos, porque confinava mais proximamente com a Encarnação redentora. Depois de Maria, José estava mais próximo do Autor da graça, e no silêncio de Belém, durante o exílio no Egito, e na pequena casa de Nazaré ele recebeu mais graças do que qualquer outro santo”.[4] 

Consequentemente, São José merece um culto acima do culto dos outros santos, inferior apenas, na ordem de meras criaturas, ao de sua Bem-aventurada Esposa.

Por causa de sua predestinação especial e relação única com Jesus e Maria, além de uma santidade eminente, muitos teólogos modernos designam o culto especial de São José como protodulia (ou seja, o primeiro entre os de dulia, devido aos anjos e santos). [5]

A Assunção de São José

Tal é a grandeza de São José, que os teólogos levantaram a hipótese da Assunção do Santo Patriarca. [6]

  

Esta hipótese teológica é estudada por Monsenhor Arthur Burton Calkins, eminente teólogo americano. Ele cita o Padre Francis L. Filas, S.J:

“Independentemente de qualquer referência na Escritura, a doutrina da ressurreição de São José e a assunção ao céu de seu corpo glorificado  poderia ser proposta por razões de aptidão. Normalmente, porém, ela tem sido baseada nas palavras de São Mateus: “Os sepulcros se abriram e os corpos de muitos justos ressuscitaram. Saindo de suas sepulturas, entraram na Cidade Santa depois da ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas.” (27, 52-53). … Desde o tempo dos Padres da Igreja, a opinião predominante tem sido que estas almas foram reunidas aos seus corpos para nunca mais morrer; e que quando Cristo ascendeu ao céu, eles entraram no céu com Ele, de corpo e alma, por toda a eternidade. Portanto, sua ressurreição não seria um mero retorno à vida terrena, mas uma revivificação e glorificação de seus corpos, como acontecerá no último dia para o resto dos justos. Se esta interpretação estiver correta, é lógico assumir (como fizeram numerosos autores) que São José recebeu a glorificação de seu corpo no momento da ressurreição de Cristo. Mais do que ninguém, ele mereceria o privilégio”.[7]

Mons. Calkins deixa a última palavra ao Padre Bonifacio Llamera, O.P. (1913-1959), “um dos mais notáveis dos Josefólogos dominicanos espanhóis do século XX”:

“Parece razoável que a Sagrada Família ‒ Jesus, Maria e José ‒ predestinada a iniciar a nova vida divina da raça humana, também deveria iniciar a vida gloriosa da ressurreição. É verdade que Jesus e Maria são de longe superiores a São José, mas esta superioridade não impediu que o Santo pertencesse à Sagrada Família, ocupando mesmo o lugar de esposo e pai. Parece muito improvável, portanto, que tendo Jesus ressuscitado, seu pai providencial não devesse também ressuscitar com Ele, ou que Maria ressuscite sem seu digníssimo Esposo.  Podemos, portanto, acreditar que São José, nosso amantíssimo Patriarca, triunfou e goza com todos os santos, de forma absoluta, a vida da alma, assim como a vida do corpo, em eterna companhia de Jesus e Maria”.[8]

Padroeiro da Igreja

Tendo protegido o Filho de Deus em sua vida terrena, ele continua a zelar pelo Corpo Místico de Cristo, a Santa Igreja.

Por essa razão, em 8 de dezembro de 1870, o Papa Pio IX declarou o glorioso Patriarca Patrono da Igreja Católica:

“E agora, nestes tempos tristíssimos em que a Igreja, atacada de todos os lados pelos inimigos, é de tal maneira oprimida pelos mais graves males, a tal ponto que homens ímpios pensam ter finalmente as portas do Inferno prevalecido sobre ela, é que os Veneráveis e Excelentíssimos Bispos de todo o mundo católico dirigiram ao Sumo Pontífice as suas súplicas e as dos fiéis por eles guiados, solicitando que se dignasse constituir São José como Patrono da Igreja Católica. Tendo depois no Sacro Concílio Ecumênico do Vaticano insistentemente renovado as suas solicitações e desejos, o Santíssimo Senhor Nosso Papa Pio IX, consternado pela recentíssima e funesta situação das coisas, para confiar a si mesmo e os fiéis ao potentíssimo patrocínio do Santo Patriarca José, quis satisfazer os desejos dos Excelentíssimos Bispos e solenemente declarou-o Patrono da Igreja Católica.[9]

O mesmo Pontífice, explicando as razões que o levaram a tomar esta decisão, enfatiza antes de tudo a escolha que Deus fez de José, a quem Ele confiou o que lhe era mais precioso; em seguida, assinala que a Igreja ao longo de sua história honrou São José junto com Maria Santíssima, e que a Igreja, em circunstâncias difíceis, sempre recorreu à sua proteção sendo atendida.

Da mesma forma, diz o Papa Leão XIII:

“Como a Virgem santíssima é genitora de Jesus Cristo, assim também é mãe de todos os cristãos, que engendrou no Calvário em meio aos infinitos sofrimentos do Redentor, do mesmo modo, Jesus Cristo é como que o primogênito dos cristãos, que, pela adoção e pela redenção, lhe são irmãos. Destas realidades nasce a razão por que o beatíssimo Patriarca sente que lhe está de modo peculiar  confiada a multidão dos cristãos que constituem a Igreja, a saber, a inúmera  família espalhada por toda a terra, sobre a qual, como esposo de Maria e pai de

Jesus Cristo, exerce uma autoridade como que paternal. É, portanto, consentâneo e plenamente de acordo com a dignidade do bem-aventurado José que, assim como em outro tempo costumava proteger conscienciosamente a família de Nazaré com tudo que fosse preciso, agora com seu patrocínio celeste proteja e defenda a Igreja de Cristo”.[10]

São José, protetor celestial contra o socialismo

Sendo o Patrono celestial da Igreja, São José tem que nos proteger das ameaças de um dos maiores inimigos da Igreja em nosso tempo, sobre o qual a própria Virgem nos advertiu em Fátima: o comunismo, a expressão mais extrema do socialismo.

É por isso que os Papas propuseram São José como patrono especial dos católicos na luta contra o socialismo e o comunismo.

De fato, em 25 de julho de 1920, no 50º aniversário da proclamação de São José como Patrono da Igreja Universal, o Papa Bento XV publicou o Motu Proprio Bonum Sane.

Neste documento, após descrever os avanços da imoralidade e da propaganda socialista, o Papa propõe São José como o Protetor celestial contra o contágio do socialismo:

“Assim, vemos com verdadeira dor que agora os costumes públicos são muito mais depravados e corruptos do que antes, e que, portanto, a chamada ‘questão social’ foi agravada a tal ponto que engendra a ameaça de ruínas irreparáveis. Com efeito, amadureceu nos desejos e nas expectativas dos mais sediciosos a chegada de uma certa república universal, fundada na absoluta igualdade dos homens e na comunhão dos bens, e na qual já não há distinção de nacionalidade; a autoridade do pai sobre os filhos não é reconhecida, nem do poder público sobre os cidadãos, nem de Deus sobre os homens reunidos na sociedade civil. […]

“Preocupados mais do que tudo com o curso desses eventos, não negligenciamos, quando surgiu a oportunidade, lembrar aos filhos da Igreja os seus deveres, como fizemos recentemente com a carta dirigida ao Bispo de Bérgamo e aos Bispos da região Vêneta. E agora pela mesma razão, isto é, para lembrar aos homens … que ganham o pão com o trabalho, para os manter imunes ao contágio do socialismo, o inimigo acérrimo dos princípios cristãos, Nós com grande solicitude lhes propomos de maneira especial São José, para que o sigam como seu guia especial e o honrem como seu Patrono celestial”.[11]

Da mesma forma, em sua encíclica Divini Redemptoris, de 1937, o Papa Pio XI, sucessor de Bento XV, colocou a ação da Igreja contra o comunismo, a forma mais radical do socialismo, sob a proteção de São José:

“E, para apressar a “Paz de Cristo no Reino de Cristo”, por todos tão desejada, pomos a grande ação da Igreja Católica contra o comunismo ateu mundial sob a égide do poderoso Protetor da Igreja, São José”.[12]

Assim, invoquemos São José, Patrono da Igreja Universal e Protetor na luta contra o socialismo e o comunismo.

São José e as Aparições em Fátima

Finalmente, é digno de nota que São José esteve presente em Fátima, durante a aparição em 13 de outubro de 1917, quando ocorreu o milagre da dança do sol. Escreve Lúcia:

“Apareceram, ao lado do sol, São José com o Menino Jesus, e Nossa Senhora do Rosário. Era a Sagrada Família. A Virgem estava vestida de branco, com um manto azul. São José também se vestia de branco e o Menino Jesus de vermelho claro. São José abençoou a multidão, traçando três vezes o sinal da Cruz. O Menino Jesus fez o mesmo.”[13]

Será isto uma indicação de que o glorioso Patriarca terá alguma participação nos eventos previstos pela Virgem em Fátima, entre eles a derrota final do comunismo e o triunfo de seu Imaculado Coração?


[1] Reginald Garrigou-Lagrange, O.P. The Mother of The Saviour and Our Interior Life. CHAPTER VII: “The Predestination of St. Joseph and His Eminent Sanctity.” https://archive.org/stream/Garrigou-LagrangeEnglish/Mother%20of%20The%20Savior%20and%20Our%20Interior%20Life%20-%20Garrigou-Lagrange%2C%20Reginald%2C%20O.P__djvu.txt

3/13/2021 11:54 AM

[2] Leão XIII, Encíclica Quamquam pluries, 15 ago. 1889. (Denzinger-Hünermann: 3260-3263).

[3] A. Chollet, « Culte en général », in Dictionnaire de Théologie Catholique, t. II, col. 2407.

[4] Fr. Garrigou-Lagrange, loc. cit.

[5] Bonifacio Llamera, O.P., Teología de San José, BAC, Madrid, 1953, pp. 330-338.

[6] See The Cultus of the Heart of St. Joseph: An Inquiry into the Status Quæstionis By Msgr. Arthur Burton Calkins. At https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwj_5ojm6rXvAhVaMlkFHbydCa0QFjAAegQIAhAD&url=https%3A%2F%2Fmariancatechist.com%2Ffiles%2Fdocuments%2FHeartOfStJoseph2014November.pdf&usg=AOvVaw3stoWIvqwe3Ea9mKMzdjPt

3/16/2021 6:22 PM

[7] Msgr. Calkins, op. cit.

[8] Boniface Llamera, O.P., Saint Josephtrans. by Sister Mary Elizabeth, O.P. (St. Louis: B. Herder Book Co., 1962) 272. Apud Msgr. Calkins, loc. cit.

[9] Quemadmodum Deus. Decreto de S.S. o Papa Pio IX Proclamando São José como Patrono da Igreja. http://josedenazare.blogspot.com.br/2010/12/quemadmodum-deus-serie-documentos.html

[10] Leão XIII, Encíclica Quamquam pluries, 15 ago. 1889 (Denzinger: 3260-3263).

[11] Motu Proprio di Sua Santita Benedetto XV Bonum Sane: La Devozione a San Giuseppe, da Mezzo Secolo Patrono della Chiesa Cattolica. http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xv/motu_proprio/documents/hf_ben-xv_motu-proprio_19200725_bonum-sane_it.html. 2/19/2020 10:28 AM

[12] Carta Encíclica Divini Redemptoris de Sua Santidade Pio XI Sobre o Comunismo Ateu. http://w2.vatican.va/content/pius-xi/pt/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19370319_divini-redemptoris.html

[13] A. A. Borelli Machado, Simples relato do que se passou em Fátima quando Nossa Senhora apareceu. Catolicismo n° 197, maio de 1967.

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